No início dos anos 70,
assisti a uma entrevista na televisão, onde dois combatentes da Revolução
Constitucionalista de 1932 se entreveraram, um de cada lado. Um deles lutava
por São Paulo e ou outro, em defesa do Getulismo.
Tal entrevista, se não me
falham as catracas sempre cheias de informações foi ao ar através de um
programa, durante a semana, à noite, apresentado provavelmente por Silvio
Santos, quando ainda trabalhava na Rede Globo.
Contaram os entrevistados
que certo cair da noite, cerquito do litoral paulista, a poucos passos da praia, com a
visão já meio turva, uma Patrulha Gaúcha avistou uma Patrulha Paulista composta por
dez homens, a Patrulha Gaúcha escondeu-se e aguardou em silêncio a chegada dos
Paulistas que não haviam se apercebido da presença inimiga e no derradeiro
instante entraram em violenta luta, corpo a corpo onde a baioneta e o
fação foram as armas.
Ao silenciar a refrega havia
sobrado vivo apenas um Paulista, com as mãos erguidas entre os Gaúchos, quando
um Soldado Rio-grandense propôs que o mesmo fosse imediatamente degolado,
propondo-se inclusive para tal tarefa.
Porém o Sargento que
comandava tal destacamento disse que não, e que se alguém tivesse que matar
aquele paulista, este alguém fosse a própria natureza.
Imediatamente mandou que
levassem o Soldado Paulista para a beira do mar, numa região totalmente deserta
e ali o estaquearam para que a maré quando subisse desse cabo daquela vida.
Bem amarrado deixaram o Soldado
bandeirante e retornaram ao acampamento Gaúcho, não mui distante do local.
A noite foi cada vez mais,
com seu breu tomando conta dos campos quando no acampamento Gaúcho um Soldado que
estava naquela Patrulha Gaúcha, condoído com o infeliz Soldado Paulista mesmo
correndo o risco de ser preso e sentenciado, por sair se permissão do acampamento, evadiu-se as escondidas com um único objetivo em sua mente. O de tentar salvar aquela pobre
vida condenada ao afogamento.
O mar já estava alto, quando
o cansado Soldado Gaúcho encontrou finalmente o pobre Paulista, já quase se
afogando, amarrado já com o corpo coberto pela água do mar.
Sustentando a cabeça do
bravo Soldado Paulista fora d’água o Gauchito com seu facão na mão destra
sentenciou:
- Tche, eu vou te soltar para que tu possas seguir vivendo, porém se tentares qualquer coisa conta mim,
não pensarei duas vezes e te passarei a carneadeira.
O Soldado Paulista já quase
sem forças concordou. Era o que podia fazer.
Como palavra dada é documento
assinado, então sem demora, já que a água continuava a subir, o Soldado Gaúcho
conseguiu finalmente soltar o Paulista das amarras.
Aturdido, cansado e sem
forças o Soldado Paulista foi amparado pelo Soldado Gaúcho e levado para o alto
de uma duna, onde ficaria a salvo da maré.
O Soldado Paulista tiritava
de frio quando o Soldado Gaúcho tirando seu próprio capote colocou sobre o paulista
para que agora o mesmo não morresse de frio.
Foi um momento comovente,
homens que lutavam um contra o outro tiveram um interregno de paz e neste
momento começaram a conversar.
No escuro daquela noite disse
o Soldado Paulista que, apesar de ter tomado a causa Paulista ele era do Rio
Grande do Sul, de onde ainda um menino de 17 anos havia rumado para São Paulo,
pois pertencia a uma família pobre do Rio Grande, vindo para São Paulo atrás de
nova vida e novas oportunidades, pois São Paulo já era um estado de uma
indústria sólida e em crescimento, e que achava a causa Paulista justa.
O Soldado Gaúcho quis saber
mais e perguntou ao Paulista de qual cidade do Rio Grande ele era esforçando-se
para ver sob o manto escuro da noite o rosto daquele “Paulista”.
O Paulista respondeu que era
de “tal” cidade, coisa que deixou o Soldadinho Gaúcho mais interessado, pois
era a sua cidade.
Quis saber então o nome e
sobrenome do Soldado Paulista, oito ou nove anos mais velho que ele.
Ao dizer o seu nome e sobrenome,
um sobressalto tomou conta do Gaúcho, momento em que emocionado já que era de
mesmo sobrenome e de mesma cidade perguntou quase engasgado quem eram os pais
do então Paulista por adoção.
Ao dizer o nome dos pais, o Soldado
Gaúcho chorando de emoção abraçou o Soldado Paulista que nada estava
entendendo, momento em que entre lágrimas e sorrisos o jovem Soldado Gaúcho
disse:
- Tu és meu irmão.
E os dois emocionados entre
sorrisos e lágrimas, haviam no breu daquela noite, por um motivo tão violento
se encontrado após mais de dez anos de separação.
Esses dois veteranos nada têm a ver com a história
apenas serviram como ilustração, mas foram
apenas serviram como ilustração, mas foram
também heróis defensores da democracia.
Tal entrevista jamais saiu
de minha memória e comovido estou a relatar para que se alguém tiver qualquer
informação mais precisa venha a relatar esta verdadeira história, parece que
tirada de um conto de fadas para que ela não seja esquecida e permaneça para
sempre mostrando que as guerras, por mais justas que possam ser, põem irmão
contra irmãos e feliz foram esses dois combatentes de lados opostos, mas que o
sangue e o amor falaram mais alto.
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