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domingo, 29 de junho de 2025

9° BIMtz - 9° RI – PAI MAU, PAI BOM.

Sempre citei para meus alunos esse exemplo de um pai responsável, digno e bom.

Ainda sob o Comando do Coronel Antônio da Fonseca Sobrinho, a vida no Regimento fluía como água de arroio.

Pelotas sempre foi uma cidade que tinha o melhor carnaval de Rua no Estado do Rio Grande do Sul. Blocos, Escolas de Samba, como o Fica Aí, Jacaré do Fragata, Girafa da Cerquinha e o Aguenta se Puder, composto só por militares do Exército, que naquela época confraternizavam com o povão, coisa hoje apagada ou proibida. O povo em geral divertia-se muito e mantinham acesa aquela tradição.

Na Segunda-Feira, ainda madrugada, fardado me dirigi ao Abrigo Central, ao lado da Prefeitura para pegar um ônibus que me levaria ao Quartel do antigo 9° RI.

Ao dobrar à Rua Andrade Neves, vi o tal abrigo cheio de Soldados e Cabos à espera do ônibus e a eles me juntei.                     

                                                                                                                                                                                                          

Quando o ônibus abriu suas portas, de imediato todos embarcaram e eu sentei-me ao lado direito de tal condução e a meu lado sentou-se um Cabo novo, recém-promovido.

Nisto embarcou um civil, negro que logo o identifiquei, pois era o antigo Soldado Amorim, cuja história contei na publicação anterior, que havia surrado um Aspirante.

Ao passar pela roleta o agora civil, que estava fantasiado de Legionário Romano, com uma roupa azul de branca, desferiu um violento soco em um Soldado. Ao ver aquilo, rapidamente levantei-me, pois era o militar mais graduado e antigo e a ele dei VOZ DE PRISÃO mandei a soldadesca imobilizá-lo, o que foi feito com algum esforço.

Pedi ao motorista que parasse o ônibus em frente ao Quartel, mas em frente ao Colégio Nossa Senhora de Lourdes o referido Ex-Soldado conseguiu desvencilhar-se e correu porta à fora, sumindo naquela madrugada.

Ao chegar ao Quartel, de imediato comuniquei ao Oficial de Dia, que prontamente mandou uma patrulha em busca do agressor. Essa patrulha composta por quatro Soldados foi comandada pelo Terceiro-Sargento Voltz.

Mais de meia hora após tal patrulha chegou ao quartel com o agressor, que de imediato foi trancafiado no xadrez.

Após a Formatura Diária a qual estava dispensado, pois cedo já começava a datilografar o Boletim Interno, o Coronel Fonseca sabendo do ocorrido mandou identificar o agressor e ficou sabendo que o mesmo era filho de um Segundo-Sargento Músico que se encontrava em LTS, Licença para Tratamento de Saúde, pois sofria de um  doença cardíaca.

De imediato o Coronel mandou uma viatura até a casa do referido Sargento e trazê-lo até sua presença.

Tão logo o Sargento veio conversar com o Coronel, esse como era de hábito, chegou à porta de seu Gabinete e num estridente grito me chamou, pois já sabia que eu era a peça principal nessa prisão.

- TEIXEIRA! Gritou o Coronel

Rapidamente atendi ao chamado do Coronel e ao chegar à porta de Seu gabinete o vi em pé, em frente a sua mesa conversando com o conhecido e competente Sargento Amorim.

- PRONTO, CORONEL, ÀS SUAS ORDENS, disse.

Ele mandou me aproximar e relatar ao Sargento o ocorrido.

Perfilei-me em frente ao Sargento, não batendo continência, pois estava sem cobertura e esse de imediato apertou minha mão dizendo:

- Tu és filho do Tenente Floribal. Como está teu pai. Transmita-lhe um grande abraço, pois servimos mais de uma década juntos.

- Eu sei Sargento e ele ficará alegre em saber do Senhor.

De imediato o Coronel Fonseca que a tudo ouvia foi logo dizendo:

- TEIXEIRA! Vá lá à Sala do Oficial e Dia e diga-lhe para soltar o preso, pois seu pai está aqui para leva-lo à sua casa.

Mas antes de sair ouvi um pedido do Sargento Amorim:

- CORONEL! Esse “negro” ainda vai me matar do coração, então vou lhe fazer um pedido, mantenha-o preso até o fim do Carnaval, para ele aprender.

O Coronel Fonseca olhou-me atônito e sentenciou:

- Vá ao Oficial de Dia e diga para manter o preso no xadrez até a próxima Segunda-Feira, liberando-o só após o Carnaval.

Antes de sair, novamente o Sargento Amorim apertou-me a mão e eu desejei-lhe uma pronta recuperação.

Transmiti a ordem ao Oficial-de-Dia e passei, daquela época em diante a pensar que um PAI MAU na verdade é um PAI BOM, pois não devemos passar a mão na cabeça, mesmo de um filho, por mais que doa nosso coração.

 

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