Nos anos 50, os adultos que
haviam passado da idade escolar buscavam uma nova alternativa para completar, ou
mesmo iniciar seus estudos, já que grande percentual de nossa população, coisa
que passava de 80% era composta de semi-analfabetos ou analfabetos. Para tal,
muitas eram as escolas que propiciavam um estudo em menor tempo principalmente
para quem trabalhasse e necessitasse aprender em curto prazo. Meu próprio pai, na
época Segundo Sargento do Exército, necessitando de mais conhecimento dentro de
sua profissão buscava mais conhecimento nas aulas ministradas no Colégio Salles
Goulart, na cidade de Pelotas. (Já vi grafado Salis Goulart). A esta modalidade
dava-se o nome de “Artigo 91” ou “Artigo 99”. Careço de fontes, mas
provavelmente seria 91.
Já em 1960 um professor paranaense iniciou em Londrina um curso que visava dar aos adolescentes e adultos uma alternativa para concluir o ensino regular em menor tempo, implantando um curso rápido para capacitar esses indivíduos para os exames e provas, já que o tal “Artigo” acima citado não mais respondia as expectativas.
Em 1961 foi introduzido no país o chamado curso Madureza, que se propunha a educar jovens de 16 a 19 anos com base na LDB, daquele ano e exigia um prazo de dois a três anos para sua conclusão e foi abolido pelo Decreto lei 709/69, já que não conseguia manter os educandos em sala de aula, pois a esses só interessavam as provas ou exames. O Ministério da Educação através da TV Cultura e da Fundação Padre Anchieta produzia aulas para a TV na tentativa de atender um maior número de indivíduos que necessitava de mais conhecimento, pois ainda o Brasil era um país muito atrasado e a maioria das pessoas não tinha acesso à escola. Era um país de esqueléticos, nanicos e analfabetos.
Em 15 de novembro de 1967, pela Lei nº 5.379, foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando a conduzir a aquisição técnica de leitura, escrita e cálculo. Tal movimento foi inviabilizado pela recessão dos anos oitenta.
Ainda nos anos 70 começamos a ter uma melhoria não só física como intelectual, tímida, diga-se de passagem, mas que deu início a uma virada de página no curso da história do Brasil. Nesse ano conseguimos o tri-campeonato mundial de futebol, levantando a moral do nosso povo, e ampliaram-se as fronteiras agropecuárias com a expansão dessas pelo Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, desmembrado do Mato Grosso em 1976 e Rondônia e a indústria fortalecia-se. Neste período vai surgir do dito e falido milagre econômico do regime militar e vai ser implantado o Projeto Minerva, elaborado pelo governo federal, e criado pelo Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação e Cultura, que era transmitido pelas rádios obrigatoriamente com o fim de educar pessoas adultas e de longínquos rincões o que resultou em mais um fracasso, sendo sua atuação considerada anacrônica.
No ano de 1996, numa nova
tentativa de levar o ensino àquelas pessoas que não haviam completado em tempo
hábil o ensino fundamental e médio, resgatando os ideais do educador Paulo
Freire, surge mais uma versão, agora melhorada de tudo que já havia sido tentado.
Essa nova versão foi a Educação de Jovens e Adultos, ou simplesmente “EJA”.
Uma década de muito trabalho para formar turmas realmente capazes, onde professores abnegados, muitos dos quais sonhadores vislumbravam um novo Brasil, onde a educação e a cultura fossem os alicerces desta nova Nação que se almejava.
Eu, como professor da EJA, vi num primeiro momento que, com esforço, dignidade e persistência teríamos uma nova sociedade, onde esses, ditos por muitos - “excluídos”, (o que eu não concordo), - tivessem o seu lugar ao sol.
(Neste caso escrevo sol com
letra minúscula porque estou me referindo a luz pelo Sol emanada, já que quando
nos referimos a estrela Sol, devemos então escrever com letra maiúscula, pois é
seu nome próprio).
Entretanto vejo hoje a EJA dentro de outra perspectiva. Uma perspectiva sombria, discordando frontalmente com muitos educadores, pois neste último lustro o que presenciamos está bem longe do esperado.
O que era para ser Educação de Jovens e Adultos foi se tornando na verdade em um “EPAP”, “Educação Para Alunos Problemas”, aonde, em muitas, não em todas as escolas, os aluninhos problemáticos, ao completarem seus 15 anos, crianças ainda e irresponsáveis dos turnos manhã ou tarde são simplesmente mandados para a EJA, e danem-se os professores desta modalidade.
Nos casos mais extremos poderíamos dizer que a EJA, em muitas escolas, está sendo transformada em um “DAD” Depósito de Alunos Delinquentes. Pois o que vemos nesse meio é a falta de educação, a agressão, o tráfico, onde muitos professores desiludidos pedem exoneração de seus cargos, pedem transferências ou caem em profundo estado de apatia e depressão. Obviamente temos neste meio muitíssimos professores que ainda acreditam e trabalham muito nesse sentido, mas os resultados ficam aquém das expectativas.
Meninos que nada fazem, pois não trabalham, vivem pelas ruas, pelas esquinas o dia inteiro, pois não querem ficar com os de idade inferior e de menor tamanho. Alunos muitas vezes obrigados pela justiça a comparecer a escola. Mas estão ali apenas de corpo presente. Pois não querem nada com nada. Seu aproveitamento é ridículo ou nulo.
E nesta distorção da educação vemos que muitos são os profissionais, cansados desses alunos, pois os mesmo não querem estudar, não aceitam novas propostas, e atrapalham as aulas com brincadeiras e posturas não condizentes, e que para se livrarem dos mesmos vão avançando o dito cujo, assim em pouco tempo estarão livres desses alunos problemas. Se o triste era o analfabetismo puro e simples, transformou-se agora no analfabetismo com certificado, diplomando-se analfabetos funcionais. Premiando assim os péssimos alunos.
Logicamente aparecerá uma
série de doutores, de sonhadores e de idealistas para dizerem que não é bem
assim. E o que é pior, aparecerá uma série de “ninguéns” na educação para achar
que está tudo bem resolvido e que se deve fazer isto ou aquilo, pois ser
professor é um sacerdócio, e coisa e tal. Só que sacerdócio só faz dinheiro em
igreja. Esquecem esses espertos que professor tem família, contas, prestações e
tudo mais que um ser normal tem, mas na hora dos ganhos são os mais
injustiçados.
Ou se transforma a EJA,
voltando às bases para as quais foi criado ou rumaremos para a falência desta, como
faliram as outras alternativas, pois fazer a EJA um depósito de moleques em
meio a gente trabalhadora que precisa mesmo estudar é brincar com a educação e
fazer de conta que se está ensinando. E o que é pior, desestimula o adulto ou
jovem que trabalha e precisa estudar, que são realmente interessados e muitos
não aguentando desistem de estudar, por conta dos “COITADINHOS” sem limites e
sem educação.
Aliás, escrevi neste blog
uma matéria com o título de “Brasil, País de Coitadinhos”, pois é assim que um
bando de irresponsáveis é tratado. E o pior é que estão misturados com alunos
bons e dedicados, que compõem a maioria da clientela da EJA, que aceitam
desafios, que buscam conhecimento e que querem, sobretudo, ascender em suas
vidas. Há noites que saio da escola alegre, leve e solto por ter ministrado uma
excelente aula a esses exemplares alunos. Entretanto há momentos que a vontade
e desistir, pois vejo o desinteresse, a falta de educação e grosserias de
outros que querem continuar na ignorância. E esses pústulas são chamados de
excluídos.
O caso mais grave é a dos
alunos que apresentam visíveis deficiências de aprendizado, alunos portadores
de deficiências mentais, que jamais conseguirão alcançar certos objetivos e que
da mesma forma vão sendo passados adiante sem ter resolvido os seus problemas,
o que jamais conseguirão, infelizmente.
E se por acaso aparecer
algum otimista, que acha que a EJA realmente prepara intelectualmente seus
alunos, os desafio a fazer uma verdadeira prova dos conteúdos mínimos e verão
que grande número não tem capacidade nem conhecimento para competir com
verdadeiros alunos.
Carecem de conhecimentos e vergonhosamente grande parcela não sabe nem mesmo qual é a capital do nosso país, além de outras coisas triviais, pois um grande número não lhes interessa o conhecimento, muitos dos quais já irremediavelmente destruídos pelas drogas, que continuam nas escolas passando para os outros suas mercadorias, rindo e debochando de professores, equipes e direções de escolas.
Basta de viver em um país de
coitadinhos, onde as utopias são alardeadas e muitos profissionais esforçam-se
e tem capacidade, porém não podemos misturar as coisas onde em certas classes
há disciplina, interesse e compreensão, já em outras e simplesmente
decepcionante, onde o constrangimento assola mesmo excelentes educadores. Ou
vivo em outro mundo, pois são lindos os depoimentos que muitos fazem sobre a
EJA, porque em papel e fotografia tudo é aceito, mas a realidade em bem outra.
Há de se encontrar outro
caminho, pois este está fadado a desaparecer como tantos outros.
O tempo mostrará, pois o
tempo é o mestre dos mestres.
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