Eu
sou do sul,
É
só olhar pra ver que eu sou do sul,
A
minha terra tem um céu azul,
É
só olhar e ver...
Mas bah! Até com água de garrafa se pode cevar um mate!
Inicio este post com parte
da letra da música dos Serranos, Eu Sou do Sul, e faço um breve relato da saga
deste povo guapo, conhecido como Gaúcho, que surgiu lá pelas canhadas da Pampa
na Argentina, nas haciendas espanholas a lo largo do Mar del Prata, em Buenos
Aires, avançando para outras Províncias Argentinas atingindo até o norte do
país e se espraiou despacito pela Banda dos Charruas, hoje Uruguai, adentrando
às terras espanholas no extremo Sul do Brasil, que na época a ela pertenciam e
que somente a partir de 1750, pelo espúrio tratado de Madri, trocou com os
portugueses a Colónia del Sacramiento às margens do Mar del Plata pelas Missões,
a lo largo esquerdo do Rio Uruguai, sem nenhuma consulta aos nativos desta
querência e essa passou a pertencer a colônia portuguesa, lembrando que esses não queriam pertencer a Colônia do
Brasil, pois viviam livres em uma sociedade harmônica, rica e farta, organizada
pelos padres Jesuítas Espanhóis, no que se poderia afirmar, ser um Regime verdadeiramente
pré comunista, ou comunismo primitivo longe da escravidão, o que não era bem visto
pelos espanhóis e portugueses escravocratas, que seguidamente faziam missões
para prear índios.
Gauchos argentinos, com suas adagas sob as rastras.
Tanto nas Missões como nas
terras ao sul do Ibicuí o verdadeiro povo Gaúcho ou Gaucho, permaneceu em sua
maioria. Muitos portugueses saíram da Colónia del Sacramiento, no Uruguai e
rumaram às Missões no Rio Grande do Sul por força de tal tratado, assim como
muitos portugueses Açorianos, o que não mudou o espírito indômito dos índios
Missioneiros que não aceitaram tal acordo e pelearam solitos contra a toda
poderosa Espanha, unida ao todo poderoso Império Português, numa Guerra que
ficou conhecida como “Guerras Guaraníticas”, desenrolada entre 1752 a 1756, sendo
seu maior vulto o índio Sepé Tiaraju, líder heroico, hoje considerado santo
pela maioria dos Gaúchos Rio-grandenses, inclusive emprestando seu nome ao
Município de São Sepé, fundado em 29 de abri de 1876.
Sepé Tiaraju - Heroico São Sepé.
Esta Guerra levou a
destruição das Missões levando Espanha e Portugal a cometer um dos maiores
genocídios da história, com o aniquilamento físico de grande parte dos índios
Missioneiros, dos quais muitos fugiram para a Argentina.
Sandra admirando a arte Missioneira.
Mais uma vez a miscigenação
dos ibéricos com as índias Missioneiras, deu-se de forma massiva, resultando no
povo Gaúcho Missioneiro em Ambos os lados do Rio Uruguai, que traduzido quer
dizer Rio dos Pássaros Coloridos, permanecendo em sua prole o espírito
guerreiro do atual povo.
Gaucho Uruguaio, chimarrão e carne buenacha!
Em 1828, pelo tratado do Rio
de Janeiro, que concedeu independência a tão sonhada República Oriental del
Uruguay, que até então era uma Província do Império Brasileiro, conhecida como Província Cisplatina, porém o Brasil
avançou sobre seu território, tomando o País do Tape ao sul do rio Ibicuí,
levando suas fronteiras mais para as regiões sul e oeste do hoje Rio Grande do
Sul, chegando suas fronteira até o Rio Quaraí e Chuí ou Xuí, que até hoje servem de tênues marcos
fronteiriços com los hermanitos Orientales, mui guapos e valentes, terra de meu
avô materno de Trienta y Tres e do avô paterno de minha mulher, de Paysandu, pois
foi sempre esta região fronteiriça uma passagem livre tato de um lado como para
outro, o que formou famílias binacionais. E isto vai ocorrer também em toda a
fronteira seca com o Uruguai.
Os verdadeiros Gaúchos,
nascidos do amálgama ibero-pampeano, mesmo que alguns tenham tomados outros
rumos pelas carreteiras da vida, são hoje encontrados, mais refinadamente pela
Campanha, Fronteira Oeste e Missões do Rio Grande do Sul, pelo Uruguai, pela Pampa
e norte da Argentina, chegando à Patagônia e ao extremo sul do Chile, em menor
número.
Los Gauchos Rio-grandenses
herdaram sua cultura das terras espanholas do Cone Sul, somos um mesmo povo, um
mesmo sangue e uma mesma têmpera e cultura, tanto fisicamente como na música,
no charlar e nas pilchas (roupas), entreverado obviamente com a cultura trazida
pelos portugueses, como em algumas música e danças, e hoje também no idioma no
Rio Grande, além, é claro, de uma boa parcela do sangue.
Pórtico na entrada de São Miguel das Missões.
É errado chamar todo o Sul Rio-grandense
de Gaúcho, pois grande parcela não têm as mesmas vertentes, o certo seria
Rio-grandense do Sul. Sabendo que sonho dos verdadeiros Gaúchos, Argentinos,
Uruguaios e Rio-grandenses é ter sua própria terra. Una República Gaucha,
(Gautcha).
Bruno, meu neto e Sandrinha indo despacito para o que
sobrou das reduções destruídas pelos espanhóis e portugueses.
Alguns, por amenidades, não
querendo animosidades com os Rio-grandenses de outras origens, afirmam que ser
Gaúcho é um estilo de vida, portanto posso afirmar que estão equivocados, mesmo
que eu venha a sofrer algumas críticas, afirmo que o povo Gaúcho é realmente um
povo diferente dos brasileiros e de muitos Rio-grandenses, principalmente os da
Grande Porto Alegre e da Serra. E disto temos a convicção, basta olhar e ver.
Povo Gaúcho, suas tradições e danças.
Há no Rio Grande do Sul,
além dos Gaúchos; alemães, italianos, russos, judeus, árabes, Birivas e negros,
esses últimos concentrados principalmente na Grande Porto Alegre, Pelotas e Rio
Grande, entre dezenas de outros povos que para cá migraram, fundindo-se em sua
maioria à nossa cultura. Essa fusão vista com bons olhos, pois mais vale um
forâneo se dizer Gaúcho do que muitos Rio-grandenses preferirem cultura de
outras plagas que não seja a Gaúcha, como acontece principalmente com muitos
Porto-alegrenses e vizindários.
Trançando Aço - Birivas do Planalto e a dança dos facões.
Os Birivas, do Planalto
Meridional e Litoral Nordeste do Rio Grande do Sul surgiram do encastiçamento
de índias caingangues com portugueses vindos das Minas Gerais, São Paulo,
notadamente de Sorocaba e do litoral de Santa Catarina, principalmente de
Laguna, de matriz portuguesa, além é claro dos negros escravos, bravos
guerreiros que lutaram junto aos Gaúchos, atrás de sua tão sonhada liberdade,
no histórico e heroico 1º Corpo de Lanceiros Negros. (1835-1845), durante a
Revolução Farroupilha que foi a mais extensa guerra do chamado Novo Mundo.
Em Colónia del Sacramiento, no Uruguai, em frente a um.
Rancho Português do ano de 1690 . - Restaurado. óbviamente
mantendo suas características originais; .
mantendo suas características originais; .
Os Birivas, de fala mansa,
com características físicas notadamente mineira e paulista, que como disse,
surgiram no Planalto, aonde vinham para caçar ou levar tropas de gado chimarrão
(selvagem), assimilaram o modo de vida dos Gaúchos, inclusive nas tradições, nas
músicas e nas pilchas, com sutis diferenças, entretanto os Gaúchos são
charladores, proseadores e gritões.
Bruno e vovó Sandra ao lado desta maravilhosa construção
em São Miguel das Missões. - Rio Grande do Sul.
Esta diferença no falar está
ligada a geografia. No Planalto, de terras dobradas dos Birivas, se fala baixo,
fala mansa, pois não adianta gritar com quem está atrás de um morro ou serra,
já os Gaúchos falam alto, pois vivem nas planuras da Pampa e quem está a
léguas de queixo poderá ouvi-lo e no grito se comunicam.
Sandrinha contemplando o que era a Nave Central da bela
Igreja construída pelos Índios Missioneiros.
Já os verdadeiros Gaúchos,
2/3 ibérico, com uma notada maioria espanhola, mesclados com Charruas,
Minuanos, Tapes e outros índios, além é claro, do negro que varia de zero a
10%, na composição sanguínea do Gaúcho, dependendo da região, formam um mesmo
povo de tauras e taitas, cujo suas chinocas ou prendas também são guerreiras e
mui despachadas e charladoras.
Maravilhosa obra dos Índios Missioneiros.
E para dar aos brasileiros
de outros Estados e aos estrangeiros uma noção desta cultura, abaixo relaciono
algumas palavras próprias que estarão em um dicionário que venho pesquisando e
organizando há anos para um dia publicá-lo, do que eu chamo Gauchês, que é essa
maneira diferente de falar, quando estamos entre nós, nas canchas retas, nas
bailantas, nos bolichos ou em outras oportunidades, principalmente na Semana
Farroupilha, quando a indiada se reúne a volta dos braseiros para comer uma
costela gorda e mal passada, ou, como é muito boa, uma costela de 12 horas.
OigaLê coisa bagual de boa é
uma costela gorda, seja no fogo de chão a moda campeira ou “en una parrilla
uruguaya”.
"Costela" en la Parrilla Uruguaia.
O povo Gaúcho, do qual faço
parte com orgulho e honra, sonha com sua Pátria independente. Quiçá um dia
aconteça, pois é um desejo da esmagadora maioria que quer ser livre como são os
potros haraganos, nascidos selvagens nesta Pampa.
Levanta-te Terra Gaúcha, e lembre
que no peitaço e na lança fizemos este chão e não esqueçamos jamais que...
Co yvy oguereco yara!
Gauchês
Abagualado –
Ficar ou agir como bagual.
Abichornado
– Triste, desanimado, sem forças. Adoentado.
Aboletar –
Sentar-se. Ficar em algum lugar ao gáudio.
A la pucha –
Expressão de espanto, admiração ou asco.
Alcaide –
Pessoa ruim, sem serventia, de péssima reputação.
Algariado –
Alvorotado, agitado.
Alimal – O
mesmo que animal.
Andarengo –
Andarilho, pobre errante que anda pelas carreteiras e campos.
Aporreado –
Animal ou alimal cavalar mal domado.
Arrolhar –
Acovardar.
Bacudo –
Homem de pouca cultura. Índio grosso, de maus tratos.
Bagual –
Cavalo selvagem, bravio.
Baiquára – O
mesmo que bacudo.
Baita –
Grande, enorme.
Bateclô –
Vaso sanitário, (Fronteira Oeste). Pode ser também o banheiro.
Bichará – Vestimenta
rústica tecida de lã ovina, na forma de um retângulo com um furo no meio por
onde passa a cabeça, protegendo as costas e o peito do quera, ficando seus
flancos abertos.
Bispar –
Examinar, olhar, bisbilhotar, espionar para tirar proveito. Provém da palavra
bispo assim como vigarista provém de vigário.
Biguano – O
mesmo que bacudo.
Bochincho –
Briga, discussão, alvoroço.
Bóia –
Comida, alimentação.
Bolicheiro –
Dono do Bolicho. Vendeiro.
Bolicho –
Venda. Armazém. Quiosque. Comércio pequeno de secos e molhados.
Bombear –
Olhar calmamente ou por longo tempo. Pensar. Ficar absorto. (o índio tomando
seu mate passivamente e observando ao rededor).
Borracho –
do castelhano (Pronuncia-se - borratcho) – Bêbado.
Caborteiro –
Trapaceiro, esperto, velhaco, mentiroso, infiel.
Camboim –
Cassetete. Madeira dura e resistente.
Cañada
– Lugar, bibóca, lugar longe, pouco
povoado.
Canhada – O
mesmo que cañada.
Capincho –
Macho da capivara – Castelhano Carpincho. (Carpintcho).
Carneadeira –
Faca – Faca curta que serve para courear ou carnear. Cutillo.
Caronero (Castelhano) – Sabre ou adaga comprida que é
levada junto ao arreio do cavalo, sobre a carona.
Cerquito –
Perto (pertinho).
Certa feita
– Ocasião. Determinado tempo ou data.
Charlar –
Conversar. Falar.
Che –
Palavra charrua que significa MEU.
Chucaro –
(do castelhano cuja pronúncia é tchúcaro) – Xucro.
Cola fina –
Citadino. Homem não afeito as lides campeiras e aos costumes.
Comprar Camorra
– Comprar briga, aceitar desafio, meter-se em briga de outro.
Cusco – O
mesmo que guaipéca. Cachorro vira latas.
Entrevero –
Misturado, confusão. Choque de cavalarias, embate, luta. Prato típico do Rio
Grande do Sul com carne de rês, galinha, porco, calabresa, ovelha, coração de
galinha, fígado e moela, batata, cenoura e até o dedo do cozinheiro.
Esgualepado
– Terminado, roto, arruinado.
Facão-sem-cabo
– Metido a valente, a bacana. Coisa que não é. Bobalhão.
Faceiro –
Alegre, risonho, feliz.
Flete –
Cavalo.
Folheirito –
Fácil. Rápido. Sem delongas.
Fuças –
Rosto, cara.
Gaudério –
Vagabundo (Fronteira). Demais regiões a palavra vem sofrendo uma enorme
modificação e passa a denominar erradamente o Gaúcho. “O alcaide me chamou de
gaudério e eu já puxei o talher de briga e nos entreveramos na peleia”
Guaiaca –
Cinto de couro com diversos compartimentos onde são guardadas moedas, fumo,
palha, pederneira e outras coisas.
Guaipéca –
Cachorro pequeno e sem raça.
Guasca -
Homem rústico, valente, forte, guapo. Os guascas lá de fora. Já uma guasca pode
ser uma lonca de couro cru. Uma tira de couro.
Haragano –
Cavalo domado que por ter passado muito tempo sem ser usado no trabalho
tornou-se espantadiço.
Légua-de-beiço
– Expressão usada na Campanha e Fronteira Oeste para mensurar pequenas
distâncias, pois quando se pergunta a um vivente onde fica tal lugar, o mesmo
sem dizer uma só palavra limita-se a apontar esticando o lábio inferior
indicando a direção, fazendo leve movimento com a cabeça para cima. Já a
légua-de-queixo é mais longe que a légua-de-beiço.
Lonquear –
Surrar. Dar um coça de laço. Surrar com a lonca, pau ou relho.
Jaguara –
Cachorro.
Macanudo –
Corruptela de bacanudo, bacana, bonito, bem trajado, legal, bom, superior. Muito
usado a Argentina, não só entre os Gaúchos.
Maleva
(Malevo ou malebra) – Desalmado, perverso, desapiedado, bandido, cruel, de má
índole. “Minha bisavó, Maria Emilia era uma índia maleva”.
Mambira – O mesmo
que Bacudo. (Muito usado na campanha nos anos 50 e anteriores, principalmente
em Pelotas, Canguçu, Arroio Grande, Capão do Leão, Cerrito) e ao rededor.
Mandinho –
Guri, gurizinho, piazinho.
Mango –
Relho, rebenque.
Maula –
Covarde.
Monarca – Diz-se
do cavaleiro bem montado, que monta com elegância. Estiloso.
Ñapa –
(ñ=nh) Prêmio. Era comum ainda nos anos 50, o bolicheiro dar umas balas de
ñapa, para o comprador de algum produto.
Nhapa – O
mesmo que ñapa.
Num vu –
Rápido, rapidamente. Vou lá, num vu e já volto.
Oigalê –
Expressão de alegria, admiração ou espanto.
Oitavado –
Meio de lado. Posição de um indivíduo que não está bem de frente ou nem de
costas para um determinado lugar ou pessoa.
Orelha em pé
– Atento.
Pagar depósito
– Recuar por medo, acovardar-se, o mesmo que pagar vale.
Pala –
Vestimenta leve que segue o mesmo estilo do poncho, mas é feito principalmente
de seda e serve para proteger as pilchas do Gaúcho da poeira das carreteiras no
verão.
Patrão Velho
– Ser mitológico, deus. Fábula, lenda. Nhandevuruçu.
Peleador –
Lutador, batalhador, valente.
Peleia –
Luta. Briga. Contenda.
Pelota –
Bola. Canoa de couro muito usada pelos índios.
Piá –
Coração. O uso e o costume deram outro sentido, o de guri, menino, mandinho.
Pilchas –
Vestes Gaúchas, tanto do homem como da mulher.
Pilchado –
Vestido com pilchas, bem arrumado.
Pinguancha –
Menina moça.
Pinguanchita
– Menininha.
Plaga – O
mesmo que querência.
Poncho –
Espécie de vestimenta pesada para proteger do frio que envolve quase todo o
corpo do indivíduo, possuindo uma gola por onde passa a cabeça. Muitas vezes é
erradamente chamado de pala.
Prosear – Conversar.
Quera –
(cuéra) Homem. Determinado homem destemido, forte, valente.
Querência –
Lugar onde se nasceu, pátria, torrão. De onde se guarda boas recordações e para
tal queremos voltar.
Rastaquera –
(rastacuéra) Oposto de Quera. Homem sem valor.
Rastra – Cinto
de couro macio. Usava-se muito de couro de lontra ou capincho (carpincho), cujo
fechamento é às costas com fivela ou simplesmente atado com uma piola,(tira de
couro) e na parte frontal é enfeitado com correntes e brasão, que além de
segurar as bombachas serve também como suporte da adaga. (sabre).
Relancina –
Repente, rapidez – Usa-se “de relancina”.
Retaco –
Homem baixote e forte. Diz-se também de muares e cavalares dessas proporções.
Petiço.
Taita –
Destemido, protetor.
Taura –
Bravo, valente.
Tchê – O
mesmo que Che.
Torena –
Homem elegante bem pilchado, (bem vestido).
Tramposo –
Velhaco. Trapaceiro.
Truviscar o relho – Surrar com o relho (rebenque).
Tupanci –
Nossa Senhora.
Vaqueano –
Homem muito hábil.
Vaqueanaço –
Superlativo de vaqueano.
Vivente –
Ser, ente. Homem ou mulher.
Xerenga
– Faca -Carneadeira de péssima qualidade.
Xiru –
Índio. (Che iru, meu amigo, meu companheiro).
Xucro –
Animal não domado, chimarrão, bravio. Diz-se do homem sem trato social. De
modos brutos, não afeito ao convívio social.
Zurrapa –
Ruim, de má qualidade.