Pinot noir
Bem que poderia ser este o
título do que vou escrever, entretanto o mais apropriado seria “O Idiota e os
Vinhos”.
Há aproximadamente dois anos
atrás, quando muito, percorrendo a RS 118, cujo seu nome poucos sabem, pois é
oficialmente denominada de Rodovia Mário Quintana, parei em uma galeteria para
almoçar com minha mulher, companheira de 40 anos.
Entramos, escolhemos uma mesa
e prontamente fomos atendidos por um jovem garçom educado e prestativo, que de
imediato passou a nos servir.
Tão logo adentrou ao recinto
um casal jovem, ele de seus trinta e poucos anos, e pelo estilo um dos que há
pouco ascendeu à classe média, ou como muitos dizem, um “novo rico”,
sentando-se a uma mesa logo atrás de onde estava sentada minha mulher, ficando
ele bem a minha frente.
Ela uma mulher aloirada, sem
grande visual e ele um perfeito idiota, arrogante, pedante e metido a riquinho.
Na verdade um bobalhão tentando impressionar a companheira.
O mesmo garçom que nos
atendia, foi atendê-los, também educadamente, quando o bobalhão lhe disse.
- Traga-me uma garrafa de um
“pinot noir”.
Pacienciosamente o garçom
trouxe-lhe uma garrafa de um pinot.
O idiota, olhou, olhou, olhou
e disse:
Não, não gostei desta safra,
traga-me um “sauvignon”.
Mais uma vez, foi-se o garçom e
com outra garrafa voltou, entregando-a ao estrupício.
E mais uma vez o mentecapto,
olhou, olhou e disse.
- Não, não gostei desta região,
traga-me um “variental”.
A tudo observava, e mais uma
vez o pobre garçom foi-se voltando logo após com uma garrafa de um vinho
conforme o pedido do bestalhão metido a entendedor.
Não contente, e já
transtornado o ridículo pediu ao garçom que trouxesse a carta de vinhos.
O jovem garçom virando-se,
olhou-me, sacudiu a cabeça e foi trazer o que o parvo havia lhe pedido.
Após virar e revirar a carta,
o bobalhão pediu a presença do proprietário do estabelecimento.
Foi logo atendido, e com esse
confabulou em voz alta e arrogante.
O proprietário sugeriu um
“merlot” de boa safra.
E o idiota prontamente aceitou
e pediu uma garrafa do climatizador.
O próprio proprietário foi até
o aparelho e de lá trouxe uma bela garrafa que foi passada as mãos do babaca,
que olhou, olhou e concluiu dizendo.
- Ótimo, porém quero que
substituam estes copos por dois cálices próprios para o vinho e dois para a
água.
Mais uma vez o garçom, ainda
paciencioso atendeu o pedido do rastaqüera.
Porém quando se preparava para
abrir a garrafa, foi bruscamente interrompido pelo boçal que lhe disse:
- Não, não abra esta garrafa,
pois ela já saiu do climatizador há algum tempo. Traga-me outra.
O garçom já quase perdendo as
estribeiras, mais uma vez, atendeu ao pedido do esperto.
Quando voltou, mostrou o
rótulo ao babaca e abriu finalmente a tal garrafa.
Educadamente então entornou o
vinho no cálice do imbecil, acima do meio, para que o “riquinho bobalhão”
fizesse a degustação.
Neste momento, já estava eu
tapado de nojo vi a cena que bem mostra que o novo rico nunca tivera berço,
muito menos um vago conhecimento de um sommelier.
O infeliz simplesmente
entornou o vinho como bêbedo entorna cachaça goela abaixo, num gole único e
rápido.
O desiludido garçom novamente
me olhou com um ar de desaprovação, novamente balançou a cabeça e eu ri, mas ri
de nojo do babaca.
Isso confirmou a velho adágio
–“Não devemos dar pérolas ao porcos”.
sauvignon blanc
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