Este Post tem o fim informar como foi à tortuosa aceitação dos alemães ao povo brasileiro, pois até o final da Segunda Guerra Mundial, provocada por eles muitas coisas ocorreram não só no Brasil como em vários outros países para onde migraram, racismo, agressões de ambas as partes, muita dor e sofrimento, porém boa parte destes colonos alemães não carregava a mácula do racismo e se integraram as sociedades que os receberam.
Corridos porta afora do que se alinhavava ser a futura Alemanha, que só surgiu tardiamente em 1871, um dos últimos Estados Nacionais do Mundo a se formar no século XIX, muitos alemães esparramaram-se pelo planeta, literalmente varridos de sua terra, daquilo que era um amontoado de cidades sem característica de um verdadeiro Estado, pois não serviriam a ela ou foram corridos pela fome que os assolava e pelas constantes guerras que eles próprios eram os protagonistas, com muitos deles vindo bater os costados no Brasil a partir de 1824, radicando-se primeiramente na cidade de São Leopoldo, no meu Rio Grande do Sul e aqui foram recebidos de braços abertos e receberam graciosamente lotes de terra, formando suas colônias.
Esses famélicos e iletrados vinham na condição de agricultores, porém a maioria sequer sabia a diferença de uma enxada para uma pá, e aqui foram ensinados a plantar e colher pelos nossos índios e outros brasileiros, porém trouxeram em seu cerne a mácula repugnante do racismo. Um racismo odioso que ainda é notado não só no Brasil.
Achavam-se os tais. E tão logo aqui chegaram já começaram a cuspir no prato que os alimentaria.
Além disso, foram muito mal agradecidos aos brasileiros, pois desde o início mostraram-se racistas, prepotentes e odiosos, que negam até hoje serem brasileiros, pois sempre dizem ser “alemóm”. Mesmo que nestes duzentos anos de Brasil tenham apenas uma pessoa de origem alemã em sua família e os demais sejam negros, índios, Gaúchos, Birivas, portugueses e espanhóis, dirão com soberba serem alemães puros. Como se houvesse pureza de raça.
É tão odioso esse racismo que alguns dizem abertamente odiar latinos americanos, não sabendo esses racistas imbecis que eles também são latino americanos, pois essa denominação refere-se ao idioma que é falado e não a uma suposta raça. Idiomas latinos americanos são o Espanhol, o Português e o Francês.
Mas a hipocrisia e a ignorância são tão grandes, que mesmo se dizendo alemães, pilcham-se a moda Gaúcha e por não terem referência de nação dizem-se Gaúchos. Bem, aí e de morrer de rir, pois não sabem que Gaúcho é um amálgama único de Ibéricos, notadamente o espanhol e Índios pampeanos, sejam Charruas, Minuanos ou outros.
Mesmo sendo ensinados aos cultivares das terras brasileiras, pois desconheciam muitas coisas como o feijão, o milho, a mandioca, arroz, melancia, cana e outros produtos, assim mesmo continuaram a nutrir um ódio visceral pelos brasileiros. A ponto de chamarem os brasileiros brancos de negros, com eu e minha família éramos assim chamados nos anos 70 por esses racistas, pois morávamos entre eles, como se isto fosse nos ofender e por sua vez chamarem os negros de brasileiros, por puro ódio e racismo.
Odiavam os brasileiros, aliás, odiavam todo o mundo como ficou explicito nos anos 20, 30 e 40 do Século XX, quando a maldade desse povo foi externada de maneira bárbara, demoníaca, cruel e desumana, uma vergonha para a humanidade, o que levou ao extermínio de milhões de pessoas, sendo seis milhões de judeus, 26 milhões de soviéticos entre dezenas de outros povos, como Poloneses, Iugoslavos, romenos e franceses. Mas todos criam em deus. Baita hipocrisia própria de quem acredita.
Muitos negam as atrocidades que fizeram, afinal foram derrotados vergonhosamente, mas muitos guardam ainda toda a prepotência, ao ponto de tudo que for alemão para eles ser melhor, e muitos continuam arrogantes, antipáticos, pedantes, afetados e petulantes.
Vovô Lourival da Rosa TeixeiraMeu Avô o Professor Lourival da Rosa Teixeira recebeu a incumbência da Intendência de Pelotas, hoje Prefeitura, para alfabetizar esses apátridas no interior daquele Município, durante a Segunda Grande Guerra, quando essa “alemoada” andava mais assanhada que guria em festa de quinze anos, para tal vovô aprendeu a falar e escrever o pomerano, que era a língua desses infelizes jactanciosos, presunçosos e cheios de ódio.
Transferiu-se então para a colônia de Santa Silvânia, onde sofreu agruras, muitas vezes tendo que dar suas aulas guarnecido por policiais da Brigada Militar, pois a “alemoada” não queria um brasileiro dando aulas para os seus filhos iogurtes, ou seja, bancos, pálidos e azedos que eram criados dentro do mais cruel racismo e se vangloriavam disto.
Abro aqui um espaço para um interregno ou interlúdio hilário, no meio deste barbarismo:
Por volta do ano de 1950, o Repórter Esso, na voz inconfundível de um descendente de alemães, um homem digno, honesto, humano, que destoava da maioria desse povo, que já naquela época era filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), de nome Lauro Hagemann anunciava as últimas noticias sobre a pouco acabada Segunda Guerra Mundial, e dizia:
- “ATENÇÃO! ATENÇÃO! PENSILVÂNIA (?) NOVA IORQUE (?). O Secretário Geral das Nações Unidas...”.
Eu ouvia com toda a minha atenção de gurizinho Pensilvânia (???) e aquilo ficava martelando em minha cabeça.
Pensilvânia. Pensilvânia.
Quando em vez meu vovozinho o Professor Lourival aparecia lá por nossa casa e eu exultante corria para recebê-lo, afinal meu vovozinho vinha dos Estados Unidos da América, do outro lado do mundo para nos visitar.
Só depois mais crescidinho é que fui entender que meu avô morava em Santa SILVÂNIA, uma “colôniazinha” alemã no interior de Pelotas e não em PENSILVÂNIA.
Oh dor! Oh Dor!
Nos anos 1990 inicio dos anos 2000 recebi várias vezes Lauro Hagemann em minha casa e demos muitas risadas quando a ele contei esse episódio.
Em 2015 perdíamos esse grande homem, esse grande brasileiro, nascido em 1930, que com sua voz inconfundível levantou o Rio Grande do Sul, em 1961, na Campanha da Legalidade, ao lado do Governador Leonel de Moura Brizola, evitando assim um sujo Golpe Militar que tentava assumir o poder e que daria fim mais uma vez à democracia. A esse brasileiro, de origem alemã, de Cachoeira do Sul, os verdadeiros patriotas têm muito a agradecer.
Vovô Lourival, homem de fala mansa, educado e de uma cultura invejável ficou muitos anos ensinando aqueles rudes colonos racistas aos fundamentos de nosso idioma, pois era especialista em língua portuguesa. Sofreu muito no meio daquela “alemoada”, mas muitos doutores que um dia se formaram e saíram daquelas bibocas, aprenderam com meu avozinho, um homem meio índio, meio português, que soube educar aqueles racistas maus e odiosos para vida. Graças a meu avozinho, falando pomerano, conseguiu ensinar muitos alemães racistas a se darem bem na vida coisa que não aconteceria se tivessem ficado “no” Alemanha, pois teriam “morido” em “algum” “guéra”.
Hoje na Alemanha não há mais o idioma Pomerano, pois três das quatro Pomerânias pertencem à Polônia, sendo que muitos filólogos ou filologistas (especialista em línguas) vem ao Brasil à procura dos que ainda falam o pomerano para enriquecer seus conhecimentos e os encontram principalmente nos Estados de Rondônia, Paraná, Santa Catarina e no meu Rio Grande do Sul.
Meus eternos agradecimentos ao povo soviético que sofreu agruras, mas venceu a maldita Alemanha Nazista e se alguém me perguntar se os alemães nazistas pagaram pelos seus crimes, com certeza direi um enorme...
Não!!!
Mesmo muitos alemães racistas tenham sido linchados, lojas e fábricas destruídas pela população brasileira durante e depois da guerra, foi pouco, muito pouco. E o pior é que muitos continuam racistas, viscosos, odiosos, prepotentes, sempre prontos a uma palavra de menosprezo. Enfim, nada aprenderam, continuam cheios de soberba, maldade, sordidez e ódio.
Minha mãe sempre nos contava que estando a fazer compras em um Armazém ouviu de uma “Alemoa” ignorante e racista a seguinte frase:
- “Nós fai ganha o guéra e famo botei tudo que é brasileiro a puxarrr caroça”.
Ou seja – nós vamos ganhar a guerra e vamos botar todos os brasileiros a puxar carroças.
O que adiantou...
Perderam.
E perderam para os Russos que eram chamados de sub-raça.
Frederico Schwantz
Porém com o passar do tempo a maioria mudou sua forma de ver os outros, de ver o mundo e se transformaram em verdadeiros brasileiros, bravos, peleadores, educados como Lauro Hagmann, meu amigo; Frederico Schwantz, meu padrinho; Vital Porep, meu amigo, meu irmão, meu camarada que entrou para a nossa família em 1953 e com o qual, sendo um verdadeiro irmão mais velho muito aprendemos; Antônio Augusto Ruschel, a quem muito agradeço; Ari Malmann, velho amigo, como tu poucos foram; o escritor Jorge Fischer, meu camarada e por falta de espaço e muito tempo deixo de citar milhares de outros. Todos esses já partiram, mas deixaram fascinantes recordações.
Com o amigo Vital Porep.