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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Ora! Quem esse Negro Pensa que é?




Negro metido, vesgo e petulante que pensa que é alguma coisa.

Negro que assusta os bonitinhos que andam pelo centro de Porto Alegre.

Sempre fumando e bebendo pelos bares do Mercado ou no Chalé da Praça.

Negro arrogante e cheio de ódio.

Que coisa pode ser esse negro?

Negro é negro e ponto.

Migué.

Negro Migué.

Mas que de Migué não tinha nada.

Que Negro é esse que onde chegava resplandecia mais que o Sol, fosse até mesmo na Assembleia Legislativa, onde muitos deputados com ele aprenderam muitas coisas.

Negro cheio de percepções, lógicas e ideológicas.

Negro Miguel.

Miguel Marques, que se não bem pronunciado poder-se-ia confundir com Marx. O que muita diferença não faria, pois era também um verdadeiro revolucionário, cheio de esperança, cheio de anseios e vontades, pois queria a revolução para ontem.

Negro Miguel, como ele ninguém foi. Astuto como um lince, inteligente e genial. Tamanha genialidade que muitos achavam ser loucura.

Tão genial que incorporava o próprio Pardidão, a tal ponto que dentro do PCB surgiu sua alcunha e que todos conheciam como o KGB. Pois foi o mais fiel escudeiro do Partido Comunista Brasileiro e do movimento socialista.

O homem Negro botava qualquer doutor no bolso. Crítico contumaz desta burguesia lacaia que ainda anda por aí transpirando ódio ao proletariado. Burguesia mestiça, tão mestiça quanto o povo, mas que se acha européia.

Esse negro, nascido em 1929 em Encruzilhada do Sul, no meu Estado do Rio Grande do Sul, desde cedo se engajou nos movimentos sociais e o vivia a cada instante e não como é hoje a maioria de nossa juventude, perdida nas drogas e na frivolidade. No modismo e na pasmaceira. Uma juventude vazia que quase nada sabe. Uma juventude sem sonhos, sem objetivos e sem visão de sociedade.

Essa gurizada de hoje, vazia e sem objetivos, que vive aí pelas ruas, pelas escolas e faculdades não sabe ao menos quem foi esse Negro chamado de KGB, pois se soubessem e conhecesse esse Negro curvar-se-ia diante de sua genialidade, genialidade do querer, do fazer, de ser reconhecido não como terrorista, mas sim como um verdadeiro e puro revolucionário.

Mas hoje o que vemos é uma juventude alienada, mesma juventude que o Negro KGB tanto se preocupava e tanto por ela apanhou de uma também alienada polícia a serviço desta burguesia hipócrita e vazia.

E sempre dizia o Negro KGB:

“A burguesia faz todo esforço possível para nos convencer que ela tem o direito eterno e imutável de nos explorar. A religião, a filosofia, o matriarcado, a pátria, a família, a ciência, a arte e a literatura; enfim. A burguesia usa para nos levar a crer que ela tem este direito, o tempo todo e a vida toda”.

Sua vida foi sempre uma verdadeira encruzilhada. Ou muitas encruzilhadas onde ele vivia no fio da navalha. Pois muito jovem ainda começou a participar do movimento comunista em sua cidade natal. Odiado e perseguido, mas muito amado e admirado pelos que queriam transformações.

Transformações sonhadas pelo Negro KGB.

Quando chegou o malfadado ano de 1964 estava em Porto Alegre, onde foi perseguido e preso pelo DOPS, e muitas vezes torturado. Torpes torturas, pau-de-arara, fome e sede.

Mas o negro não amoleceu e continuava sempre na sua habitual provocação aos capachos da ditadura, mesmo preso, e não tinha medo de enfrentar quem quer que fosse.

Negro Miguel, o KGB, que tive o máximo prazer em conhecê-lo, conviver e aprender. Homem com um carisma sem igual, carisma impregnado do querer fazer, do querer aprender e do querer ensinar.

Numa quinta-feira, com a guaiaca meio vazia, encontrei Miguel no Largo Glênio Peres e ele sempre sério ao me ver, após me cumprimentar disse com sua voz grossa e pausada:

“Camarada! “Me dá” uns pilas para eu comer e beber alguma coisa”.

Prontamente socializei o que tinha e ele se foi em seu passo lento em direção ao Mercado Público, comer e beber e eu fiquei por um instante admirando aquela figura ímpar em seu passo lento, talvez sonhando com um mundo novo, um mundo de justiça, esperança e beleza. Um mundo de paz e prosperidade onde não houvesse exploração, onde não houvesse miséria, onde não houvesse tanta injustiça.

Negro, leitor contumaz, autodidata, professor, mestre e doutor na sua arte, a arte de discutir a sociedade, que jamais baixou a guarda e se quer baixou a crista.

Numa das encruzilhadas da vida morreu, atropelado em Curitiba, mas deixou seu legado, seu espírito de luta, de crítica contumaz ao imperialismo, de amor a classe proletária e de grande capacidade de assimilar o novo, de aprender e admirar o belo de ver as coisas pelo viés ideológico tão puro quanto ele próprio.

Que saudades do meu camarada, amigo e irmão KGB, um homem bom e sonhador.

                              O exemplar KGB - O ódio me alimenta.

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