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quarta-feira, 30 de julho de 2025

UM CASO INEXPLICÁVEL – 9° RI – 9° BIMtz.


 

Cabo Lautert, Cabo Cozinheiro que servia em uma Unidade em São Leopoldo, fora transferido para o 9° RI em Pelotas, sendo designado para a CC/1, Companhia de Comando do 1° Batalhão, Companhia que eu fazia parte do efetivo e no mesmo dia de sua apresentação, à tarde desci da Casa da Ordem e fui até minha companhia. Lá chegando notei que havia alguns Cabos conversando no quarto aos Cabos destinado e para lá me dirigi.

Ao entrar nesta dependência encontrei os Cabos Claúdio Roberto Ribeiro, Elomar da Silva Acosta, Veiga e um outro Cabo cujo nome não me lembro e todos conversavam com esse recém chegado Cabo Lautert.

Ao entrar naquele quarto o Cabo Elomar da Silva Acosta, recém-promovido que estava sentado em uma cama, rapidamente levantou-se, perfilando-se sendo seguido pelos demais., numa época que a disciplina era mais dura e eu como o mais antigo, a todo cumprimentei com a saudação militar. O Cabo Lautert que havia me visto horas antes na Casa da Ordem, estava sentado ao chão recostado a um armário, fez menção de levantar-se, mas rapidamente segurei-o pelo ombro para que o mesmo não se levantasse, cumprimentando-o, assim como aos demais.

Sem nada dizer aos demais cabos disse a esse novato no Regimento.

- “Me” relate uma estrada e um muro a sua frente cortando essa estrada. Como é essa estrada? O que você faria?

Sem nada entender, levantou-se e sob os olhares atônitos dos demais Cabos me relatou sobre a estrada, detalhes ao longo dessa, o muro e sobre uma grande e velha árvore caída atrás desse muro, que com alguma dificuldade o pulou e segui por aquela estrada e outros detalhes menores.

Enquanto ele contava, em minha mente foi se formando uma história muito triste e cheia de detalhes. Uma coisa incompreensível, o que me causava certo mal estar e ao terminar o seu curto relato a ele disse:

- Tu tiveste uma infância muito pesada e sofrida, teu pai bebia muito e quando, sob o efeito do álcool, te surrava muito e tua mãe também era muitas vezes agredida, mas sempre teu avô corria para te defender das agressões.  Era a tua proteção.  Aos teus 12 anos teu avô faleceu e tu ficaste sem teu amigo e protetor. Sentiste muito essa perda, pois o amavas muito e resolveste então sair de casa e passaste a viver pelas ruas fazendo serviços esporádicos que eram suficientes para viver, passando muitas necessidades. Entraste para o Exército e logo foste promovido. Hoje és casado e tens duas filhas, amores de tua vida. Lembre-se que elas são o motivo de tuas alegrias. ]Não bebas como fazia teu pai e não as maltrates, cuide bem delas e de tua esposa.

O Cabo chorando arriou-se novamente ao chão com o rosto entre as mãos. Passei-lhe a mão em sua cabeça, bati os calcanhares e ao me retirar, ele, com lágrimas nos olhos que corriam em seu rosto já naturalmente pálido, disse:

- Tudo o que o Senhor disse realmente aconteceu comigo. Impressionante como sabes de todos esses detalhes de minha vida.

Retirei-me daquele quarto sob os olhares atônitos dos demais Cabos, todos mais modernos e nunca mais falamos sobre esse sensível episódio.

Encontrávamos raramente em formatura, mas nunca mais tocamos no assunto. É sempre, é bom lembrar, que raríssimas vezes com ele falei, sendo que ele parecia evitar tais contatos.

São coisas inexplicáveis que fogem de nossa compreensão. Resolvi publicar essa história porque ontem à tarde contei esse episódio à minha companheira de mais de 50 anos, minha caríssima esposa, coisa que jamais fizera e me emocionei a tal ponto que, enquanto a ela relatava esse ocorrido, três ou quatro vezes tive que interrompe-lo devido a forte emoção que sentia.

Essas coisas inexplicáveis ocorrem com certa frequência que com o tempo passarei a relata-las neste espaço, lembrando a todos que nada disto tem a ver com religião, pois aos 9 anos de idade, na cidade de Pelotas, na Escola São Pedro do Fragata aonde estudava, mesmo sendo um menino, discuti com o Padre Jorge, professor de CATECISMO dessa escola e naquela época rompi com a Igreja, não fazendo nem a “primeira comunhão” que eu achava um total idiotice, tornando-me com o passar dos anos em um ateu convicto

"HÁ MAIS COISAS ENTRE O CÉU E A TERRA, HORÁCIO, DO QUE SONHA A NOSSA VÃ FILOSOFIA". Esta citação é do dramaturgo inglês William Shakespeare, mais especificamente da peça "Hamlet". 

Cachorros, cavalos e principalmente gatos, entre outros animais, que não tem religião alguma, sentem coisas que muitas vezes nós não conseguimos ver, entender ou explicar. Tinha um cachorro, de nome Jeff, nome dado por minha irmã mais velha, na época com 19 anos, em 1958 que era “apaixonada” pelo ator americano Jeff Chandler e esse cachorro, mesmo depois de morto, o ouvia correndo no corredor de nossa casa, mas nunca me assustava, pois Jeff era um amigão do peito.

 

 

 

 

Cabo Domingues X Sargento Domingues. 9° RI – 9°BIMtz -

Cabo Domingues era um militar sem muito elã, mas cumpria bem as ordens recebidas. Certa época foi indicado para assumir a vice-liderança dos Lixeiros, grupo de soldados que diariamente eram escalados para recolherem o lixo depositados em latões nos pátios das Companhias, sendo usado para tal uma velha carroça que era puxada pela soldadesca, sob a liderança  de um Cabo e de um Terceiro sargento.

O chefe deste serviço era o Terceiro sargento de mesmo nome, Domingues, que também era o fotógrafo oficial do Regimento. Os dois trabalhavam juntos, mas sabia-se que não eram simpáticos um com o outro.

Certo dia, não sei porque o Sargento Domingues foi duro e arrogante com o Cabo Domingues, inclusive o ofendendo e este num ímpeto brutal desferiu um potente soco no rosto do Sargento, fazendo-o cair ao solo desacordado.

Correria, enfermaria e sindicância. 

O cabo foi punido, porém não por ser um bom Cabo, mas por ser o outro uma porcaria de Sargento sua punição foi leve.

Tempos depois esse mesmo Sargento, quando promovido a Segundo sargento fora transferido para região de Santa Maria e lá desentendeu-se com um paisano em um bar e como era época de ditadura militar, achou que tinha o direito ou poder de  dar um tiro no cidadão civil e que nada lhe aconteceria.

O cidadão levado a um hospital não morreu, mas a punição veio rápida e para ele não ser expulso do Exército, houve por bem puni-lo com a pena máxima que não ultrapassasse os quatro anos, caso contrário seria expulso.

O pobre coitado, enquanto cumpria a pena foi remoendo o ódio e planejando então a morte daquele civil, já que ele havia cumprido anos na cadeira achou que se matasse o mesmo cidadão nada iria com ele acontecer, pois já havia pago antecipadamente  com quatro anos de cadeia.

SÓ NA CABECINHA DELE.

Logo, com muita ignorância e ódio, ao sair da prisão, armou-se e foi a procura do desafeto, matando-o.

Por sua ignorância e maldade, tomou na cola mais de 15 anos sendo então expulso do Exército.

A IGNORÂNCIA TE PUNE SEM COMPAIXÃO.

 

quinta-feira, 3 de julho de 2025

SEU MERDA - 9° RI - 9°BIMtz

Estava eu de Sargento de Dia, passara o dia e a noite anterior no Quartel dando Serviço na CC/1, Companhia de Comando do 1° Batalhão, serviço como sempre a contento e sem alteração.

Na manhã seguinte, antes da Formatura Diária, passaria o Serviço ao Terceiro Sargento N.F., este era um Sargento sem muitos brios, a meu ver, um zero à esquerda.

Nesta manhã, com a Companhia em forma, ao lado do Alojamento, passava o serviço a esse Sargento e esse fez uma critica inócua sobre a limpeza dentro do Alojamento lembrando que uma das coisas que mais exigia dos soldados era a limpeza da área da Companhia, mas ele, turrão em frente a Companhia quis chamar minha atenção e eu, Cabo velho não gostei da forma rasteira como ele se referiu, perguntei em voz alta em frente aos Soldados em forma:

- Quem és tu para falar assim comigo, SEU MERDA”.

Os Soldados em forma, juntamente com o meu Cabo de Dia e outros quatro Cabos levaram aquela pancada nos miolos, pois nunca haviam ouvido eu me referir a um superior hierárquico daquela maneira.

Ele sem jeito me fulminou com os olhos e de antemão sabia que o mesmo iria dar parte  minha no livro de alterações da Companhia. No mínimo eu seria punido, com prisão ou detenção.

Entretanto logo em seguida apareceu o Sargenteante, um Primeiro Sargento de nome Abrantes, apelidado de Rabanete  e o Tercereba, que já havia assumido o Serviço de Sargento de dia, lhe apresentou a Companhia, pois logo seria feita a Parada Diária.

Naquele ano a CC/1 estava colocada em primeiro lugar para receber o troféu de melhor Companhia em Ordem Unida, e o Comandante desta Subunidade, o Capitão Clerion Dias Faro queria logo o desfecho daquele certame, pois faltavam apenas dois pontos para a Companhia ser agraciada antecipadamente naquele torneio. Esse Capitão era de uma educação extremada que a todos tratava com atenção e respeito.

Em forma, todos agora ao Comando do Sargento Abrantes se dirigiu à frente do Prédio da CC/1 e ali a Companhia foi apresentada ao Capitão Faro.

De imediato, após uma rápida preleção do referido Capitão, à Companhia foi deslocada em passo cadenciado até o Pátio em frente ao Palanque Oficial, onde já estava além do Comandante, o Coronel Aloísio Alves Borges, todo o Estado Maior do Regimento que faria o penúltimo julgamento de Ordem Unida. Bastava para a Companhia ganhar dois pontos para sagrar-se Campeã.

A todo o momento o referido Sargento me olhava e gesticulava a cabeça, numa frontal ameaça. De fato iria dar parte de mim por tê-lo chamado de SEU MERDA.

Como sempre em formaturas eu entrava como Cerra fila, pois ficava atrás do último Soldado, verificando a disciplina e o alinhamento.

Regimento em forma, Banda de Música, Parada de Serviço pronta para assumirem seus postos logo após tal formatura. Enfim tudo pronto, arrumado e bonitinho.

O Coronel Aloisio, após a costumeira preleção deu ordens para que as Companhias se deslocassem para seus locais pré-determinados  para darem início à Parada Diária.

Em ordem começou o desfile das Companhias garbosas marcharam, em frente ao Palanque Oficial, porém quando a CC/1, minha Companhia passava briosa em frente ao Palanque e já com a possibilidade de ganhar o troféu, com o Capitão Faro à frente, logo atrás deles o Cabo José, também chamado de “pé-grande”, que era o militar mais alto da companhia e por seu tamanho era o Cabo Porta Estandarte, vinham os  Sargentos, Cabos e Soldados e eu bem atrás da Companhia, pois como já disse era o cerra-fila, ouviu-se um “berro” do Palanque:

- Por que esse Sargento está fora da formação? – Gritou o Coronel Aloísio.

De imediato o Capitão olhou rapidamente para trás e viu que o Coronel referia-se ao Sargento N.F., que marchava totalmente fora do alinhamento.

O Capitão continuou à frente da Companhia e logo ao passar do Palanque, pôs-se ao lado da Companhia e a conduziu ao pátio desta.

Ao chegar ao pátio da CC/1 o Capital mandou alto e esquerda volver, ficando a Cia de frente para  o seu PC e Sargenteação, quando o Capitão furioso disse alto e claro.

- Seu Merda! – referindo-se a tal Sargento, por tua causa não vamos ganhar antecipadamente o troféu.

Cabos e Soldados que durante a passagem de Serviço de Sargento de Dia, ouviram o que eu havia dito ao referido Sargento, alguns segurando o riso, discretamente olharam-me dando total razão.

Sem moral o infeliz nada fez assumindo sua “merdice” e eu saí incólume.