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quarta-feira, 17 de novembro de 2021

O Beijo Devastador

Havia sido convidado por um grande amigo, de nome Adi para participar de um churrasco, na Fazenda Campo Triste, em Itahum, no Município de Dourados, no Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul. Ao chegar a tal festa de campanha, após cumprimentar um número grande de convidados e rever meus fraternos amigos da família Fortes fiquei a conversar com um e outro até que o esperado churrasco foi servido. Óbvio que o assador foi esse fraterno amigo, excelente churrasqueiro, de mão buenacha. 

             Churrasco gaúcho fogo de chão.
 

Após todos terem fartamente saboreado aquela maravilhosa carne e bebido cerveja e refrigerante, embaixo daquelas frondosas árvores que agraciavam os convidados com sobras que tornavam mais fresco aquele dia canicular, o povo foi se agrupando em pequenos grupos e a conversa animada e alguns gargoseios encheram aquele vasto e belo campo, que de triste, conforme o nome, nada tinha.

                                  Franco na academia.
 

Eu estava com meu filho Franco ao colo, já que era um enorme bebezão de dois anos. Sandrinha, minha mulher sentou-se a conversar alegremente com Dona Lori, Sonia e as outras meninas embaixo de duas frondosas árvores. Sandrinha há pouco havia dado a luz a nossa filhinha Monica, que nascera em dezembro e poucos meses depois estaria novamente embaraçada de nosso filho Fábio. Afinal foi um filho por ano e não havia folga nem quarentena.

Tudo corria bem e a alegria imperava naquele pedacinho do meu amado Mato Grosso, quando vi, apartado de qualquer grupo, um senhor de poucas palavras, sério, cenho sempre carregado, mais desconfiado que gato em rancho novo, que andava sempre armado. Aproximei-me para com ele prosear. Era um mato-grossense das antigas, sem muitos amigos ou talvez nenhum, chamado Azambuja.

Ao cumprimentá-lo, apertando-lhe a mão destra, meu filho que estava em meu colo, esticou os bracinhos e envolveu o pescoço daquele sério e desconfiado homem.

Sem muito jeito esse senhor, mais vermelho do que tomate encabulado, segurou meu filho Franco, sem saber o que fazer, pois foi uma surpresa para ele, já que o piá nunca o havia visto.

Franco, imediatamente, ainda envolvendo aquele senhor pelo pescoço, num forte e terno abraço, puro e até emocionante, beijou seu roto, num beijo prolongado, o que fez os olhos daquele homem imediatamente encherem-se de fluídas lágrima e que num vu entregou-me Franco a meus braços e abrir o cavalo indo parar a uns trinta e tantos metros ou uma légua de beiço, a sombra de uma aroeira, sem jeito e de quando em vez enxugava com as costas da mão esquerda as lágrimas que rolavam por seu rosto.

Fiquei desconsertado. O que havia acontecido? Quando chegou a meu lado o mano velho Adi a quem, sem muito xaraxaxá, relatei o acontecido.

Adi pensou um pouco, na sua forma tapejara de ver o mundo e colocando sua forte mão destra em meu ombro esquerdo, olhando no fundo de meus olhos, disse:

- Esse é um bom homem para se ter como amigo, porém é um matador profissional. Carrega na cacunda muitas mortes. Nem os filhos chegam perto. Não chegam por temor. Talvez nunca tenha sido beijado, nem mesmo pelos seus próprios netos.

E completou:

- O beijo do Franco foi uma bomba em seu coração.

Eu fiquei atônito, meus pensamentos se desvelaram costa abaixo, pois jamais imaginaria que um bebezão inocente e puro fizesse um matador frio, maleva, desapiedado emocionar-se daquela maneira.

Nunca mais vi aquele homem de passado tão tenebroso.

A família Fortes continua em meu coração, apesar da morte ter levado meu mano velho, seu filho Clovis e sua filha Nara.

Mas enquanto viver os terei em minhas lembranças e jamais esquecerei daquele beijo devastador. 

                                            Franco de los Santos Teixeira
 

Hoje, meu filho é um exemplo de honestidade, laborioso carinhoso, mas que guarda ainda em seu coração aquela pureza daqueles dias maravilhosos que vivemos no Centro Oeste, no meio de tanta gente boa e honesta, até o próprio matador que mostrou que ainda em seu coração havia uma nesga de amor e carinho a ser explorada. 

                                      Aniversário de Franco.
 

Franco, que sábado, dia seis de novembro, completou mais uma primavera festejou aqui em casa, com os irmãos essa data e apesar de ser um lutador de jiu-jítsu, forte como um leão, continua o mesmo homem carinhoso, afável, educadíssimo, pois guarda em seu coração aquele mesmo menininho que fez chorar um frio pistoleiro.

                          Em um treino de jiu-jítsu
 

Amo meus filhos e meus dois netos, Milena de dois anos filha de Fábio e Bruno de 22, filho de Franco. Meus eternos amores e a eles contei e contarei essa façanha de um inocente e belo garotinho de dois aninhos que, pelo carinho e bondade que sempre carregou em seu coração fez desmoronar um forte castelo de pedras que era o coração daquele temível matador.

 

2 comentários:

  1. A vida guarda surpresas e lições, destrava, destranca; por vezes, comove e faz a mais dura das criaturas, chorar.

    Um abraço. Tudo de bom.
    APON NA ARTE DA VIDA 💗 Textos para sentir e pensar & Nossos Vídeos no Youtube.

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    1. Caríssimo Antônio Apon.
      Sempre temos muitas surpresas em nossas vidas, é bem assim, a vida guarda surpresas e lições, foi para mim uma grande experiência. A vida nos é uma caixinha de surpresas e jamais pensaria que uma criancinha levasse um matador frio a prostrar-se em lágrimas diante da pureza, da inocência e do amor terno e puro.
      Amigo desejo a ti e a todos que te são caros muita saúde, alegria e paz e que venhamos a vencer essa etapa tão danosa para a humanidade chamada Covid.
      Mais um dia alegre com teu comentário e agradecendo tua presença mando um forte e fraterno abraço.
      Amigo.

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