Estarias completando hoje um
século de vida.
Mãe! Saudade imorredoura. Mãe
que me carreou 9 meses em seu ventre e que por bem 60 anos me carregou pela mão
nos momentos alegres e difíceis de minha existência.
Mãe fera.
Mãe doce fera.
Mãe que se agigantava diante
das dificuldades, feroz fera em defesa de suas crias, mas que não aceitava que
as crias errassem e as corrigia no momento, não esperava o depois.
Mãe pequenina, mas gigante
fera.
Mãe que não titubeava diante
do perigo e que, na época sozinha com meus dois irmãozinhos mais velhos, pois
eu não havia nascido e papai estava guarnecendo as costas do país em plena
Segunda Guerra, não se acovardou e de mão de um revólver Royal HB 38, resoluta
e corajosamente enfrentou um meliante e com um disparo certeiro o colocou fora de
ação fazendo-o fugir deixando uma trilha de sangue. Não o matou, mas deu
certeiro recado.
Mãe fera. Fera sempre
focada. Que ao ver meus irmãozinhos correndo para dentro de casa viu que algo não
estava certo e seu sexto sentido fez correr em sentido contrário, pois algo
estava errado encontrando-me dentro d’água, salvando-me de um afogamento.
Fera amada, alegre e
brincalhona, que me deste a vida duas vezes.
Mãe amada.
Fera, de mãe Rio-grandense e
pai castelhano, oriental de Trienta y Três o que te fez nascer com sangue bravo
e peleador dos legítimos Gaúchos.
Mãe fera.
Em teu leito de morte no
Hospital Militar te disse ao ouvido:
- Pare de lutar pela vida,
já fizeste a tua parte e tuas crias já estão voando sozinhas. Mãe, te amo, te
amo muito.
Teus olhinhos me pareceram
brilhar, e naquele momento deixaste de viver. Era o teu tempo, era a tua hora,
era o teu momento.
Não derramei uma lágrima
naquele dia, mas sempre que de ti lembro as lágrimas acumuladas neste tempo vem
sorrateira inundar meus olhos.
Mas são lágrimas de um
eterno e doce amor.
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