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segunda-feira, 6 de abril de 2020

Sonho.


                Mamãe e papai no ano de 1962

Continuando esse assunto fascinante de como funciona nossa mente, vamos a um Sonho Premonitório.

Quando meus pais ainda estavam entre nós, em uma determinada madrugada de sábado, pelos anos 80, acordei com um sonho premonitório terrível.

Sonhei que ao chegar à casa de meus pais em Porto Alegre, ao entrar pelo portão lateral via um “ladrão” pulando o muro dos fundos de sua casa.

Corri e encontrei mamãe no corredor vindo em direção à cozinha e sob enorme tensão, disse:

- Mãe! Dê-me o revolver.

Ela, em meu sonho virou-se e foi despacito até o dormitório, ajoelhou-se ao lado da cama e debaixo dessa tirou um embrulho de panos velhos. Desfez e dele tirou o velho, mas maravilhoso Royal HB 38, de fabricação americana de 1922, porém este estava sem o tambor.

Em meu sonho sofria com a demora:

Mamãe dirigiu-se à sala de jantar, tirou a última gaveta de um belíssimo balcão de louças e talheres, e do fundo, atrás da gaveta ela pegou outro embrulho de panos, desenrolou sobre a mesa e dele tirou o tambor.

No desespero perguntei pelas cápsulas (balas) e ela calmamente foi ao segundo quarto no fim do corredor e de dentro de um guarda roupas tirou uma caixa de sapatos com a munição e cada uma das balas enroladas individualmente em papel higiênico para não umedecerem.
Contorcia-me em desespero, mas consegui acoplar o tambor ao revólver e quando colocava a primeira bala no tambor o “ladrão” chegou à porta do quarto, armado também com um revólver.



Desesperado, horrorizado, fiz um único disparo e com o estampido acordei. Com o coração acelerado sentei-me na cama e um pensamento turvo e pesado envolveu-me.

Levantei-me, fui ao banheiro e para não perder tempo deixei de tomar o habitual mate e após, em pé ao lado da mesa da cozinha tomei uma xícara de café com leite e comi um pedaço de pão com schimier. Mas meus pensamentos estavam lá com os meus velhos pais em Porto Alegre.
Sandrinha levantou-se e eu disse a ela que estava de saída, pois como quase todos os sábados fazia, iria à casa deles, na capital do Estado ou República do Rio Grande do Sul.

Ao chegar à casa do velho casal, à Rua Graciliano Ramos 131, no Bairro Jardim do Salso de amplas e ensolaradas casas, estacionei o carro diante desta e entrei pelo lado, em direção à cozinha, acessada, na época por uma porta lateral.

             Quando servi ao Exército por mais de 5 anos

Ao chegar à porta, vi mamãe bem tranquila fritando belos pastéis, feitos por papai com extremo carinho e habilidade, que seriam consumidos no café da manhã. Já eram nove horas daquele dia inesquecível e até certo ponto duro. Eles não tinham o hábito de fazerem refeições em horários certos. Lanches, almoço e ceia era quando dava fome. Não seguiam estritamente um horário. Para quê?
Mamãe parou o que estava fazendo e veio me abraçar e dar o seu sempre bem-vindo beijo e nada é melhor que um abraço e um beijo de mãe. Mãe fera, astuta e extremamente gentil com os filhos, amigos e até desconhecidos. Assim sempre foi. Fala mansa e carinhosa com todos.

Fiquei em pé, recostado a um armário, enquanto ela voltava para a frigideira com mais três ou quatro pastéis nas mãos, que havia tirado da geladeira naquele momento. Afinal, eu chegara em boa hora.
Nisto, ao ouvir minha voz, papai veio do fundo da casa para a cozinha, cumprimentou-me com seu habitual beijo. Estava com rotos chinelos de couro marrons, uma bermuda cinza claro e uma camisa creme de mangas curtas, surrada, sem nenhum botão abotoado. Como ele gostava de andar em casa.

           Papai, nesta época, já aposentado do Exército.
 
Apoiou o braço esquerdo na geladeira e perguntou como estavam as coisas, a família e o trabalho.

Neste momento contei-lhes o sonho que me acordara naquela madrugada.

Foi uma bomba!

Papai, rapidamente curvou-se para frente, vermelho como um pimentão e colocou o rosto entre as mãos.

Percebi que algo estava errado. Muito errado.

Virou-se e voltou para o corredor dizendo: 

- Não vem aqui! Não vem aqui!

Mas esse “não vem aqui”, foi como atirar quirera para pinto e eu fui atrás.

Envergonhado, encabulado, chateado, foi direto para seu quarto e eu o segui e ele repetia:

Que vergonha! Que vergonha!

Abaixou-se ao lado da cama e de joelhos tirou um embrulho de panos velhos e o colocou sobre sua cama e o desfez. Dentro, como eu esperava, estava o velho, mas excelente Royal HB 38, sem o tambor. Fabuloso revólver que nunca negou fogo e que papai ganhara em uma rifa quando entrara como recruta no quartel do Exército onde servira mais de 24 anos.

- Que vergonha! Que vergonha! Repetia.

Levantou-se foi até a sala de jantar, sendo por mim seguido, e retirou a última gaveta do tal armário de talheres e lá do fundo tirou o outro embrulho de panos com o tambor do belo revólver.

Evitava me olhar, pois em sua mente corriam mil ensinamentos que ele próprio havia para mim passado desde que aos onze anos me ensinou a atirar, com balas reais. Em meus pensamentos passaram as imagens dele me ensinando a empunhar a arma e fazer alguns disparos com outro  que ele possuía. Um Taurus preto, ponto 32, de fabricação nacional. Usando como campo de tiro o antigo barreiro que se estendia aos fundos da casa de vovó, em Pelotas, pertencente a uma velha olaria, na qual, com seus seis anos tocava uma mula para amassar o barro que seria transformado manualmente em tijolos, um a um, por hábeis, mas extremamente pobres oleiros. 

Largou o tambor do revólver sobre a cama e foi ao outro quarto de onde veio com uma caixa de sapatos e desta começou a tirar as balas, todas enroladas, individualmente em papel higiênico.

De joelhos ao lado da cama ficou montando o  e o carregando.

A única coisa que eu disse ao meu velho pai, Oficial do Exército, experiente e excelente profissional e cuidadoso com suas armas, foi:

- Eu não acredito!

Nunca mais tocamos no assunto, pois ele mais do que ninguém sabia que uma pessoa que tem uma arma em casa, esta deve estar sempre pronta para uma ação rápida e precisa.

Foi com esse mesmo  que mamãe, em 1943 fez despencar um larápio do telhado de nossa casa, conforme relatei no post “O Certeiro Tiro”, publicado em 22 de outubro de 2016. 

Oigalê porqueira! 

Acertou em cheio, tanto ela com o belo revolver em 1943 como eu em meu fatídico sonho naquele dia.



Papai, Floribal Farias Teixeira, experiente e excelente militar jamais falou neste caso, pois jamais poderia ter deixado sua arma naquelas condições impróprias para uma ação rápida e efetiva.











9 comentários:

  1. Caro Pedro,
    Somos humanos e divergências sempre irão existir em qualquer ambiente seja familiar ou não?
    Mas, quão bonito é encontrar o caminho para o perdão, para a compreensão e aceitação da diferença do outro. E tu tem lá tuas diferenças e desafetos (conforme já relatou), me considerando mais teu irmão, que o teu próprio irmão de sangue. Saiba que a recíproca é verdadeira, pois, muitas pessoas conseguem sentir o bem, para além dos laços de sangue e fazer das amizades uma fraternidade.
    O filósofo alemão “Friedrich von Schlegel”, disse que:

    “Apenas em torno de uma mulher que ama se pode formar uma família!”

    Não dá para não reconhecer a importância das matriarcas para uma família! Todas as famílias que têm uma mulher por perto, com certeza estão bem servidas de amor e ternura.
    O certo meu caro, é que o apreço que nutro por ti não tem preço e, faz sentido para o meu ser. Então, és família para mim!
    Família pode ser formada de pessoas, identidades, quantidades e valores diversos. Os meus valores levam seus embasamentos na fé, os teus não, mesmo assim, considero que somos família, este elemento essencial para a nossa paz de espírito, em um Mundo que cada dia gira mais louco e sem saúde!
    Um abraço e continue nos cuidados teus e da tua Sandrinha!!!

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    1. Olá meu irmão do coração Douglas.
      Certamente temos diferenças e temos muita "bem querência" (termo gaúcho) por pessoas muitas vezes religiosas e ideologicamente diferentes de nós. Tenho um amigo que mora em Cuiabá, professor da UFMT meu amigo desde adolescência, portanto há 60 anos, que quando eu fui para o Exército ele foi para um seminário. Ele padre e eu ateu. Brincávamos que ele era o Dom Camilo e eu o Barbeiro Pepone, da historia italiana de uma padre e um Comuna que eram amigos. Conhecíamos um ao outro como se conhecêssemos um verdadeiro irmão, pois o meu próprio irmão eu não o conheço como deveria, e mesmo tendo com esse amigo grandes diferenças, sempre nutrimos respeito e educação, assim como contigo. Hoje esse amigo é um padre casado e tem quatro filhos, sendo que o mais velho leva o meu nome "Aurélio". Aprendi lendo teus textos a pessoa que és e nutro muito respeito pelas tuas posições. Sou meio - muito - radical em certas coisas, pois quando alguém me diz numa despedida - "Vá com deus", eu respondo "Quédate usted con Dios, yo iré con la virgen" óbvio que a virgem é no bom sentido. KKKK.
      Amigo Douglas sonho com um mundo em que na mesma praça menino brancos e negros jogues alegres e satisfeitos, onde não haja pobres e nem ricos e todos sejam iguais, afinal, mesmo não crendo, dizem que Jesus dizia: Despoja-te de tuas sandálias. Divida o pão, todos são iguais, e penso que naquela época se existisse um DOI-CODI, Jesus havia sido preso e torturado, ou até enforcado como foi o teu colega Vladimir Herzog, por ser ele, Jesus um "perigoso" comunista.
      Amigo, irmão e camarada, desejo belos dias e que fiques protegido desta pandemia que há de mudar o pensamento de muito, pois precisamos não só de remédios, mas principalmente de novos pensamentos que venham a mudar essa sociedade caótica, desigual e perversa.
      Um grande abraço

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  3. Incrivelmente premonitório este teu sono, Pedro! E como você mesmo diz, um dia a ciência vai explicar tim por tim tim, eu também acredito nisto.
    Bravo Pedro!
    Acho que agora iremos lanchar, talvez eu ainda continue por aqui, caso isso não aconteça, deixo muitos beijinhos e abraços para você, Sandrinha e toda a família. E o desejo de uma excelente semana.

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    1. Olá! Olá! Minha querida amiga Maria Glória.
      Custei a te responde pois tinha uma dúzia de comentários para da a devida atenção e o pior que o maior deles, que estava fazendo a um leitor, não sei onde apertei uma tecla e ele sumiu. E aí para fazer igual ou parecido é difícil. Mas cá estou minha querida amiga e te confesso que tenho muitos sonhos premonitórios, fora os fatos que entram em minha mente quando estou desperto. Um dia teremos uma resposta correta sobre isto. Milena está cada dia mais linda. É a cara do Fábio, minha nora fica meio sem jeito, mas a menina é cópia fiel do paizão. Sandrinha agradece a lembrança e manda um beijão para ti e para o Dom Luiz.
      Beijos amiga. Sempre é muito bom receber teus comentários.

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    2. Oi Pedro, boa tarde! Sandrinha, boa tarde!
      Voltei aqui para olhar novamente a foto dos teus pais. São belos, adorei sentir a presença deles, os sorrisos e olhares e vejo uma serenidade na tua mãe. Um ano depois desta foto, era estava nascendo.
      Sim, também acredito que um dia teremos a resposta para estes sonhos ou sentires semelhantes, mas uma resposta científica. Porque agora tudo é física quântica, dá até náusea. A bola da vez é ganhar lucros com cursinhos de física quântica.
      Já vi um post da Milena, crescida! Linda!
      O blog some com os comentários no momento que estamos aqui escrevendo. Eu tenho feito o texto no word, copio e colo aqui, assim, não me irrito pela perda dos meus meus preciosos momentos, onde tudo fresquinho acaba de sair do forno e o blog chatinho apaga tudo.
      Beijocas.

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    3. Maria amada amiga.
      Quando falaste de mamãe e fizeste uma rápida menção a sua serenidade, não vou esconder ou negar, mas meus olhos transbordaram, pois mamãe era um mar profundo de serenidade. Muito atilada, de fala mansa e quase sussurrante, de sorriso maroto e ao mesmo tempo, fera em defesa dos filhotinhos. Por outro lado concordo contigo plenamente quanto aos que não entendendo das coisas levam tudo no mesmo saco e dizem ser física quântica. Rio muito desses. Quanto aos blogues, também faço a mesma coisa. Respondo ou comento no Word e depois copio e colo. Já perdi muitas coisas e depois não adianta tentar, pois nunca sairá igual. Milena está cada vez mais linda e esperta.
      Maria e Dom Luiz, um abraço “destamanhão” ao amigos de São Paulo.
      Beijos

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  4. Caro Professor,
    Quando eu era mais jovem tinha um recorrente sonho...
    Sonhava com uma bela morena de cabelos longos com a qual me encontrava em uma escadaria e às vezes na companhia de uma menina pequena num belo gramado de um verde intenso. A sensação ao acordar deste sonho era de uma leveza da alma e uma felicidade sem saber o motivo.
    Presságio do futuro? Não sei...mas depois que encontrei esta bela morena na vida real nunca mais tive este sonho. E as situações dos encontros aconteceram também no mundo real, pois certa vez nos encontramos numa escadaria da entrada de um shopping e muito mais tarde num parque de Curitiba com o mesmo tipo de gramado acompanhados de uma criança(minha filha).
    Enfim caro amigo e mestre...a vida é feita de sonhos e que continuemos sonhando com um mundo melhor e livre dessa praga deste covid que tem nos assolado.
    Antes de me despedir, como sabe sou de Pelotas e no texto falou sobre uma velha olaria nos fundos da casa de seus pais, seria na rua Barros Nassau no bairro Areal?
    Se for lá, quero lhe contar que uma parte da minha infância ví uma olaria nesta rua em que minha saudosa bisa morou.
    Abraços amigo, continue se cuidando.

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    1. Olá caríssimo Paulo Luiz.
      Foi com grande alegria que recebi teu comentário compartilhando comigo tal e fascinante sonho premonitório. Isto é um dom maravilhoso que poucos têm e pouquíssimos entendem.
      O homem em sua saga pelo mundo foi perdendo essa capacidade e hoje não se atém a essa beleza que acompanha alguns privilegiados, Lembrando que muitos animais ditos irracionais possuem essa capacidade. Sei que é um assunto para muitos, cheio de tabus e superstições, mas aquele que os têm são os que têm mais humanidade. O homem quanto mais primitivo, possuía mais esse dom, porém foi perdendo conforme o progresso foi se estabelecendo, ao ponto de culturas muito desenvolvidas tanto no campo das ciências, da filosofia menos necessitam buscar forças em entidades totêmicas ou nas superstições. Sonhos recorrentes devem ser bem analisados ou apenas um sonho, não se fazendo necessário ser recorrente e nada tem a ver com forças maléficas como muitos alienados pensam. Muitas vezes entram em nossos pensamentos, sem sabermos de onde ou por que, palavras e pensamentos desconexos e nós não nos importamos. Temos sim que estarmos alertas, pois eles querem muitas vezes dizer algo. Gostaria de continuar esse contato, pois muitas coisas já publiquei neste espaço, outras não. A maioria foi testemunhada como eu, ao tocar na mãozinha do menino Silvinho, que na época com sete anos, vi sua morte antes dos quinze anos. No momento falei para minha, na época noiva, hoje minha companheira de quase 50 anos e ao meu sogro Dom Mário, que se horrorizaram e nada fizeram. E conforme havia previsto, aconteceu. Essa capacidade é para poucos. Observe não só os sonhos. Leia neste espaço o post com o título “Entre o Céu e a Terra 4”, subtítulo, “O Cabo Rancheiro” de 29 de janeiro de 2016 e depois o “Entre o Céu e a Terra 3” subtítulo “O Soldado” de 27 do mesmo mês. Tenho essa capacidade, porém elas não acontecem quando queremos ver alguma coisa, alas acontecem aleatoriamente. Julho do ano passado conversava com Sandrinha, minha esposa e companheira há décadas, na cozinha de nosso apartamento, quando no nada e fora do contexto surgiu em minha mente a palavra pandemia. Passados alguns dias, também do nada vi milhares de pessoas mortas em minha volta. Também nada disse ou fiz e hoje estamos aí com essa dolorosa calamidade. Temos que aprender a ler esses avisos. Nada é maléfico, nada tem a ver com coisas más, porém são avisos para nos precaver e ajudar que se for ruim não aconteça e se for bom que ajudemos a acontecer.
      Espero continuar esse assunto com tão prestimoso conterrâneo e quero informar que a Olaria que falo ficava no Bairro Fragata aos fundos da casa de minha avó, era uma enorme área que se estendia em campos entre a Av. Pinheiro Machado e, hoje, Álvaro Batista na Vila Caruccio. Essa olaria era muito antiga e já existia antes de abrirem a antiga estrada Pinheiro Machado, hoje avenida, mas gostaria muito de continuar trocando ideias com o caríssimo Paulo Luiz DUARTE. Coloquei o Duarte em caixa alta pois tive um tio, casado com minha tia Zélia que se chamara Augusto Genes Duarte, nascido lá pelas plagas de Canguçu.
      Querido Paulo, gostaria muito de ouvir tuas histórias. Um forte abraço sem covid. Cuide-se, o melhor remédio é ainda a prevenção.

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