Um
ateu, assim como Dráuzio Varela, Monteiro Lobato, Jorge Amado, Chico Buarque,
Caetano Veloso, Lima Duarte e tantos outros, que são pessoas boas e honestas,
mas não creem em deus, pois nada devem, já que quem muito deve são aqueles que
vivem orando e pedindo coisas, saiu pelo mudo à procura de algumas respostas às
suas inúmeras dúvidas.
Dúvidas quanto o Universo, quanto às doenças, quanto o
bem-estar dos povos, sobre igualdade, sobre justiça social e felicidade, entre
milhares de outras dúvidas próprias de um ateu, que está sempre preocupado com
o próximo, pois são cooperativos, educados, auxiliam a quem necessita que se
preocupam com a fome e milhões vivem passando fome e gostaria que ela não
existisse e que a sociedade fosse justa e igualitária.
Ao
passar perto de uma Sinagoga lembrou-se então da resposta de um Rabino que ao
ser perguntado sobre o que um crente e um ateu fazem ao serem interpelados por
um mendigo pedindo caridade:
- Disse
o Rabino que o ateu tirará do bolso algumas moedas e dará ao infeliz para que
ele compre algum alimento, já o crente apenas dirá: Deus vai te ajudar. Virará
as costas e seguirá seu caminho.
Nessa
longa caminhada o ateu encontrou um homem e a este perguntou se ele acreditava
em deus, e o homem, apresentando seriedade e inteligência respondeu que
acreditava, mas acreditava no deus de Spinoza:
Surpreso
o ateu disse ao educado cavalheiro que já havia lido sobre Baruch de Espinoza,
nascido Benedito de Espinoza, (1632-1677) e que foi um dos grandes racionalistas e
filósofos do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, ao lado de René
Descartes e Gottfried Leibniz e completou dizendo saber quem é o deus de Spinoza e sei também que esse
deus é diferente do deus dos Cristãos, porque esse deus diz:
Pare de ficar rezando e batendo no peito!
O que quero que faças é que saia pelo mundo e desfrute a
vida. Quero que goze, cante, divirta-se e aproveite tudo o que fiz pra você.
Pare de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que
você mesmo construiu e acredita ser a minha casa!
Minha casa são as montanhas, os bosques, os rios, os lagos, as
praias, onde vivo e expresso amor por você.
Pare de me culpar pela sua vida miserável! Eu nunca disse que
há algo mau em você, que é um pecador ou que sua sexualidade seja algo ruim. O
sexo é um presente que lhe dei e com o qual você pode expressar amor, êxtase,
alegria. Assim, não me culpe por tudo o que o fizeram crer.
Pare de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm
a ver comigo! Se não pode me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de seus
amigos, nos olhos de seu filhinho, não me encontrará em nenhum livro.
Confie em mim e deixe de me dirigir pedidos! Você vai me
dizer como fazer meu trabalho?
Pare de ter medo de mim! Eu não o julgo, nem o critico, nem
me irrito, nem o incomodo, nem o castigo. Eu sou puro Amor.
Pare de me pedir perdão! Não há nada a perdoar. Se eu o fiz,
eu é que o enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de
necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso culpá-lo se
responde a algo que eu pus em você? Como posso castigá-lo por ser como és, se
eu o fiz?
Crê que eu poderia criar um lugar para queimar todos os meus
filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que Deus faria
isso?
Esqueça qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei,
que são artimanhas para manipulá-lo, para controlá-lo, que só geram culpa em
você!
Respeite seu próximo e não faça ao outro o que não queira
para você! Preste atenção na sua vida, que seu estado de alerta seja seu guia!
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no
caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é só o que há
aqui e agora, e só de que você precisa.
Eu o fiz absolutamente livre. Não há prêmios, nem castigos.
Não há pecados, nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro.
Você é absolutamente livre para fazer da sua vida um céu ou um inferno.
Não lhe poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso
lhe dar um conselho: Viva como se não o houvesse, como se esta fosse sua única
oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não houver nada,
você terá usufruído da oportunidade que lhe dei.
E, se houver, tenha certeza de que não vou perguntar se você
foi comportado ou não. Vou perguntar se você gostou, se se divertiu, do que
mais gostou, o que aprendeu.
Pare de crer em mim! Crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu
não quero que você acredite em mim, quero que me sinta em você. Quero que me
sinta em você quando beija sua amada, quando agasalha sua filhinha, quando
acaricia seu cachorro, quando toma banho de mar.
Pare de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra
você acredita que eu seja? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que me
agradeçam. Você se sente grato? Demonstre-o cuidando de você, da sua saúde, das
suas relações, do mundo. Sente-se olhado, surpreendido? Expresse sua alegria!
Esse é um jeito de me louvar.
Pare de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que
o ensinaram sobre mim! A única certeza é que você está aqui, que está vivo e
que este mundo está cheio de maravilhas.
Para que precisa de mais milagres? Para que tantas explicações?
Não me procure fora. Não me acharás. Procure-me dentro de você. É aí que estou,
batendo em você.
O
homem sorriu e disse ao ateu que ele estava correto, pois este é o meu deus.
Porém tenho uma dúvida: Se errarmos e cometermos um mal qualquer, seja um
roubo, um assassinato ou qualquer outro deslize, esse deus nos punirá?
O
ateu sorrindo balançou a cabeça e disse ao homem que NÃO, pois para isto
existem as leis dos homens, que se bem aplicadas punem o infrator, mas não o
pune eternamente, pois seria uma aberração.
Alegres
despediram-se e cada um foi para seu destino, a vida. A vida cheia de graça e
beleza que está aí para ser bem aproveitada por todos.
O
homem foi-se feliz tendo no coração o deus de Spinoza e o ateu continuou ateu
pensando no que realmente tem valor são as leis dos homens, pois estas estão ai
para serem aplicadas, podem favorecer ou punir e seus pensamentos voaram e ele
se perguntou:
-
Se alguém quiser seguir a lei desse deus cristão fictício, como açoitar a
esposa, sacrificar o primogênito, apedrejar o filho comilão e beberrão,
apedrejar até a morte uma mulher adúltera ou um homossexual e tantos outros
absurdos que esse deus cristão manda, certamente será punido pelas leis dos
homens, pois essas são as que realmente têm valor. O resto é pura ilusão.
E
foi-se em seu caminho pensando no Deus de Spinoza, e a cada passo sorria e via
a beleza a sua volta, uma árvore florida, o gorjeio de um pássaro, a brisa
soprando em seu rosto e assim se foi, leve e livre das aberrações bíblicas.
Feliz por ser ateu como Jodie Foster, Jack Nicholson, Oscar Niemeyer, Pablo
Picasso, Antônio Fagundes e Angelina Jolie, Bill Gates, Charles Chaplin, Luís
Fernando Veríssimo, Malu Mader, entre milhares de outros.