Na Secretaria do antigo 9º Regimento de Infantaria,
trabalhavam além do Capitão Secretário, um Segundo Sargento e um jovem e
competente Terceiro Sargento.
Terceiro Sargento.
O referido Terceiro
Sargento, jovem magro, pele morena, cabelos negros e lisos, era de uma simpatia
muito grande, apesar de ser sério e levar o serviço acima de qualquer coisa.
Mesmo não sendo sua
obrigação, o referido Terceiro Sargento preparava os Requerimentos de
Engajamento dos Aspirantes-a-Oficial, e procurava um a um para que esses assinassem tal documento o qual ele mesmo já protocolizava(*) e dava andamento
no processo de engajamento, coisa que é rigorosa, onde o militar tem um prazo
máximo para dar entrada nesse documento, caso queira continuar na carreira
militar. O atraso de um dia na entrega desse Requerimento faz com que o Militar
seja exonerado em 30 dias, chova ou faça sol. Não há como reverter. É por que
é, e ponto.
Havia sempre no Regimento um
número grande de Aspirantes, principalmente os oriundos do NPOR, Núcleo de
Preparação de Oficiais da Reserva, sediado em Pelotas, que na época poderiam servir até no máximo quatro
anos (?) no posto de Segundo Tenente se aprovados no estágio.
Aspirante-a-Oficial.
Pouquíssimos eram os
Aspirante-a-Oficial procedentes da Academia Militar das Agulhas Negras, tanto
que no período em que servi nessa Unidade passaram por ela apenas seis
Aspirantes oriundos da famosa AMAN. Esses por seu turno podem galgar as mais
altas patentes, muitos dos quais chegam ao Generalato.
Por saberem que o Terceiro
Sargento era pontual, muitos Aspirante nem se preocupavam com seus
requerimentos, pois sabiam que o Terceiro Sargento faria com presteza o serviço
e não deixaria passar da data. Isto era de conhecimento geral.
Certa vez, ano 70, estava
este Sargento de Serviço em sua Companhia, a de Comando Regimental, mais
conhecida como CCS, na função de Sargento-de-Dia, o que não impedia exercer
suas funções junto à Secretaria.
Pouco antes do meio dia
desceu calmamente para a sua Subunidade, onde O Cabo-de-Dia já havia colocado a
Companhia em forma e feito a chamada dos Soldados que iriam almoçar no quartel,
em forma e em passo cadenciado conduzi-los ao rancho. (refeitório).
Ali, as companhias eram
apresentadas ao Oficial-de-Dia, conforme fossem sendo chamadas ao toque de
corneta. Cada Companhia tem um toque específico.
Havia uma rígida ordem de
acesso ao referido Rancho.
Uma vez o Oficial-de-Dia
autorizasse, o Sargento-de-Dia dava ordem à companhia ir em direção ao Rancho,
e uma fila ordeira era formada, com os soldados com suas bandejas de alumínio
iam para receber a boia, que era excelente na época.
A fila de soldados ia
passando pelas enormes panelas, aonde os soldados do Rancho iam servindo a
farta e variada refeição. Os Sargentos, Cabos e Soldados que trabalhavam no
Rancho eram de gozação chamados de graxeiros.
Ao chegar junto as grandes
panelas o referido Sargento, como de praxe juntou-se aos demais Sargentos-de-Dia
até que toda sua Companhia fosse servida, nesse local os Sargentos-de-Dia de
diversas companhia ficavam em um grupo conversando, entre os quais havia alguns
Cabos que executavam o serviço de Sargento-de-Dia.
Sargentos e Cabos ficavam
conversando e logo após os Sargentos iam para seu Cassino (refeitório) almoçar.
Um Aspirante-a-Oficial R/2,
que desempenhava a função de Oficial Aprovisionador, a todos observava, e
ninguém a ele dava atenção, pois era um homem amargo, ruim, antipático, protagonizador
da história hilária e cruel, publicada anteriormente com o título “Aspirante X
Subtenente – A Virada de Mesa”.
O Terceiro Sargento em
questão saiu do grupo e como todos faziam aproximou-se de um enorme panelão
cheio de bananas que eram distribuídas à vontade aos Soldados na hora do rancho, e pegou
uma para comer, centenas dessas bananas muitas vezes, por estragarem eram
levadas em um carroção da granja para alimentar porcos.
O Oficial Aprovisionador num
pulo tirou a banana da mão do Terceiro Sargento, jogou-a com violência dentro
da panela e disse com aspereza.
- Se quiseres comer banana,
vá pegar lá no teu Cassino.
Tanto faz, todas as bananas
pertenciam a União, portanto o Aspirante assim procedeu por puro autoritarismo,
ódio e antipatia que nutria por todo o mundo.
Sargentos e Cabos que ali estavam
juntamente com o referido Terceiro Sargento dirigiram-se em silêncio para
dentro do Rancho aonde os Soldados almoçavam e ali permaneceriam até o último
Soldado de suas Companhias acabarem de almoçar.
Nenhum Sargento de Dia falou nada, e chateados todos os Sargentos e Cabos apenas
se entreolharam. O educadíssimo Terceiro Sargento cabisbaixo ficou em silêncio
em um canto do Rancho, sequer foi para o seu Cassino almoçar de tão
constrangido que ficara.
Passada uma semana adentrou
à Secretaria do Regimento o tal Aspirante Aprovisionador, como uma fera,
bufando e nervoso.
Ao entrar estavam apenas
nesta Seção, o Segundo e o Terceiro Sargento, e o Aspirante foi direto ao
Terceiro Sargento e perguntou:
- Por que tu não fizeste o
meu Requerimento de Engajamento que expirou ontem:
O Terceiro Sargento calmamente
olhou para o “Aspirina” e respondeu que não era de sua obrigação fazer tais
Requerimentos, isto é de obrigação do militar interessado.
- Mas tu fazes pra todo o
mundo. – Disse o Aspirante.
O Sargento respondeu que
sim, mas não era sua obrigação e que se o Aspirante achasse que era obrigação
dele que comunicasse ao Comando, pois o regulamento é óbvio e claro.
O Aspirante, nervoso, pois
perdera o prazo de solicitar o engajamento, disse:
- E agora o que é que eu vou
fazer.
O Segundo Sargento que a
tudo assistia, e que já havia sido inteirado do que acontecera no Rancho,
disse:
- Nada Aspirante, não é
obrigação do Terceiro Sargento, a obrigação era sua, e em trinta dias o senhor será
excluído do serviço militar e pronto.
O aspirante, relutante, sem
saber o que ia fazer, pois precisava continuar por mais um tempo no Exército,
pois estava na Faculdade cursando Direito, recém-casado e cheio de contas a
pagar, balançou a cabeça e em desespero virou-se para sair, quase chorando.
Neste momento o Terceiro
Sargento chamou:
- Senhor Aspirante!
Este junto à porta virou-se
e com os olhos vermelhos olhou com ódio para o Terceiro Sargento que lhe disse:
Banana de ouro.
- Aquela banana que o senhor
arrancou de minha mão, foi a mais cara banana de toda a sua vida.
O Aspirante engolindo as
palavras e vermelho de raiva retirou-se em desespero.
Trinta dias depois seria
exonerado do serviço ativo do Exército.
Toma! Só para aprender!
(*) O verbo é Protocolar ou
Protocolizar.
Apesar da resistência de
muitos, as duas maneiras estão corretas:
Eu protocolo ou Eu
Protocolizo
Tu protocolas ou Tu
protocolizas
Ele Protocola ou Ele
protocoliza
Porém, apesar de não ser catedrático
em língua portuguesa sempre optei pela segunda forma, a qual acho a mais
correta.