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domingo, 13 de novembro de 2016

Tempo




Em 26 de fevereiro de 2012 publiquei neste meu blogue o post que passo a reeditá-lo, com o título de:

Houve um tempo

Transcrição de um trecho do livro sobre minhas memórias ainda sem título.



O tempo passou como um carro sem freios decida abaixo, e já mocinho, com uns sete meses, estava no colo de meu pai, já que comecei a caminhar não tinha dez meses. Olhava fixamente para os seu enormes e alvos dentes e seu inconfundível bigode, quando ele se aproximou da porta da sala de jantar, que saía para o pátio lateral, conhecido mais tarde pelos meus irmão e por mim como o “lado”, e apontando com a sua mão direita mostrou-me algo, dizendo:


- Olhe. A Lua.


Impressionante!


Era uma visão espetacular. Lua Cheia, noite límpida. Aquele clarão mais me encantava do que me dava medo. Era uma visão fantástica.


Fiquei estarrecido. Meu coração disparou e meu mundo não era só a casa, agora além da porta eu podia ver aquilo que ele chamava de “Lua”.


De relancina meu irmão Joaquim Luís, que naqueles idos de 46 já era um “homem feito”, com três anos, passou correndo, pulando porta a fora e com ele minha irmã mais velha, Ieda de Lourdes, já “adulta” com quase sete anos. Corriam, pulavam, gritavam e passavam por entre as cercas vivas, que separavam nosso pátio do Corredor das Bochas.


Lua!


A Lua!


Era um tempo mágico e eu começava a fazer parte daquela magia.


Um mundo mágico sob o clarão da Lua.


Lembro claramente minha mãe dizer:


- Não o leves para a rua! Tem sereno!


Olhei em volta para ver o que era o tal sereno, mas a coisa que mais me chamava a atenção era aquela brilhante Lua, despojada, sorrindo para mim.


Encantado.


Seduzido.


Era a coisa mais linda que já havia visto até então. Naqueles poucos minutos em que estivemos junto à porta, olhando para aquela maravilhosa Lua, tão grande, tão brilhante, que insistia em me manter a ela preso como se nada mais existisse naquele céu. Imensa campânula de cristal negro que envolvia o meu mundo.


Eu e a Lua.


A Lua e eu.


A inocência e a beleza.


O puro encantado pelo extremamente belo, atraente e mágico.


Vi mamãe aproximar-se, delicada, sutil, pisando macio como um lince, como se flutuasse e silenciosa abraçou-se a papai, com tanto amor, um amor que extravasava e sempre extravasou, pois todos sabiam o quanto se amavam, e parecendo extremamente submissa, encostou sua cabeça em seu ombro e ali ficou também contemplando a Lua.



E a Lua, tão radiante e mágica, iluminava aquele casal e seus três filhos que eram tão felizes, dentro daquela ingenuidade pueril que um dia o tempo e as adversidades apagaram, mas não conseguiu apagar de nossas lembranças aquela união tão alegre, pura e romântica, que uma noite, sob o clarão irradiado por aquela mágica Lua, fazia ser nossa convivência tão harmoniosa quanto feliz. 


Uma felicidade que o tempo levou.


Uma felicidade que mesmo tão distante faz, invariavelmente meus olhos marejarem de tanta saudade.


Saudade imorredoura.


Notas: 

1 - De relancina, assim como de vereda, de soco, num vu, num repente, no dialeto dos Gaúchos quer dizer rapidamente, instantaneamente, no preciso momento.


2 – Mamãe e papai viveram juntos por mais de setenta anos e eram extremamente apaixonados, mesmo quando a velhice lhes consumia a vida, ela acamada e ele em uma cadeira de rodas ficavam horas juntos, contemplando-se, de mãos dadas.

3. Corredor da Bochas era uma servidão de passagem que ligava a chácara do Sr Ricardo Stein com a rua em que morávamos e servia também cinco outras casa. 

4 comentários:

  1. OI PROFESSOR!
    SURPRESA LENDO UM TEXTO TÃO BONITO E VERDADEIRO, JÁ FICO POR AQUI, TE SEGUINDO E DEIXANDO MEU ABRAÇO, TAMBÉM GAÚCHO.
    BOA NOITE.
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  2. Oi caríssima Zilani Célia.
    Surpreso fiquei eu com tão espontâneas e lindas palavras. Realmente foi uma noite tão maravilhosa e importante na minha vida e que jamais saiu de minhas lembranças e sempre que lembro de papai e mamãe a primeira imagem que vem a minha mente foram estas imagens iluminadas pela mais bela e mágica Lua. Aceito emocionado teu abraço gaúcho e o retribuo com respeito e admiração. Que tenhas um belo final de semana com muita saúde e paz.

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  3. Olá, querido Pedro!

    Espero k todos vocês se encontrem bem e felizes. Aqui, tudo rolando!

    Teu texto é tão bonito, terno, doce e até parece k senti o gosto na boca de tuas palavras e o brilho no olhar acerca de teu encantamento pela lua.

    Lembro k qdo era menininha, a lua exercia sobre mim, não sei em k fase dela, uma influência nada benéfica, ou seja, em vez de ficar deleitada, ficava nervosa e medrosa.

    O amor, LINDO E SINCERO, k uniu seus pais é daqueles, k agora quase não existem mais. Ainda existem alguns, como é teu caso com Sandrinha.

    Já li seu mais recente post e me deleitei com as fotos e com tua descrição. Depois, passo lá.

    Um resto de boa semana.

    Beijos para você, Sandrinha e meninos, incluindo seu neto.

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  4. Amada Céu, sempre fico com o coração estreleiro ao encontrar teus bem-vindos comentários.
    Sempre fui um apaixonado pela Lua. Lua que derrama sobre mim uma coisa fascinante de beleza pura e ímpar. Adoro quando a Lua apresenta-se cheia, é para mim uma visão fantástica e sempre foi. Quanto a papai e mamãe, foi um amor indescritível, e para tal indico a leitura do post "Pai e Mãe. Dá para Esquecer?" publicado em 16 de março de 2012.
    Agradeço do fundo do coração os beijos aos meus e sei que eles retribuirão com afeição e carinho. Bom final de semana e aceites também um beijo com muito carinho, cá desta pontinha austral do Brasil.

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