Porto Alegre – Uma História Mal Contada II

Por dever cidadão republico esta matéria.

No início dos anos 70, a imprensa divulgou uma ação policial, ao lado do Palácio do Comércio, entre a Avenida Júlio de Castilhos e a Mauá, onde dizia um boletim médico tendencioso e mentiroso, assinado por um médico desavergonhado e cúmplice da ditadura, que o brigadiano de tal, havia matado um homem negro de seus 50 anos com um tiro e que a bala entrou no peito e saiu pelas costas, e que o morto estava armado.

E tal policial militar, no Rio Grande do Sul chamado de brigadiano, havia assim procedido em legítima defesa.

Tudo mentira!

    
Vivíamos em tempos duros de ditadura, onde se fazia e acontecia sob a capa escura do desmando e da injustiça, em nome e em prol do capitalismo, do modelo estabelecido pelos americanos.

     
Havia a pouco deixado as fileiras do Exército, onde permaneci por alguns anos, e exercia na época meu primeiro serviço civil.

    
Naquela noite, rumava para casa a bordo de um ônibus da Companhia Carris e assisti a menos de 10 metros um assassinato cruel e descabido.

    
Na verdade o pobre homem negro, calçando velhos chinelos de dedo, sem muita agilidade tentava fugir da polícia.

    
Os dois jovens policiais bastavam correr um pouco para alcançá-lo, mas para quê, se uma bala vai bem mais rápido. E foi o que fez um dos jovens Brigadianos. Covarde, diga-se de passagem. Levantou seu revólver calibre 38 e sem dó nem piedade atirou pelas costa, matando o infeliz.

    
Matou-o por ser um delinquente, ou por ser pobre e negro?

    
O contrário foi atestado e o laudo pericial apontou que o tiro foi dado pela frente do infeliz, ou seja atestado por um médico sem escrúpulos e mal intencionado, títere da Ditadura.

    
Chocado, relatei a uma autoridade policial o que havia testemunhado, mas essa me aconselhou a não mexer no caso, pois eu poderia me transformar de testemunha em próxima vítima.

      
Jovem e confuso há pouco tempo fora da farda e sabendo o que acontecia nos quartéis, nas masmorras da ditadura, onde vi muitos serem presos e sabia das torturas que aconteciam a quem pensasse diferente, calei e isso me acompanha e atormenta até hoje como um pesadelo, onde vejo o covarde policial a menos de seis metros da vitima levantar com naturalidade a arma e disparar certeiramente as costas do infeliz que caiu a poucos metros da esquina da Mauá.

    
Com o tempo e com o amadurecimento fui então mudando minha visão de mundo. Sou sim a favor de leis duras contras delinquentes, sejam eles quem forem, pobres, ricos, traficantes, assassinos, estupradores, políticos e funcionários públicos corruptos e outros safados.

     
Porém sou e serei sempre contra a covardia e a mentira, dois males que me parecem ser para muitos, motivo de glória.

    
Sou e serei sempre a favor de bons, treinado e honestos policiais, porém serei sempre contra a chamada banda podre da polícia, pois são os chamados bandidos fardados que ganham seus salário pagos pelos nossos impostos e agem como marginais.

      
O bom profissional não precisa ser mal educado, prepotente muito menos truculento, basta ser também cidadão e respeitar quem lhes paga o salário, que são pequenos para quem anda nas ruas pondo suas vidas em riscos, pois os de gabinetes são bem pagos.

     
E que todos me perdoem, por ter calado.

Notas:

1 - Policial deveria ser um homem ou mulher educado e gentil, entretanto prefiro pedir uma informação a qualquer marginal, menos a um elemento fardado, pois acham eles que são seres superiores, arrogantes, mandonistas, prepotentes e mal educados. Salvo ínfima parcela.

Procurava na cidade de Sapucaia do Sul um determinado endereço e ao ver uma dupla de policiais dentro da praça central pelo menos a 4 metros da calçada, fardados e armados, parei o carro junto ao meio fio, abaixei o vidro e pedi a informação. Um dos bobalhões sem entender, prepotente, arrogante, mal educado, pau-mandado, acintosamente mandou que eu descesse do carro e fosse até ele, como se eu fosse empregado do safado.

Fiz-lhe um sinal mal educado e obsceno e fui embora sem dar atenção ao cretino.

2 – Duas vezes fui parado em blitz na cidade de Esteio, e as duas vezes me surpreendi com a educação, gentileza e até fineza de dois soldados em diferentes ocasiões.

Ou seja, dois policiais militares que deveriam ser exemplos para os demais, pois a educação, a gentileza, um sorriso dizem muito mais ao cidadão honesto que uma cara de bundão, má educação, truculência de uns bobalhões que envergam a farda da nossa Brigada Militar. Oficiais e praças. Pois assim como há Oficiais educadíssimos, gentis e cidadãos, há também neste meio uns poucos metidos a facão-sem-cabo, se achando o suprassumo da sociedade, verdadeiros maus caráteres.

Ou estou mentindo?