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sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Paciência Tem Limites

 


Havia uma família pobre, mas extremamente honesta, que morava na  antiga vila Carúccio no Bairro Fragata, em Pelotas, composta do casal e cinco filhos.

O marido era um homem extremamente simples, pouco conhecimento que trabalhava duro para sustentar sua numerosa prole, e carregava em seu ser uma violência cruel, surrando os filhos pelas menores infrações. Filhos que tinham muito medo e quando ele estava em casa geralmente os piás ficavam isolados evitando contato com o próprio pai.

Nos anos 50 o pai dirigia-se a pé para sua casa, quando a filha estudante dirigia-se do colégio também para casa e viu o pai caminhado pelo centro de uma avenida, na época arborizada com gigantescos eucaliptos.

- Pai! Pai! – Gritou ela.

Ele ao vê-la acenou momento em que ela correu ao lado de um ônibus da antiga STUR (Sociedade de Transportes Urbanos e Rurais) que estava parado em um ponto.

Correu ao lado do ônibus e ao chegar à frente deste rapidamente tentou atravessar a avenida sendo atingida por um caminhão que a esse ônibus ultrapassava.

A menina foi jogada longe, morrendo em frente de seu desesperado pai.

Tristeza muito grande envolveu não só aquela família, como parentes, vizinhos e amigos.

Cenas comoventes nos funerais da menininha que não havia completado 9 anos.

Ele, aquele homem duro chorou muito ao perder a filha que ele mais amava e que tinha o mesmo nome do pai.

Não posso afirmar, mas depois desta tragédia ele se tornou mais duro, revoltado e desapiedado.

Passados alguns anos, seu filho mais velho que na época da trágica fatalidade contava com 10 anos, havia incorporado nas fileiras do Exército, era um jovem forte de 18 para 19 anos e cumpriria seu serviço militar obrigatório no antigo 9º Regimento de Infantaria, sediado na mesma cidade de Pelotas.

Ele guardava muitas mágoas do pai, pois via dar surras homéricas em seus três irmãos menores, duas meninas e um menino, nele próprio e na Mãe, que ele tanto amava e respeitava.

Mas uma tarde chegando do Quartel, deparou-se com uma cena revoltante, pois o entrar no pátio da casa ouviu gritos desesperados de sua mãe.


Correu até o canto da casa e viu seu pai surrando com um relho trançado sua amável mãe. Apanhava por ter colhido um cacho de uvas que ele sem dizer a ninguém guardava para si.


O filho com ódio colérico correu na direção do pai, tirou-lhe o relho da mão e passou a surrar violentamente o próprio pai.

A cada vez que soltava o relho pelas costas ou pernas de seu pai, com violência e fúria suas roupas rasgavam e o sangue corria. Os três irmãos menores em desespero viam seu pai sendo castigado violentamente e nada podiam fazer ou nada queriam fazer, a mãe aos gritos tentava apaziguar a contenda, mas o filho mais velho só parou de bater no pai quando esse não mais reagia à homérica surra.

Vizinhos aglomeravam-se junto às cercas enquanto ele adentrava a pobre casa e pegava suas roupas e objetos pessoais, pois abandonaria aquela vivenda.

Ao sair, o pai jogado ao chão, recuperava-se da saraivada de relho trançado que levara e ele chamando os irmãos disse em voz alta, que foi ouvida por todos, inclusive pelos vizinhos atônitos:

- Se ele levantar a mão para qualquer um de vocês ou à mamãe mande-me avisar no quartel, que eu voltarei aqui não para dar-lhe outra surra, mas para matá-lo.

E segurando o cabo do relho quase encostou no rosto do pai e jurou:

- Voltarei aqui para te matar se for preciso.

Virou as costas e foi morar no Quartel.

Nunca mais o pai levantou a mão para ninguém.

Alguns anos depois os pais morreram, mas ele nunca mais voltou àquela casa, a não ser esporadicamente para ver os irmãos, mesmo assim não passava do portão.

Ao sair do Exército ele incorporou na Brigada Militar (Polícia Militar do RS) onde passou o resto da sua vida como sargento desta corporação, morando numa cidade distante.

Penso muito nessas outrora crianças, pois convivi esporadicamente com elas, mas não as esqueci.

 

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Homem Ficou 50 Anos Congelado no Tempo.


Difícil de crer, mas passei por esta experiência hilária e bonita.

                                 

                                              Papai Subtenente da CPP/1 - 1959

Meu pai Floribal Farias Teixeira, militar do Exército no inicio dos anos 70 mudara-se para Porto Alegre, já estava aposentado do Exército.

Passaram-se alguns anos e no final dos nos 80 falecera meu cunhado Nery Alves de Oliveira, foi uma perda lamentável de um homem ainda novo, que não completara 50 anos.

Foi muito triste e fomos, Sandra e eu acompanhados de um casal para a cidade de Pelotas participar dos funerais e naquela cidade hospedamo-nos num apartamento pertencente a esse casal, próximo ao Quartel do Exército aonde meu pai servira por mais de 25 anos e também eu por mais de 5.

Dia após o funeral, como era hábito, vesti minha roupa de caminhada, bermuda, camiseta, boné, tênis e meias na cor caqui e me dirigi à Avenida Duque de Caxias. Ao chegar nesta avenida, atravessei as três primeiras faixas no sentido Bairro Centro e ao chegar ao centro desta, onde há quilométrica pista de caminhadas e ciclismo, entre as três primeiras e as três últimas faixas de rodagem, ainda abatido pelo falecimento de meu cunhado, vi a frente um senhor de seus 80 e poucos anos parado, cristalizado me olhando como estivesse vendo um ser de outro mundo.

Continuei em sua direção e ele, num misto de alegria e susto, com a voz embargada, sumida ao olhar-me mais de perto disse:

- Sargento Minoso!

Fiquei surpreso, pois Minoso era usado no seio familiar como apelido de meu pai. Só que naquela ocasião papai contava com mais de 80 anos e eu era ainda um homem jovem quarentão e papai estava há muitos anos fora da cidade.

                                    

                                      Liane e Sandra, e o espírito falso do velho pai

Até um pouco emocionado, pois realmente minha semelhança com meu pai é muito grande há ponto de ter feito uma brincadeira dentro da família que rendeu muitas e fortes emoções e choros, quando fui fotografado como um espírito dentro de minha casa observando minha mulher e nora o que redundou em forte comoção, pois os que viram a foto juravam ser do velho pai numa aparição.

Dirigi-me então ao velho senhor e fraternamente dei-lhe um terno abraço, dizendo não ser o Sargento Minoso e sim seu filho.

Ele atônito me contemplava e saímos os dois caminhando pela calçada oposta que passa em frente ao Quartel do hoje 9º BIM e seguimos conversando até a Rua Afonso Pena aonde nasci e vivi até os 11 anos, entramos nesta rua e ficamos por algum tempo em frente a velha casa onde morávamos, momento em que ele me contou que sua velha irmã, de oitenta e cinco anos ainda nutria uma paixão pelo meu pai e que continuava esperançosa. Ele riu e disse que O Sargento Minoso era muito namorador.

Despedi-me do velho cidadão, pois já sabia da fama de papai e dei-lhe outro abraço, voltando para a Avenida Duque de Caxias, continuando minha caminhada matinal.

                                           

                                             Papai em Porto Alegre - 1946

Ao voltar a Porto Alegre fui visitar meus velhos pais e em conversa reservada com ele relatei a conversa com aquele senhor, dando o nome, que infelizmente esqueci. Ele lembrou e falou muito a respeito do velho amigo, porém quando falei do caso dessa senhora, ainda por ele muito apaixonada ele fechou o cenho, mas, como tinha consciência das coisas que eu falava, afrouxou-se e falando baixo disse que era um velho caso. Ele se explicou e explicou e eu só ia observando, vendo sua expressão e seus meneios típicos de quem tem “culpa no cartório”, pois como ninguém eu conhecia o “Don Juan” a minha frente. Meu pai fez histórias quando jovem, com vários e vários casos, pois quando servi ao Exército, muitos Oficias Superiores, outros oficiais e velhos sargentos contavam-me muitas histórias como se eu não soubesse.

Passado alguns dias, em casa debaixo de um lindo parreiral, tomando meu mate amargo, sentado em uma confortável cadeira baixa, com os pensamentos voando por mil “causos” vi como eu perdera tempo e não soube aproveitá-lo, pois mesmo sendo um homem jovem, de quarenta anos poderia sim passear pelas ruas do bairro Fragata em Pelotas e conquistar muitas velhinhas de 90 ou 100 anos, que pensando eu ser o histórico Sargento Minoso, poderia pegá-las todas. KKKKK

Hoje todas não mais estão entre nós, tadinhas das velhinhas faceiras, que foram jovens lindas e maravilhosas, pois meu pai sempre foi muito seletivo.