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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Coronel X Prefeito.


No início do mês de setembro de 1967, era eu Cabo do Exército que já havia completado um ano na graduação e como se diz no Exército já era um Cabo Velho.

Tão logo fora promovido fui de imediato chamado a prestar meus serviços na Primeira Seção, ou S/1, também conhecida como Casa da Ordem, como “datilógrafo” do Boletim, perto do Gabinete do Coronel Comandante, no 1º andar do Prédio de Comando.

Essa Seção, chefiada na época por um Capitão, hoje General da Reserva, corresponde na iniciativa privada ao Departamento de Pessoal. Nessa Seção é editado o Boletim Interno, informativo diário de todas as alterações e serviços transcorridos ou a transcorrer, como escalas de serviços Regimentais, transferências, promoções, punições, apresentações de Oficiais e Praças e outras atividades. Na época essa Unidade do Exército era um Regimento, com dois Batalhões e dez Companhias. Duas Companhias de Fuzileiros, uma de Comando e outra de Petrechos pesados, com metralhadoras e morteiros, em cada batalhão e duas Regimentais, a de Comando e Serviços (CCSv) e a de Canhões (CCAC). Porém com a reorganização do Exército, esse histórico Regimento passou a ser apenas um Batalhão, o 9º BIM.


Nesse dia fora eu chamado pelo Comandante do Regimento, o Coronel Antônio da Fonseca Sobrinho, duro e enérgico Comandante a quem eu caíra em suas, graças, para que em um canto de seu gabinete, usando uma mesa auxiliar fizesse uma série de mapas por onde a tropa se deslocaria para a Parada de Sete de Setembro, Dia da Independência do Brasil.

O sempre lembrado Cabo Darci Bruno, falecido ainda jovem quando, na vida civil trabalhava na Caixa Econômica Federal, educado e competente, que também trabalhava nessa Seção, foi escalado imediatamente para executar o serviço que a mim competia, enquanto estivesse junto ao Comandante em outra tarefa.

Gozava eu de excelente conceito junto a esse Comandante e junto a Oficialidade.

Enquanto desenhava o Coronel Comandante, mandou chamar os dois Majores que na época comandavam cada Batalhão, lembrando que essa função competia a Tenentes Coronéis, porém na falta desses, Majores assumiam a função. Além desses foram chamados os Chefes das quatro Seções, inclusive o meu chefe imediato, o S/1. Lembrando que cada Seção deveria ser chefiada também por Tenentes Coronéis, e que também na falta desses, Majores assumiam tal função, ou, em casos excepcionais capitães as chefiavam.

Estavam então presentes o Ten. Cel. S/4, Antônio Machado dos Santos, três Majores e dois Capitães.

Discutiam sobre o desfile do dia 7, quando em meio à conversa, o telefone sobre a mesa do Coronel Comandante tocou.

O próprio comandante atendeu a ligação, todos os Oficiais fizeram silêncio e eu em meu canto enquanto desenhava a tudo ouvia e observava.


Era o Prefeito de Pelotas, na época o Sr. Edmar Fetter que havia ligado para o Regimento, para acertarem sobre o desfile, quando num repente os ânimos se acirraram, e o Coronel no seu habitual jeito de falar forte, alto e bravo disse em tom áspero:

- Prefeito, que o Senhor esteja aqui em meu gabinete às 13 horas, ou mandarei uma patrulha lhe buscar.

Desligando bruscamente o telefone.

Bravo ficou, a tal ponto que o Capitão S/2, Laur Teixeira de Menezes, ao dizer no decorrer da conversa:

- Mas Coronel, eu acho...

Tenha sido interrompido pelo mesmo Coronel, que em um grito esbravejou.

- Capitão! Aqui só quem acha sou eu!

Silêncio total.

Após alguns minutos os Oficiais foram dispensados e eu continuei em meu silencioso trabalho de desenhista sob os olhares do referido Coronel.


Após o almoço, estava antes das 13 horas na 1ª Seção e vi que o então Terceiro Sargento Ariano de Paiva Rodeghiero olhando pela janela que dava para frente do Quartel, falou alguma coisa com o também, na época, Terceiro Sargento Raul Rocha, ambos excelentes sargentos, quando este levantou e foi até ela.

Neste momento fui até a referida janela aonde se acotovelavam também os Cabos Roberto Morais, Darci Bruno e Claudio Roberto Ribeiro e lá de cima pude observar o carro preto da Prefeitura estacionado em frente ao Regimento e o então Prefeito de Pelotas, em um belo traje azul marinho sendo acompanhado pelo Sargento Comandante da Guarda até a presença do Oficial-de-Dia que o levou ao Gabinete do Coronel Comandante e os dois, a portas fechadas conversaram por um bom tempo.

O que houve lá dentro ninguém ficou sabendo, só assistimos o Prefeito sair quietinho do Regimento sem olhar para trás.

E assim funcionava a Ditadura, e ninguém podia reclamar. Nem mesmo um Prefeito. Mesmo sendo os que menos têm a reclamar, pois hoje nos 5.570 municípios que formam o País, a esmagadora maioria não passaria na peneira da honestidade, nem tampouco esses vereadores cuja quase totalidade também não passa na peneira, pois são corruptos, inúteis, pois nada é mais inútil que essa cachorrada, pois conseguem ser mais inúteis que dente siso.

Anos duros, anos de chumbo que, apesar do desenvolvimento ocorrido, atrasou politicamente o povo e hoje temos ainda muitos que sem terem conhecimento pensam que a Ditadura foi boa.

Ledo engano, pois não existem ditaduras boas.

 

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