Pedalando
Em 1957 chegou a cidade de
Pelotas um colombiano chamado Celimo Montez Zuloaga que se propunha a passar
mais de 100 horas pedalando sua bicicleta pela Praça Coronel Pedro Osório, sem
parar dia e noite.
Os comentários correram pela
cidade como fogo em pólvora, e o povo acorreu à praça para ver o feito inédito
e para a época uma incrível façanha.
Eu era um menino e fui ver
tal ciclista pedalando e pedalando dia e noite.
Naquele mesmo ano, em
fevereiro surgiu no norte da China uma terrível gripe que em meses
transformou-se em uma pandemia, que logo alcançou as Américas. Tal gripe passou a ser chamada de Gripe Asiática.
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De 20 a 80% da população,
conforme a área foi afetada, e muitas vítimas deixava a gripe em sua esteira.
Entretanto, devido a estar
no meio do público, acabei pegando um resfriado, que no segundo dia
transformou-se em forte gripe e altíssima febre.
Na verdade havia pego a
tal gripe, o que me levou para a cama de onde só saia para ir ao banheiro.
Dias difíceis, com febre e
dores pelo corpo.
Na noite em que o ciclista
faria o encerramento de sua extraordinária façanha, meus pais e minhas duas
irmãs foram até a referida e histórica praça, onde se acotovelava o povo da
cidade em aplausos, aonde muitos, bestificados, corriam simplórios ao lado da
bicicleta de Zuloaga.
.
Segundo relato de minha irmã
Ieda de Lourdes, Zuloaga era acompanhado de sua esposa de nome Maria de
Lourdes, que à noite cantava e brincava para que ele não dormisse.
Enquanto isso, em casa tive
a mais séria crise, com altíssima febre, onde meu irmão Joaquim Luís, também um
menino tentava fazer alguma coisa para acudir-me.
A febre foi tão alta que eu
variava. Como se diz, viajava em delírios.
Meus pais jamais imaginariam
que tal coisa pudesse acontecer.
Não sei como resisti.
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Sou um sobrevivente.
E carrego estas duas coisas
na lembrança e hei de carregá-las para sempre, ou seja a difícil façanha de Zuloaga em
pedalar por uma semana sem parar dia e noite e para mim a mais difícil etapa de minha infância, a minha façanha
de aos onze anos ter sobrevivido àquela gripe que ceifou tantas vidas.
Caro Professor! Lembro bem do Zuloaga ou Zuluaga, como queiram. Tive um colega, que muitos conheceram, cujo nome era Clóvis Bohns (Covinha), já falecido, que jogou futebol de salão no G.E.Brasil, e foi meu companheiro no futebol de campo no juvenil do E.C. Pelotas, em 1960. Como gostava de dar "bicicletas", apelidaram-no de Zuluaga, que era como os mais chegados o chamavam. É hilário mas é verdadeiro. Um abraço. Carlos Silveira.
ResponderExcluirOlá, caro senhor Carlos.
ResponderExcluirEu tenho na lembrança fatos incríveis que guardo irretocáveis e claros, como por exemplo essa façanha de Celimo Zuloaga, conhecido por Zuluaga. E é assim que vão surgindo os apelidos, correlacionados com outras pessoas e fatos. No Exército, onde servi vários anos no então 9º RI, a soldadesca tinha um habilidade incrível de associar apelidos, como o Reizinho, o Procopinho, Cachorrão e tantos outros devido a parecença com os personagens. Reizinho, das histórias em quadrinhos, Procopinho, assim apelidaram um aspirante por achar o mesmo parecido com o Boneco das Casas Procópio, chamado Procopinho. Cabos, Sargentos e Oficiais não eram poupados. Isto tudo mostra esta capacidade inventiva do povo brasileiro, pena que as coisas más etão superando o que de bom tem o povo a oferecer.
Caríssimo senhor Carlos Silveira, vou lhe confessar, o G. E, Brasil foi o meu único time de futebol. Porém quando saí de Pelotas, deixei até de ser fã deste esporte e no ano 60, em janeiro meu pai foi transferido para o Arsenal de Guerra em General Câmara onde ficamos três anos, por esse motivo não cheguei a conhecer o Zuluaga jogador.Lembro-me, coisa que jamais esquecerei eram as escalações do Brasil, do Pelotas e do Farroupilha dos anos 58/59. E das histórias hilárias e marcantes que pretendo escrever a respeito.
Agradeço a participação.
Um grande e fraterno abraço.
Prof. Pedro.
Lembro bem dos apelidos daquele tempo. Existia, na minha época de 9º RI, um pretinho magro, natural de São Lourenço do Sul, cujo apelido era "vampiro", em virtude de ter os dentes superiores saltados para fora. Vivia sempre em "cana", pelas
ResponderExcluirincontáveis vezes que teria "matado" sua mãe. Lembro, também,
do sargento Schmitão que, certa vez, com o pelotão do curso de cabos em forma, todos perfilados, lascou: "Quem ainda não recebeu as suas "andarolas", é só procurar na sargenteação, após o fora de forma". E não é que alguns foram procurá-las! Quem conviveu num universo heterogêneo de mais de 1.000 recrutas e superiores,na época, posso afirmar com convicção: "O quartel é a melhor escola da vida". Aproveitando o gancho, tenho algumas histórias hilárias, marcantes e até pitorescas, recheadas de realismo que marcaram o cotidiano desta cidade e da zona sul.Um grande abraço! Carlos Silveira.
Olá Carlos Silveira.
ResponderExcluirFico contente com tua visita e comentário. Fique sempre a vontade para usar deste blogue, comentar ou criticar.
O maior prêmio de quem tem um blogue são os comentários, pois alguma coisa de útil ele tem, o relembrar do passado, coisas boas e até ruins, mas o interessante são os fatos narrados.
Conheci o Sargento Schmit, o Schmitão, serviu muitos anos com meu pai e algum tempo comigo. Também soube deste soldado que alegava ter pedido a mãe para tirar a dispensa chamada "nojo". Certa feita publiquei no Boletim a dispensa nojo de um soldado finalizando dizendo que "por ter falecido naquela data sua genetriz" - sinônimo de genitora (mãe), um tenente de nome Câmara ostensivamente foi ao S/1 para me criticar sobre o, para ele erro, quando o Capitão Ajudante de Ordens, interrompeu o tenente e mandou que ele fosse ler um dicionário, pois se eu havia escrito daquela maneira é por que estava correto. O Tenente saiu meio sem jeito do S/1.
Realmente o Exército é uma grande escola para a maioria, para outros é um castigo pois não se enquadram à disciplina, a horários e ao respeito.
Belíssimo final de ano.
Um Grande abraço.
Prof. Pedro.
Caro Professor! Eu era menino e nessa época (anos 1956 / 1958) o Zuloaga esteve em São Carlos (SP), por duas vezes, com sua bicicleta, pedalando na praça Santos Dumont, também durante 4 a 5 dias sem parar... Uma multidão de pessoas acorreu à praça para ver se ele iria mesmo conseguir esse feito, e muitas pessoas retornavam várias vezes ao local quando o dia amanhecia e até tarde da noite para comprovar se ainda estava pedalando... Na cidade toda o assunto era o Zuloaga e todos aguardavam anciosos o momento em que iria completar a prova. Ele fez muito sucesso, e também foi muito aplaudido e reverenciado quando completou a façanha, nas duas vezes que esteve em São Carlos.... Eu e meus amigos da época até hoje ainda nos lembramos desse acontecimento incrível e gostamos de rememorar como o povo brasileiro naquela época era simples, ficava maravilhado e se divertia e com esses tipos de espetáculos circences... Bons tempos !
ResponderExcluirOlá caríssimo Leandro Malvi.
ExcluirO feito de Celimo Zuloaga, foi para à época um feito extraordinário. É como bem dizes, naquela época o povo era muito simples, diria até muito simplório, pois qualquer acontecimento era motivo para que tudo parasse e o povo em uma alegria delirante queria acompanhar cada momento. Quase não havia opção para diversões e nossa população naquela época era em sua esmagadora maioria composta de analfabetos, que em tudo achavam graça. Hoje o mundo é outro e eu fico só a olhar os casai de namorados sentados à mesa de uma lanchonete e cada um fixo em seu celular sem se importarem com o que está acontecendo ao "rededor" e ficarem minutos sem trocarem uma só palavra. Mas tche, me tapo de nojo ao ver esta cena. Voltando ao Zuloaga, como disse acima duas coisas eu tive naquele meio fatídico ano, ver Zuloaga e quase morrer com a gripe asiática. Esta gripe foi horrível. Só como lembrança, uma determinada noite eu vi dois homens levantarem a roda de trás da bicicleta de Celimo, ele continuar a pedalar e dois outros aplicarem uma injeção intravenosa em seu braço esquerdo, o povo aplaudiu e ele seguiu pedalando noite a dentro.
Caríssimo paulista, fiquei honrado com sua visita e comentário, volte sempre.
Saúde e paz.
Um grande abraço cá da terra dos pampas.
ERRATA: Leia-se "Casais de namorados"
ExcluirOlá professor. Adorei o seu blog. Zuluaga se apresentou também em minha cidade de Ribeirão Preto SP nos anos 60. Abraços
ResponderExcluirOlá caríssimo/a leitor/a.
ResponderExcluirFico muito feliz ao receber seu bem-vindo comentário sabendo que és de uma cidade linda, Ribeirão Preto por onde, nos anos 70 passava em viagem para Bebedouro e Barretos.
Assistir Zuluaga para mim, um menino, foi uma coisa espetacular, pois nunca fui fã de bicicleta, mas ficava admirado com o desempenho dele.
Paulista! Foi um enorme prazer receber-te comentando em meu espaço e espero outros belos comentários. Um grande abraço e que a saúde e a alegria sejam sempre tuas companheiras.