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quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Fumaça Branca do Cigarro.



            Plantação de Tabaco - fumo.

O tabaco é uma planta originária dos Andes, portanto era desconhecido dos europeus, até a chegada de Cristovão Colombo em 1492, porém largamente utilizado em todo o Novo Mundo pelos ameríndios, em forma de charutos, cachimbos, mascado ou bebido em forma de chá.

            O velho morubixaba Raoni, fumando seu cachimbo e seu
                           tradicional botoque de madeira para esticar o lábio inferior.
 
Farta literatura há sobre esse assunto, porém, apesar dos males causados pelo seu continuado uso, o tabaco hoje é conhecido e usado no mundo inteiro e de diversas formas, popularizado principalmente durante a Primeira Grande Guerra, também encontrado em diversas publicações pertinentes ao assunto.

                 Fumo em corda - já curtido.

Apesar de ser o Brasil o segundo maior produtor desta praga, ele não consta entre os dez países mais consumidores e seu uso vem ano a ano caindo drasticamente. 

Que bom!

Porém esse produto me fez viajar ao tempo e chegar despacito aos anos 50, o que me trás recordações da velha índia meio Charrua, minha avó paterna.


Usava a velha Idelvira de Farias Teixeira, conhecida como Bibira o popular e tradicional “paiero”, (palheiro) cigarro cujo tabaco ou fumo é enrolado em palha de milho, por este motivo tomou esse nome tão corriqueiro no Rio Grande do Sul, aonde é consumido principalmente pelos Gaúchos.

                                         Milho

Vovó que plantava o próprio milho, tanto para sua alimentação em forma de milho verde cozido, assado na brasa, mingau, curau e canjica salgada ou doce e também para a alimentação de animais que ela possuía. Lembrando que o milho assim como o tabaco era desconhecido dos europeus, mas era o principal grão que alimentava milhões de índios, cuja sua origem é a Mesoamérica, foi sendo através de milhares de anos alcançando todo o continente e finalmente o mundo, com quase quatro mil variedades e serve também como um dos principais forrageiros que alimenta o gado em geral, de touros, galinhas e pintinhos em forma de quirela.

             Milho.

Porém vamos nos ater a velha avó, minha velha e saudosa Charrua, maleva como sua mãe, a minha bisa Maria Emília, que despachou com suas próprias mãos um caborteiro para a terra dos pés-juntos, como foi publicado neste espaço com o título “O Assassinato” em 5 de julho de 2014. Vovó, que com seus dedos encarquilhados, como num ritual mágico e cheio de regras cortava a palha do milho, preparava o fumo em corda que era meticulosamente, depois de curtido, cortado com uma boa carneadeira e após calmamente ia enrolando seus “paieros”, absorta ao mundo, absorta em seus pensamentos longínquos, mas num verdadeiro ritual quase mágico e perícia de fazer inveja.

             Enrolando o "paiêro".

Passava as tardes enrolando tranquilita seus “paieros” e quando o primeiro ficava pronto ela, de cócoras ao lado do velho fogão campeiro ou de um fogo de chão, pegava um tição e calmamente acendia o primeiro cigarro ou com o hoje desconhecido da maioria das crianças com menos de 60 anos, isqueiro de pederneira e em uma longa e serena tragada, de olhos fechados, aspirava com prazer e visível regozijo o gosto daquele tabaco que ela tanto admirava.

                 Isqueiro de pederneira-- Desenho do autor.
                                   A - Pedaço de aço.
                                   B - Pedra.
                                   C - depósito de fluido inflamável.
                                   E - Tampa que servia como apagador.
                                   D - Cordel de algodão.
                                   Para acender essa geringonça o quera (cuéra)
                                   ficava batendo a pedra no aço até uma fagulha
                                   acender a ponta do cordel.


Abria seus olhos e soltava de sua boca de lábios finos, em total êxtase nuvens de branca fumaça que a parecia hipnotizar naquele momento, até lúdico, em que ficava absorta olhando os rolos de branca fumaça espargirem-se no ar.


E assim foram anos observando as manhas da velha índia, hábil e despachada.


Lembro-me de seus finos dedos, magros como ela própria, enrolando e fumando seus “paieros” e tomando seu chimarrão o que fez até seus últimos dias.

            Outras variedades de milho.


Avozinha querida, meio biguana, porém mais atilada do que sorro em noite escura, cuidando-se dos guaipécas. Bispando qualquer movimento, astuta e matreira. Quantos são os recuerdos que de ti carrego sempre vivos em meus pensamentos.

Avozinha querida e despachada.

Da vida muitas vezes machucada.

Brilhava os olhos de alegria.

Quando alguma brincadeira comigo fazia.



Se alma existisse, seria a tua como fumaça de paiero,

Livre dos tormentos quentes de um braseiro,

Subindo ao infinito tão leve

Delicada e branca como um floco de neve



Tinhas, velha Charrua, verdadeiro esplendor,

Brilhavas mais que a Boieira no alvor.

Quando te carregava em meus braços, rias,

E sentia em meu rosto tuas mãos delicadas e frias.



Astuta e corajosa, nunca se deu acovardada.

E desta vida dura e desenfreada.

Brigou, lutou e saiu vitoriosa.

Índia Charrua esperta e valorosa,



Guapa, valente e mui gentil.

Como fumaça se espraiou e sumiu.

Rumbiando para outros pagos nos deixou.

Imensa saudade em meu coração ficou.


6 comentários:

  1. Olá, Pedro, meu querido amigo!

    Que interessante é a história do tabaco, de seu início, produção, consumo, consequências do uso dele e o famigerado lucro, inevitavelmente.

    Felizmente que no Brasil, e apesar de ser o 2º maior produtor, as pessoas estão deixando de fumar por aí. Em Portugal, tb noto um decréscimo, mas a mulher continua fumando, desalmadamente, por essas bandas. E em Paris, nem te conto!

    Não sou fumadora, nunca fumei um cigarro, mas apanho com o fumo dos outros, embora nos cafés, pastelarias, shoppings, transportes públicos, sala de espetáculos etc. não se possa fumar. Quem desejar fumar, tem de ir para a rua, para o exterior matar o vício.

    Como teu coração falou com tanto amor e admiração por tua avó paterna! Te traz recordações inesquecíveis.
    Adorei os veros, que a ela dedicaste. Simples, mas mostram bem teu afeto por essa amada senhora, que talvez tenha morrido de qualquer outra coisa, que não do tabaco e talvez já com certa idade. Depois, me diz. Obrigada!

    Beijos e abraços. Bom final de semana.

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    1. Olá Cielito linda.
      Amada, o tabaco deveria ser abolido do mundo, mas ainda o Brasil é um dos maiores exportadores desta droga, principalmente para a Bélgica, EUA, Rússia, China, Países Baixos e Paraguai, além de outros. Aqui há proibição de propaganda deste produto por qualquer meio de comunicação, inclusive cartazes. Nos ambientes fechados, mesmo amplos é rigorosamente proibido o uso, o que suscitou muitas reclamações, mas hoje o povo mais consciente vê com normalidade, tanto que seu uso vem despencando a cada ano. Quando entrei para as Forças Armadas (Exército) em contato com muitos tabagistas comecei a fumar e fumei muito. Meu Chefe direto, um Capitão, hoje General da Reserva, ao qual caí nas graças, mandava todos os dias um Soldado comprar dois maços de cigarro e um deles ele próprio ao passar jogava em minha mesa de trabalho. Quando estava de serviço de Sargento-de-Dia, ele deixava dois maços, um para o dia e outro para a noite. Fumei até o ano de 1989, quando em uma madrugada resolvi deixar de fumar e nunca mais fumei, o que para muitos foi um feito impossível de acreditar.
      Vovó era simplesmente incrível, gostava de brincar, gargalhar e contar “causos” e sempre que podia ia visitá-la. Quando ainda estava no Exército, saía do quartel, vez que outra e ia até sua casa e ela sabendo sempre me esperava com a janta pronta. Era a avozinha do colinho, do afago e das brincadeiras. Morreu de morte natural, ou seja, idade. Faleceu com mais de noventa anos no início dos anos 80, seu registro de nascimento era do Século XIX, porém naquela época muitas crianças eram registradas anos depois de terem nascido. Era uma jaguatirica de tão esperta e atilada, mas infelizmente se foi como nós um dia iremos.
      Beijos e beijos amada hermanita de mi corazón.
      PS: Sandrinha chegou há pouco. Almoçou com Monica, foram ao salão de beleza e depois foram para o novo Shopping para conhecer coisas que não pode conhecer na primeira visita, veio maravilhada, cheia de novidades e contou-me que no Supermercado Zaffari que fica no subsolo, no setor de bebidas há vinhos de todos os lugares e muitíssimo de Portugal. Estou louco para ver.
      Também manda beijos.

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  2. Meu querido!

    Retificando: versos e não veros, como por lapso escrevi, que a ela dedicaste.

    Bisous et de merveilleux rêves.

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    1. Oi.
      Li de carreirinha, como se diz aqui e não notei. Também cometo lapsos de digitação.
      Beijos.

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  3. Querido Pedro!

    Espero k estejas bem e feliz. Aqui, tudo nos "trinques", embora o frio esteja na casa dos 5ºg positivos.

    Penso como tu. Tabaco e outras drogas semelhantes e viciantes, abolidas.
    Também em Portugal não há permissão para publicidade ao tabaco e nos maços aparece em letras enormes a seguinte frase: tabaco mata, mas nem assim essa gentinha para de fumar.

    Penso que com o avançar da informação e as restrições aos lugares, onde os viciados possam fumar, a "coisa" irá decaindo, mas ficar com uma percentagem bem baixinha de fumadores, isso levará séculos. Sabes que é mto difícil mudar mentalidades, é mesmo das coisas mais difíceis.

    Por influência de outros, foste tb fumador. Bem, na tropa a rapaziada gosta de se "exibir" e fazer "disparates", alguns próprios da idade.

    1989-STOP. Parabéns! Que grande força de vontade!

    Bem me parecia que tua vovó era uma mulher especial, diferente e que morreu já bem velhinha. Acho que a força mental e inteligência de cada um de nós, nos faz viver mais tempo.

    Já foste ao shopping, de novo? E já viste os vinhos, nomeadamente os portugueses? O Alentejo tem vinhos mto famosos, que não sei o nome, pke não ligo para esse tipo de bebida, como sabes. Me conta, depois. Tá?

    Nova semana chegando, aliás a semana já começou hoje, mas enfim, amanhã é k vamos trabalhar. Não me apetece nadica levantar cedo, mas tem de ser.

    Beijos e um mega abração de "partir as costelas" (rs). Tu dizes isso, de um outro jeito, que, agora não lembro.

    Boa semana, com calor e muito amor.

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    1. Amada amiga Céu.
      O filho mais velho saiu há poucos minutos aqui de casa, sempre vem nos visitar aos domingos. Por aqui tudo bem. Realmente foi uma grande vitória o que acorreu em 89. Já minha amada vovozinha foi-se com idade avançada. Somos de uma família de longevos, sendo que a irmã de minha avó, a minha tia-avó Anália de Faria Nuñes, faleceu aos 104 anos e a irmã de papai faleceu em 22 de janeiro de 2014, com a idade de 98 anos e dois meses.
      Fui fazer a segunda visita ao novo e maravilhoso Shopping e de lá saí com duas garrafas de vinho verde Português Casal Garcia. Maravilhoso. Há uma variedade muito grande de vinhos. Brasileiros, portugueses e outros, como os chilenos, sendo o meu preferido o Casillero del Diablo, (cabernet sauvignon) que aprecio muito, mas com moderação. Não mais que meio cálice ao almoço.
      Que tenhas uma bela semana e um "quebra costelas" mui guapo e macanudo.
      Beijos.

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