Meu velho avô, taita
destemido, já de gadelhas brancas como velo, bem aboletado em seus pelegos, mateando
solito seu amargo, ao sombreiro de uma coronilha, com a cambona cheia de jujo
aos seus pés, quase fervendo em um braseiro de chão, pensativo, mas sempre atilado como caburé
em dia de cerração, mateava não só o amargo do chimarrão, mas mateava em
silêncio o amargo da vida.
Certa feita, o velho
vaqueanaço, aprumou os aperos, puxando as bombachas e apertando a rastra feita
de couro de carpíncho, deu de mão na carneadeira, que não era dessas xerengas
que hoje vendem por aí e calmamente a colocou atravessada as costas, como
sempre andava, me olhou, e seus olhos brilharam mais que a boieira em madrugada
escura e disse, denovamente sentando aos pelegos de algum borrego capão que ele
mesmo havia carneado, enquanto com a ponta do cabo do relho aprumava umas
brasitas desparceiradas empurrando-as para junto da cambona, negra de tanta
picumã:
- Meu filho, já andei
entreverado em vários bochinchos, desde vinte e três ao lado dos chimangos,
pero aprendi que cuéra simples como eu não deve servir a caudilho cola-fina e
desde então jamais mudei minha opinião. “El pueblo deve luchar por el pueblo” e
não por coronéis metidos a facão sem cabo. “Me tapo” de nojo só em ouvir esses
alcaides cuja pátria és la plata.
E destas palavras muito
aprendi e nelas botei tento e nunca me saíram do mogango.
Desde piá andei sempre
entreverado em charlas baguais, com peões com seus folhas de abóbora judiados
pelo tempo e também com caudilhos com seus lindos panamás, mas fico oitavado na
soleira volta e meia, vendo esses gaudérios ao rededor de balcões de bolichos
de campanha, ora charlando com um biguano, ora com outro bacudo, e nada se tira
de provecho.
Com o tempo fui folheirito
entendendo o que os baiquaras pensam desta verdadeira carreira em cancha reta
que é essa profissão de políticos, que num tapa vão de vereadores a senadores e
que os mantém na rédea curta e no sofregão, que num repente os lançam num perau
sem saída. Verdadeiro callejón.
Alguns índios buenachos,
pero de mala suerte, meio esgualepados, com as guiacas numa tinideira
miserável, outros borrachos, mais estropiados que cusco gaudério e desguaritado
em peleia com os graxains, foi-se formando em minha moringa umas ideias meio
caborteiras a respeito desses alcaides, que quando chega essa época de eleições
saem por ai esparramando santinhos para os mambiras, trovando inverdades na
maior cara estanhada e como sempre querendo tirar proveito desse povaréu
formado em sua maioria por baiquaras, sem eira e nem beira, que male e male
sabem juntar unas letrinhas e que não tem a mínima noção do que é esse mundéu político
ardiloso donde os colas-finas se aproveitam como traíra em sanga atrolhada de
lambari e saem potreando os mabiras que acreditam e suas ladainhas.
A la pucha, conheço esses
calaveira a léguas de beiço e nem te ligo, quando não dou um chô-égua sem
mostrar os dentes para o ladino ou saio zunindo, pois se me entreverar em
prosas com esses alcaides, boa coisa não vai dar.
Quando em vez fico bispando
cada um e não me passa pela caixola que esse povo seja tão mocorongo em
acreditar nesses caborteiros cheios de não-me-toques e nós pelas costas, pois a
maioria não passa de tramposos, verdadeiros velhacadores, mas que por terem lábia
vão levando no gogó os incautos que vivem matando cachorro a grito, quando não mandam
passar o quero-quero em algum mais atilado que se meta a topetudo e compre
camorra contra o alcaide. E muitos ficam maneados ao estrupício cheio da gaita
achando que ele saberá em quem o mambira votou.
Quando esses tipos malevas
se aproxegam, não lhes dou tento e a charla se encerra num “já se bâmu”, e abro
o cavalo, com as gadelhas peinadas pelo vento deixando o cuéra a xavier antes que ele comesse a cargosear. Pois abrindo o cavalo não dou tempo ao calhorda de abrir o tarro, assim de vereda vou
me esgueirando desses metidos a doutorzinho tramposos que mantém a indiada atoleimada sob
suas ladainhas e promessas. E são sempre os mesmos velhacos. Estancieiros e
doutores cheios da bijuja que mantém o povo nas mãos, verdadeiros guaipecas
galgos, carquicho de hambre, que no assovio atendem ao patrão como vinagres
sarnentos, verdadeiras cascarrias.
Vejo que muito baiquara, com
a barriga no espinhaço, galgos de fome, sem um pila na guaica que se vendem aos colas-finas num vu. Plata
pra cá, plata pra lá, tudo por baixo do poncho e é mais um voto na urna, mas o
baiquara não entende e não adianta prosear porque os atoleimados não botam
tento no que a gente tenta desanuviar de suas caixolas.
Outro dia, estava a seu pasqual e logo que havia
posto os ossos de ponta, vi uma pingunchita, algariada e toda rebetchada
colocando santinhos em minha caixa de correio e de soco foi ver o que era. Era
um monte de santinhos de um caborteiro que a menos de um mês passei-lhe uma esfrega e só não lhe passei o pranchaço com o caronero para não perder a
razão, fuinha que quer ser prefeito de minha cidade. É claro que o caborteiro
não fazia propaganda escancarada, mas deixava um jornaleco cheio de mentiras e
promessas nunca cumplidas e das coisas que jurava de pés juntos que iria fazer.
Tche. Dei-lhe um simbronaço
na porta que a guria quase se mijou nos cueros e como um prisco, toda espiada, sumiu carreteira
abaixo e eu fiquei injuriado com o maleva que vive pagando vale, mas se acha
o macanudo que pode se meter de pinto a galo, mas não passa de um maula.
Entonces, malecho e meio abichornado com o que
vejo sou forçado a andar mais atilado do que sorro em noite escura em volta de
casa que tem jaguaras rondando, pois se um desses maulas vier com ladainhas
para o meu lado e errar o estrivo, posso eu perder a paciência e baixar-lhe o
camboim. Truviscar-lhe o relho sem dó nem piedade, pois de político estou mais farto que reculuta que come
bóia do quartel e está sempre no reverte.
Oigalê, quando em vez solto
a gaitada quando vejo um cola-fina sendo levado pelos mata-cachorros como
ocorreu há um tempo atrás donde um alcaide foi enjaulado por meter a mão nos
salários de seus cupinchas lambe esporas.
Cué pucha! Tche, mais um no xilindró.
Cué pucha! Tche, mais um no xilindró.
Olá Professor Pedro,
ResponderExcluirque bela aula. Tenho um amigo como o senhor, da fronteira que escrevia no meu blog, ele pensa assim. E também concordo que temos que limpar esse país. Que está apodrecido com essa gente.
Estou braba contigo. Então passou pertinho aqui de casa e não veio me visitar. Na próxima o senho já está intimado.
Segue meu e-mail: sulprinter@terra.com.br, para marcarmos a próxima visita.
Abraços e bjos na Sandrinha.
Caríssima Anajá.
ExcluirDe pronto peço que não fiques braba, pois não queria chegar assim de surpresa e estava com o tempo meio esgualepado, pois queria passar na feira do peixe em Tramandaí, o que foi uma decepção total, desistimos de lá almoçar, pero fomos a um restaurante no centro e após queria fazer uma visita a um velho amigo, filho de criação de minha avó paterna e do velho taura Antônio Garcia, meu amado avô do coração. Um piá que cresceu comigo, quase um irmão. Ele mora em Albatroz e fui com a Sandrinha folheirito da vida e como há muito tempo não o via ficamos um bom tempo em sua casa. Na volta, já estava escurecendo e resolvemos vir direto para casa. Mas te prometo, que em outra viagem por essas plagas de certo faremos uma visita.
Um abraço e saudações a Dom Alfredo. Que a saúde e paz estejam sempre entre vocês.