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sábado, 5 de maio de 2012

Velhos Birrentos

                            Oscar Niemeyer, Arquiteto do Brasil e do Mundo.

              
No passado recente não havia tantas coisas, era uma vida simples de muito trabalho braçal, ócio e quase nenhum divertimento ou prazer, onde um lápis era para muitos uma novidade e uma simples caneta esferográfica era inimaginável.
              
Entramos céleres em um mundo novo, rápido, com sons, imagens e cores, e os velhos birrentos querem fazer parte deste admirável mundo das máquinas que se tornam velozes. Cada vez mais velozes.
              
Afinal de contas esses velhos birrentos foram quem inventaram e produziram as máquinas, cacarecos velhos que deram origem as novíssimas engenhocas mágicas.
              
Não conseguem muitas vezes esses velhos birrentos acompanhar essa velocidade, muitos até nem tentam, ficam relegados a um segundo plano, quando não ignorados, abandonados em seu mundo, isolados e muitas vezes esquecidos.
              
Outros, mais atilados, mesmo com dificuldades tentam fazer de seu mundo um mundo menos cinza, menos sombrio, menos dolorido, menos triste.
              
Vão-se as oportunidades, mas não acabam os sonhos.
              
Ficam melancólicos e muitas vezes sem perspectivas, mas continuam, não por eles, mas principalmente por aqueles que amam e que são as coisas mais importantes deste mundo. Deste mundo para eles meio sem cor, sem brilho, pois seus olhos já não enxergam tão bem, e na maioria das vezes precisam de cangalhas chamadas óculos que eles inventaram a centenas de anos, que mais mal fazia do que bem.
              
Muitas vezes sentem-se inúteis, e o que a muitos conforta e acalenta nas horas doídas é produzir qualquer coisa, é o trabalho, é o criar, é o fazer coisas, enquanto ainda têm forças e suas mentes ainda funcionam, mesmo com lerdeza. Mas fazem, pois não querem ser inúteis.
               
Poucos, entretanto tem ainda essa capacidade. Querem fazer as coisas, mas suas forças impedem, sua cabeça emperra. Porém esses velhos birrentos continuam a tentar em fazer algo novo, diferente, criar, pesquisar na tentativa de estender suas jornadas cansativas, pois as suas presenças, acham infantilmente esses velhos birrentos, farão falta.
               
Velhos, birrentos que teimam em viver no mundo rápido dos jovens. Jovens que um dia se tiverem sorte serão velhos, se tiverem sorte de envelhecer a cada dia, e que farão tudo que os velhos birrentos fazem e quererão fazer mais, pois este mundo acelerado não compactua com o marasmo.
                
Mas não esqueçam os jovens que eles é que estão ficando velhos, pois os velhos já são velhos.
                
Velhos teimosos, que acham que sabem tudo.
                
Não sabem nada, mas os jovens sabem menos ainda.
                
Não sabem nada, mas são os sábios do nosso mundo.
                
Não sabem nada, mas jamais vi um jovenzinho ganhar um prêmio Nobel.
                
Não sabem nada, mas são os que dirigem as empresas, os estados e os países.
                
Não sabem nada, mas são os que têm a sapiência de ajudar os mais novos, a saber, mais e mais.
                
Velhos birrentos, que são os provedores, são os sábios, são os experientes e acima de tudo chegaram aonde chegaram e não morreram jovens como a maioria.
                
Velhos que passaram a vida em detrimento dos jovens, dos mesmos jovens que não têm mais paciência, pois o mundo é rápido demais e os jovens têm pressa e outras metas, outras coisas mais importantes a fazer, pois seus interesses são outros.
                
Entretanto esses velhos birrentos são os que mais produzem, são os que mandam, são os que julgam e decidem na maioria dos casos, são os que menos se envolvem em acidentes de transito e ai sempre aparece um jovenzinho inexperiente, que sequer tem habilitação para dizer que “é velho e não sabe dirigir”.   Ledo engano dos que pensam que sabem, dos que tem a petulância de achar que correr e saber.
                
O saber é lento.
                
O saber é antigo, portanto o saber é velho.
                
E cada vez mais o mundo se torna um mundo de velhos, velhos birrentos, velhos sábios, velhos experientes.
               
Velhos que tem fortunas incalculáveis e que pagam salários para os jovens.
                
Feliz é aquele que chega a velhice, mesmo que esta seja amargurada, triste e sombria, pois já passaram por todas as etapas, coisa que a maioria dos jovens jamais experimentará.
                
Velhos birrentos que choram quando vêem um jovem morrer, que ririam a ver um velho birrento morrer.
                
Velhos birrentos que dariam sua vida por um jovem.
                
Velhos guerreiros e birrentos.
                
Velhos sábios.
                
Velhos sabiamente birrentos.

                                   Thomas Alva Edson, Luz e Som

 

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