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quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Revolução Paulista – Entre Lágrimas e Sorrisos.


No início dos anos 70, assisti a uma entrevista na televisão, onde dois combatentes da Revolução Constitucionalista de 1932 se entreveraram, um de cada lado. Um deles lutava por São Paulo e ou outro, em defesa do Getulismo.

Tal entrevista, se não me falham as catracas sempre cheias de informações foi ao ar através de um programa, durante a semana, à noite, apresentado provavelmente por Silvio Santos, quando ainda trabalhava na Rede Globo.


Contaram os entrevistados que certo cair da noite, cerquito do litoral paulista, a poucos passos da praia, com a visão já meio turva, uma Patrulha Gaúcha avistou uma Patrulha Paulista composta por dez homens, a Patrulha Gaúcha escondeu-se e aguardou em silêncio a chegada dos Paulistas que não haviam se apercebido da presença inimiga e no derradeiro instante entraram em violenta luta, corpo a corpo onde a baioneta e o fação foram as armas.

Ao silenciar a refrega havia sobrado vivo apenas um Paulista, com as mãos erguidas entre os Gaúchos, quando um Soldado Rio-grandense propôs que o mesmo fosse imediatamente degolado, propondo-se inclusive para tal tarefa.

Porém o Sargento que comandava tal destacamento disse que não, e que se alguém tivesse que matar aquele paulista, este alguém fosse a própria natureza.

Imediatamente mandou que levassem o Soldado Paulista para a beira do mar, numa região totalmente deserta e ali o estaquearam para que a maré quando subisse desse cabo daquela vida.

Bem amarrado deixaram o Soldado bandeirante e retornaram ao acampamento Gaúcho, não mui distante do local.


A noite foi cada vez mais, com seu breu tomando conta dos campos quando no acampamento Gaúcho um Soldado que estava naquela Patrulha Gaúcha, condoído com o infeliz Soldado Paulista mesmo correndo o risco de ser preso e sentenciado, por sair se permissão do acampamento, evadiu-se as escondidas com um único objetivo em sua mente. O de tentar salvar aquela pobre vida condenada ao afogamento.

O mar já estava alto, quando o cansado Soldado Gaúcho encontrou finalmente o pobre Paulista, já quase se afogando, amarrado já com o corpo coberto pela água do mar.

Sustentando a cabeça do bravo Soldado Paulista fora d’água o Gauchito com seu facão na mão destra sentenciou:

- Tche, eu vou te soltar para que tu possas seguir vivendo, porém se tentares qualquer coisa conta mim, não pensarei duas vezes e te passarei a carneadeira.

O Soldado Paulista já quase sem forças concordou. Era o que podia fazer.


Como palavra dada é documento assinado, então sem demora, já que a água continuava a subir, o Soldado Gaúcho conseguiu finalmente soltar o Paulista das amarras.

Aturdido, cansado e sem forças o Soldado Paulista foi amparado pelo Soldado Gaúcho e levado para o alto de uma duna, onde ficaria a salvo da maré.

O Soldado Paulista tiritava de frio quando o Soldado Gaúcho tirando seu próprio capote colocou sobre o paulista para que agora o mesmo não morresse de frio.

Foi um momento comovente, homens que lutavam um contra o outro tiveram um interregno de paz e neste momento começaram a conversar.

No escuro daquela noite disse o Soldado Paulista que, apesar de ter tomado a causa Paulista ele era do Rio Grande do Sul, de onde ainda um menino de 17 anos havia rumado para São Paulo, pois pertencia a uma família pobre do Rio Grande, vindo para São Paulo atrás de nova vida e novas oportunidades, pois São Paulo já era um estado de uma indústria sólida e em crescimento, e que achava a causa Paulista justa.

O Soldado Gaúcho quis saber mais e perguntou ao Paulista de qual cidade do Rio Grande ele era esforçando-se para ver sob o manto escuro da noite o rosto daquele “Paulista”.

O Paulista respondeu que era de “tal” cidade, coisa que deixou o Soldadinho Gaúcho mais interessado, pois era a sua cidade.

Quis saber então o nome e sobrenome do Soldado Paulista, oito ou nove anos mais velho que ele.

Ao dizer o seu nome e sobrenome, um sobressalto tomou conta do Gaúcho, momento em que emocionado já que era de mesmo sobrenome e de mesma cidade perguntou quase engasgado quem eram os pais do então Paulista por adoção.

Ao dizer o nome dos pais, o Soldado Gaúcho chorando de emoção abraçou o Soldado Paulista que nada estava entendendo, momento em que entre lágrimas e sorrisos o jovem Soldado Gaúcho disse:

- Tu és meu irmão.


E os dois emocionados entre sorrisos e lágrimas, haviam no breu daquela noite, por um motivo tão violento se encontrado após mais de dez anos de separação.

            Esses dois veteranos nada têm a ver com a história
              apenas serviram como ilustração, mas foram 
             também heróis defensores da democracia. 


Tal entrevista jamais saiu de minha memória e comovido estou a relatar para que se alguém tiver qualquer informação mais precisa venha a relatar esta verdadeira história, parece que tirada de um conto de fadas para que ela não seja esquecida e permaneça para sempre mostrando que as guerras, por mais justas que possam ser, põem irmão contra irmãos e feliz foram esses dois combatentes de lados opostos, mas que o sangue e o amor falaram mais alto.




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