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sábado, 28 de junho de 2025

CABO x CAPITÃO - 9° RI - 9° BIMtz

 


Por longos anos servi ao Exército, no antigo 9º Regimento de Infantaria, sediado em Pelotas, RS e tão logo fui promovido a simples Cabo, Cabo Contador, fui designado para a função de “datilógrafo” do Boletim Interno e meu setor de trabalho passou a ser a 1ª Seção ou Casa da Ordem. 

                                        

Ao lado da Casa da Ordem ficava a Secretaria do Regimento, chefiada por um Capitão, que seguidamente era trocado, devido à promoções ou transferências.

Anos depois em um belo dia conheci uma “moça” linda na praia do Laranjal e começamos um namorico, que com o tempo evoluiu e passamos  a ser verdadeiramente amantes. A primeira vez que tivemos relação foi na própria praia, entre o Laranjal e o Barro Duro. Maravilha.

Uma tarde passeava com ela pela Avenida que margeia a Praia do Laranjal e sob a sombra de uma árvore avistei o Capitão Secretário, sentado com a esposa e duas meninas-moças, ao nos  ver o referido Capitão levantou-se e caminhou em nossa direção, parando altivo, de braços cruzados  ao lado de um automóvel olhando-nos com o cenho fechado.

Ao passar olhei-o nos olhos e o cumprimentei com um gesto sutil da cabeça enquanto ela, sem jeito abaixou a cabeça numa atitude estranha.

Logo que passamos pelo Capitão, a ela perguntei o que houve para ela ter mudado drasticamente de atitude.

Então ela me contou que aquele Capitão é que a mantinha, dando-lhe tudo, inclusive pagando sua Faculdade, apartamento, roupas e outros gastos pessoais. Eram amantes há muito tempo.

No outro dia, Segunda-feira, logo após o almoço me encaminhava para a Casa da Ordem e quando ao passar pela porta enorme da Secretaria ouvi um berro do Capitão chamando-me:

- TEIXEIRA!

Teixeira era o meu nome de guerra.

Tranquilamente adentrei à Secretaria aonde estavam sentados os Sargentos Figueira e Garrido e diante da mesa do Capital, perfilado, bati-lhe continência, vendo em cima de sua mesa o Regulamento Disciplinar do Exército aberto, pois o mesmo tentava me enquadrar em algum artigo e ele em voz alta me disse:

- TEIXEIRA, SABES QUE EU POSSO TE BOTAR NA CADEIA?

Calmamente, mas em tom seco respondi.

- MEU CAPITÃO, SEI DISTO, MAS SEI TAMBÉM QUE NEM O SENHOR, NEM O CORONEL COMANDANTE DO REGIMENTO, NEM O MINISTRO DO EXÉRCITO, NEM MESMO O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, QUE É UM GENERAL PODERÃO ME PRENDER SE NÃO ESTIVER AGRACIADO NESTE LIVRO. Apontando para o regulamento, mais conhecido como R/1.

E sem nada mais a dizer ou ouvir pedi licença ao Capitão para me retirar.

Bati os calcanhares, fiz a meia volta, abri marcha, como era regulamentar na época e saí da sua presença sem ao menos esperar sua permissão e de soslaio olhei aos dois Sargentos estáticos, que me olhavam atônitos.

Quando entrava na Casa da Ordem, ouvi passos pesados e rápidos no corredor, virei-me e vi o Capitão bufando descer as escadas.

Entrei na sala espaçosa onde funcionava a 1ª Seção ou Casa da Ordem cumprimentando os Sargentos Ariano Rodeghiero, Raul Rocha, Adroaldo dos Anjos e os Cabos Darci Bruno e Elomar Acosta e os dois Soldados que prestavam serviços de ordem, momento em que me chamaram à porta, virei-me e era o Sargento Figueira.

Atendi rapidamente e ele foi logo perguntando o que tinha acontecido para o Capitão ficar tão furioso, esmurrar a mesa e sair da Secretaria como uma fera.

Pensei um pouco, pois odeio fofocas, mas resolvi contar ao Sargento o ocorrido, não ficando assim qualquer mal entendido comigo, que jamais havia sido admoestado daquela forma abrupta por qualquer militar.  

                                          REGIMENTO TUIUTI : 9º BIMtz comemora 175 anos de criação | Diário da Manhã

Na manhã seguinte já ao entrar ao Portão das Armas, ao bater continência ao Soldado sentinela esse disse:

- Aí Cabo, comeu a mulherzinha do Capitão?

O Sargento da Guarda, que já estava com ela em forma à espera da chegada do Coronel Comandante foi logo me indagando sobre o ocorrido. Mais adiante dois Segundos Sargentos vieram me interrogar sobre o fato e ao longo daquela avenida central fui interpelado por mais Cabos, Sargentos, Aspirantes e Tenentes.

Ao chegar à minha Companhia, a CC/1, a última da avenida central do Regimento, dois Aspirantes R/2, o Sargenteante, Sargentos e Cabos me cercaram para saberem da história. Ou seja, a história correu como fogo em palha e todos no Regimento já estavam sabendo do Cabo que faturou a amante do Capitão. Como dizem no Nordeste faturou a “Teúda e Manteúda do Capitão”.

Mais de vinte anos após, um Tenente que havia comigo servido ainda como Sargento, de nome Nadir, em uma Empresa Estatal Federal onde trabalhávamos juntos veio me indagar sobre o fato.

O tempo passou, mas a memória está viva, foi e ainda é hilária a história de um simples Cabo Contador que faturou a amante do Capitão, pedante e turrão.

 

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