Assistindo na televisão um
noticiário, vi a Parada o Orgulho Gay, junto comigo estavam minha mulher e minha
filha.
Na hora, quase que
uníssonos, dissemos que deveríamos organizar uma Parada semelhante.
E de imediato minha filha sugeriu
um nome, Primeira Parada Canoense do Orgulho Hétero.
- Boa ideia.
Seria bonito andarmos pelas
ruas, com carro de som, os filhos, amigos e parentes com suas respectivas
esposas, noivas e namoradas. Seus filhos e netos numa grande e festiva
caminhada enaltecendo o orgulho Heterossexual. Afinal somos fruto disto.
Lindo. Porém sem purpurina,
nem lantejoulas.
- É isto aí – Disse quando
soube o meu filho – Eu e minha mulher apoiamos e vamos ajudar a organizar.
O outro filho quando soube
já disse:
- Pai eu tenho um grande
caminhão e sobre ele podemos botar a Bandinha do Fritz, que é nosso amigo e
festeiro.
- Boa ideia, a Bandinha do
Fritz é sensacional.
Telefonemas e conversas aos
Pés de Ovídio.
Opa! Desculpem! Esta frase
foi corrompida com o tempo e como muitas outras mudou e tornou-se "ao pé do ouvido", e juntamos mais
de quinhentos nomes.
Minha filha então, como é
muito organizada resolveu e lançou tudo no computador. Duas semanas depois ela
me mostrou a enorme lista de nomes, eram mais de mil.
E isto que fizemos só na
base da conversa, sem imprensa, sem estardalhaços. Apenas na base da amizade.
Tudo organizado.
Falta agora marcar a data.
Minha mulher muito atilada
sugeriu que deveríamos fazer em um dia que marcasse bem. E após considerar os
prós e contras vimos que seria o melhor dia para a Primeira Parada Canoense do Orgulho HETERO, na tarde do dia de São
João.
Êba! Êba!
Reunimos imediatamente com
três comissões já organizadas e partimos para os finalmentes.
Uma das Comissões sugeriu
que a concentração fosse feita na Pracinha, local central e de fácil acesso.
Ao meio dia da tarde marcada
já estava no local o Caminhão do som, já com a Bandinha do Fritz fazendo o
maior estardalhaço. E dê-lhe polca.
Subi com relativa facilidade
no enorme caminhão e juntamente com meus filhos fomos testar o equipamento de
som, e foi aquele sonzão.
Já estava a praça sendo
tomada por uma multidão, e todos vestidos normalmente, pois a comissão de adereços achou que como a Parada do Orgulho Gay é coloridas, cheios de plumas e
paetês, nós da Primeira Parada Canoense
do Orgulho HéTERO, deveríamos ser discretos no vestir.
Estava a coisa mais linda.
Os homens vestidos a caráter com suas esposas e filhos sem muitos apelos
chamativos. Alguns até com trajes dos anos 20.
Mas também vi gente de calça
de brim e camiseta regata, outros todos de preto e quase todos com faixas
enroladas e cartazes.
O Presidente da Comissão de
Divulgação, que pouco fizera, pois tudo havia corrido ao natural, pediu então
que o pessoal fosse desenrolando as faixas e cartazes diante do caminhão que
era para que as comissões e o grupo Organizador vissem o que sairia junto para
dar o nosso recado do Orgulho Hétero.
As primeiras a mostrarem
suas faixas foram duas colegas de uma de minhas noras
.
“A
baixo a pouco vergonha de mulher ficar com mulher”
E veio outra faixa.
“Pena
de morte aos que defendem o casamento gay”
E mais e mais foram sendo
mostradas:
“Um
gay morto é menos um gay no Mundo”
“Casamento
gay é a vergonha para todos”
“Deus
odeia Gays”
“A
família homem e mulher é coisa divina”
“Os
gays irão para o inferno”
Meus filhos, minha filha,
minhas noras, meu neto, minha mulher e eu ficamos atônitos e o pessoal das
Comissões também.
E todos embasbacados se
entreolharam.
Mas de súbito peguei o
microfone e comecei a falar:
- Pessoal! Vocês entenderam
mal o motivo deste evento. Ele foi organizado para ser a Primeira Parada Canoense do Orgulho Hetero e não para ser um
estopim de ódio e discriminação.
- Nós, meus amigos, estamos
aqui para dizer que somos heterossexuais, porém não temos ódio de homossexuais.
Nos somos civilizados. E muitos que acreditam e falam em deus trazem inclusive
faixa com a palavra deus escrita, cheias de preconceitos e ódio.
- É isto que vocês acham que
é o deus de vocês. Recriminador, discriminador, odioso, violento, desamoroso, fascistóide,
mau, insensível, sórdido, rancoroso, preconceituoso.
- Não!
- Minha família quando pensou
nessa Parada foi para dar outro recado.
- O da tolerância.
- Do amor.
- Da compreensão.
- Do carinho.
- Da civilidade.
- Da Igualdade.
- Da dignidade.
- Não precisamos ser
violentos, odiosos, para sermos héteros, isto deixamos para os trogloditas,
arruaceiros, assassinos e outros bandidos.
- Temos orgulho de sermos
héteros porém não odiamos ninguém, não recriminamos, não discriminamos. Pois
todos são iguais. Todos são humanos.
- Se eles vivem com amor, é
problema deles. Porém marido que agride, desfigura, assassina a própria mulher
é sim problema nosso.
- Quantos casais héteros
vivem brigando, se agredindo, num desamor de fazer chorar.
- Para ser hétero não precisa
ser um animal irracional.
E conforme falava o povo ia
jogando em um grande terreno baldio as faixas e cartazes e iam para as suas
casas em silêncio e em minutos poucos restavam na praça.
Minha família e uma dúzia de
amigos.
No terreno baldio ficou
aquela montanha de paus e panos, foi quando o Fritz disse:
- Seu Pedrrro!
Seu Pedrrro. Eu fica faiz pensando e tive um ideia meio maluco.
- Em feiz do xente ir emborra para cassa, ver televisón e ainda ter
que lavar o louça para a frau Guerda, nóis famos organizei um fogueirrón de São
Choão com esse montón de lixo que sobrei do nosso falido Parrrada...
- Oh Nêne!
Como é mesmo que se diiz. Hetéro, Heteró. Eu não sabe falei esses palavrra difícil.
E a noite sob o brilho das
estrelas, minha família e nossos amigos civilizados, mais a Bandinha do Fritz
fizemos uma bela noite de São João, onde não faltou amizade, compreensão,
carinho, humanidade, fraternidade, civilidade, urbanismo, e ninguém, mas
ninguém mesmo estava com ódio, arrogância, discriminação, violência ou qualquer
outro tipo de maldade no coração. Brincamos e nos divertimos sem ódios.
E no frigir dos ovos queimamos todas aquelas porcarias feitas com tanto ódio.
- Olha Seu
Pedrrro, até uma parril di chopps a xente conseguiu parra a nosso festón de São Choão.
Que bom se o mundo fosse verdadeiramente humano, mas ele só é humano na ficção.
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