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quinta-feira, 3 de julho de 2025

SEU MERDA - 9° RI - 9°BIMtz

Estava eu de Sargento de Dia, passara o dia e a noite anterior no Quartel dando Serviço na CC/1, Companhia de Comando do 1° Batalhão, serviço como sempre a contento e sem alteração.

Na manhã seguinte, antes da Formatura Diária, passaria o Serviço ao Terceiro Sargento N.F., este era um Sargento sem muitos brios, a meu ver, um zero à esquerda.

Nesta manhã, com a Companhia em forma, ao lado do Alojamento, passava o serviço a esse Sargento e esse fez uma critica inócua sobre a limpeza dentro do Alojamento lembrando que uma das coisas que mais exigia dos soldados era a limpeza da área da Companhia, mas ele, turrão em frente a Companhia quis chamar minha atenção e eu, Cabo velho não gostei da forma rasteira como ele se referiu, perguntei em voz alta em frente aos Soldados em forma:

- Quem és tu para falar assim comigo, SEU MERDA”.

Os Soldados em forma, juntamente com o meu Cabo de Dia e outros quatro Cabos levaram aquela pancada nos miolos, pois nunca haviam ouvido eu me referir a um superior hierárquico daquela maneira.

Ele sem jeito me fulminou com os olhos e de antemão sabia que o mesmo iria dar parte  minha no livro de alterações da Companhia. No mínimo eu seria punido, com prisão ou detenção.

Entretanto logo em seguida apareceu o Sargenteante, um Primeiro Sargento de nome Abrantes, apelidado de Rabanete  e o Tercereba, que já havia assumido o Serviço de Sargento de dia, lhe apresentou a Companhia, pois logo seria feita a Parada Diária.

Naquele ano a CC/1 estava colocada em primeiro lugar para receber o troféu de melhor Companhia em Ordem Unida, e o Comandante desta Subunidade, o Capitão Clerion Dias Faro queria logo o desfecho daquele certame, pois faltavam apenas dois pontos para a Companhia ser agraciada antecipadamente naquele torneio. Esse Capitão era de uma educação extremada que a todos tratava com atenção e respeito.

Em forma, todos agora ao Comando do Sargento Abrantes se dirigiu à frente do Prédio da CC/1 e ali a Companhia foi apresentada ao Capitão Faro.

De imediato, após uma rápida preleção do referido Capitão, à Companhia foi deslocada em passo cadenciado até o Pátio em frente ao Palanque Oficial, onde já estava além do Comandante, o Coronel Aloísio Alves Borges, todo o Estado Maior do Regimento que faria o penúltimo julgamento de Ordem Unida. Bastava para a Companhia ganhar dois pontos para sagrar-se Campeã.

A todo o momento o referido Sargento me olhava e gesticulava a cabeça, numa frontal ameaça. De fato iria dar parte de mim por tê-lo chamado de SEU MERDA.

Como sempre em formaturas eu entrava como Cerra fila, pois ficava atrás do último Soldado, verificando a disciplina e o alinhamento.

Regimento em forma, Banda de Música, Parada de Serviço pronta para assumirem seus postos logo após tal formatura. Enfim tudo pronto, arrumado e bonitinho.

O Coronel Aloisio, após a costumeira preleção deu ordens para que as Companhias se deslocassem para seus locais pré-determinados  para darem início à Parada Diária.

Em ordem começou o desfile das Companhias garbosas marcharam, em frente ao Palanque Oficial, porém quando a CC/1, minha Companhia passava briosa em frente ao Palanque e já com a possibilidade de ganhar o troféu, com o Capitão Faro à frente, logo atrás deles o Cabo José, também chamado de “pé-grande”, que era o militar mais alto da companhia e por seu tamanho era o Cabo Porta Estandarte, vinham os  Sargentos, Cabos e Soldados e eu bem atrás da Companhia, pois como já disse era o cerra-fila, ouviu-se um “berro” do Palanque:

- Por que esse Sargento está fora da formação? – Gritou o Coronel Aloísio.

De imediato o Capitão olhou rapidamente para trás e viu que o Coronel referia-se ao Sargento N.F., que marchava totalmente fora do alinhamento.

O Capitão continuou à frente da Companhia e logo ao passar do Palanque, pôs-se ao lado da Companhia e a conduziu ao pátio desta.

Ao chegar ao pátio da CC/1 o Capital mandou alto e esquerda volver, ficando a Cia de frente para  o seu PC e Sargenteação, quando o Capitão furioso disse alto e claro.

- Seu Merda! – referindo-se a tal Sargento, por tua causa não vamos ganhar antecipadamente o troféu.

Cabos e Soldados que durante a passagem de Serviço de Sargento de Dia, ouviram o que eu havia dito ao referido Sargento, alguns segurando o riso, discretamente olharam-me dando total razão.

Sem moral o infeliz nada fez assumindo sua “merdice” e eu saí incólume. 

 

segunda-feira, 30 de junho de 2025

BOLA FORA DO SARGENTO AJUDANTE. - 9° RI - 9° BIMtz


                                      

Há quase cinco anos trabalhava na Casa da Ordem, como datilógrafo do Boletim Interno, documento oficial de tiragem diária, dando ao Regimento todas as informações atinente ao serviço, como Escalas de Oficial-de-Dia, Adjunto, Comandantes das Guardas 1 e 2 e outros serviços, Apresentações de Militares, Transferências, Ordens Superiores, Serviços Médicos, Administração e Justiça e Disciplina. Fazia tudo sozinho, páginas e páginas, muitas vezes o Sargento Ariano de Paiva Rodeghiero sentava-se ao meu lado, quando havia muita coisa para ser publicada e ditava sem parar e eu datilografava as matrizes sem parar numa velocidade extrema, sendo muitas vezes assistido por Oficiais que ficavam hipnotizados com a minha rapidez.

Muitos Primeiros-Sargentos desempenhavam a funções de Sub-Tenentes, na falta desses e após na lista de antiguidade um Primeiro-Sargento era nomeado Sargento Ajudante de Ordens, como era chamado na época de Sargento Brigada ou seja, a ele era competido principalmente às escalas de serviço, e desempenhava suas funções nessa Casa da Ordem. Era então o Sargento mais antigo que não estivesse desempenhando as funções de Sub-Tenente, pois aí passava a receber a diferença em seu soldo.

Belo dia foi indicado para essa função o Primeiro-Sargento Pedro Arides Fernandes, homem antipático que poucos mesmo, Sargentos gostavam dele.

Havia uma grande camaradagem nessa Seção, onde Cabos, Sargentos e até mesmo o Capitão Ajudante de Ordens entravam na divisão do café, pois houve uma época que tal regalia havia sido proibida como contenção de despesas. E todos os dias era aquela ladainha de quem pagaria o café, que era comprado em frente ao Quartel no antigo Bar do Udo.

Tão logo esse Sargento assumiu como Ajudante, vendo aquele, até hilário jogo de empurra, resolveu botar ordem no galinheiro e em tom seco disse a todos, com exceção do Capitão S/1 que não estava presente.

- A partir de hoje vou botar ordem nessa discussão diária sobre o café. Vou organizar da seguinte forma:

- Todos entrarão na lista de compra, e não será apenas um café. Traremos por semana uma lata de café solúvel, um quilo de açúcar e uma lata de leite em pó. Melhorando assim o nosso café:

Fez uma breve pausa e concluiu:

- A partir da próxima semana vou fazer uma lista com todos os nomes, sendo que o Capitão vai ficar fora do rateio (puxa saco, pensei eu).

- Hoje é sexta-feira, então começará na próxima semana e eu como o mais graduado serei o primeiro, depois o Segundo-Sargento Raul e assim até o Cabo mais moderno, que no caso era o Cabo Jader Fernandes Umpierre, que dois anos após, passou a desertor e foi expulso do Exército.

Na Segunda-Feira seguinte chegou à Casa da Ordem o Primeiro Sargento Arides com uma sacola contendo todo o material para o café.

Foi uma semana que todos tomaram café suculento com muito leite em pó.

Na Sexta-feira seguinte, antes do toque de debandar o Primeiro Sargento Arides disse em tom alto e como de praxe antipático, ao Sargento Raul Rocha, na Segunda-feira é teu dia de trazer os ingredientes para o café, mas o Sargento Raul lhe respondeu.

- Sargento Arides, me tire da lista, pois eu não quero participar mais deste café.

O Sargento Arides, sem nada entender, pois nada havia sido combinado ouviu a mesma coisa do Sargento Rodeghiero, do Sargento Adroaldo, de mim e dos demais Cabos.

Ou seja, o Sargento Arides ficou atônito, com a cara no chão e nada disse, só ele pagou pela arrogância e mandonismo.

Passada aquela semana o Capitão S/1 falou com o Coronel Comandante e esse liberou o café para todas as Seções.

ORRE TASCA, só ele pagou.

 

domingo, 29 de junho de 2025

PAI MAU, PAI BOM. - 9°RI - 9° BIMtz

Sempre citei para meus alunos esse exemplo de um pai responsável, digno e bom.

Ainda sob o Comando do Coronel Antônio da Fonseca Sobrinho, a vida no Regimento fluía como água de arroio.

Pelotas sempre foi uma cidade que tinha o melhor carnaval de Rua no Estado do Rio Grande do Sul. Blocos, Escolas de Samba, como o Fica Aí, Jacaré do Fragata, Girafa da Cerquinha e o Aguenta se Puder, composto só por militares do Exército, que naquela época confraternizavam com o povão, coisa hoje apagada ou proibida. O povo em geral divertia-se muito e mantinham acesa aquela tradição.

Na Segunda-Feira, ainda madrugada, fardado me dirigi ao Abrigo Central, ao lado da Prefeitura para pegar um ônibus que me levaria ao Quartel do antigo 9° RI.

Ao dobrar à Rua Andrade Neves, vi o tal abrigo cheio de Soldados e Cabos à espera do ônibus e a eles me juntei.                     

                                                                                                                                                                                                          

Quando o ônibus abriu suas portas, de imediato todos embarcaram e eu sentei-me ao lado direito de tal condução e a meu lado sentou-se um Cabo novo, recém-promovido.

Nisto embarcou um civil, negro que logo o identifiquei, pois era o antigo Soldado Amorim, cuja história contei na publicação anterior, que havia surrado um Aspirante.

Ao passar pela roleta o agora civil, que estava fantasiado de Legionário Romano, com uma roupa azul de branca, desferiu um violento soco em um Soldado. Ao ver aquilo, rapidamente levantei-me, pois era o militar mais graduado e antigo e a ele dei VOZ DE PRISÃO mandei a soldadesca imobilizá-lo, o que foi feito com algum esforço.

Pedi ao motorista que parasse o ônibus em frente ao Quartel, mas em frente ao Colégio Nossa Senhora de Lourdes o referido Ex-Soldado conseguiu desvencilhar-se e correu porta à fora, sumindo naquela madrugada.

Ao chegar ao Quartel, de imediato comuniquei ao Oficial de Dia, que prontamente mandou uma patrulha em busca do agressor. Essa patrulha composta por quatro Soldados foi comandada pelo Terceiro-Sargento Voltz.

Mais de meia hora após tal patrulha chegou ao quartel com o agressor, que de imediato foi trancafiado no xadrez.

Após a Formatura Diária a qual estava dispensado, pois cedo já começava a datilografar o Boletim Interno, o Coronel Fonseca sabendo do ocorrido mandou identificar o agressor e ficou sabendo que o mesmo era filho de um Segundo-Sargento Músico que se encontrava em LTS, Licença para Tratamento de Saúde, pois sofria de um  doença cardíaca.

De imediato o Coronel mandou uma viatura até a casa do referido Sargento e trazê-lo até sua presença.

Tão logo o Sargento veio conversar com o Coronel, esse como era de hábito, chegou à porta de seu Gabinete e num estridente grito me chamou, pois já sabia que eu era a peça principal nessa prisão.

- TEIXEIRA! Gritou o Coronel

Rapidamente atendi ao chamado do Coronel e ao chegar à porta de Seu gabinete o vi em pé, em frente a sua mesa conversando com o conhecido e competente Sargento Amorim.

- PRONTO, CORONEL, ÀS SUAS ORDENS, disse.

Ele mandou me aproximar e relatar ao Sargento o ocorrido.

Perfilei-me em frente ao Sargento, não batendo continência, pois estava sem cobertura e esse de imediato apertou minha mão dizendo:

- Tu és filho do Tenente Floribal. Como está teu pai. Transmita-lhe um grande abraço, pois servimos mais de uma década juntos.

- Eu sei Sargento e ele ficará alegre em saber do Senhor.

De imediato o Coronel Fonseca que a tudo ouvia foi logo dizendo:

- TEIXEIRA! Vá lá à Sala do Oficial e Dia e diga-lhe para soltar o preso, pois seu pai está aqui para leva-lo à sua casa.

Mas antes de sair ouvi um pedido do Sargento Amorim:

- CORONEL! Esse “negro” ainda vai me matar do coração, então vou lhe fazer um pedido, mantenha-o preso até o fim do Carnaval, para ele aprender.

O Coronel Fonseca olhou-me atônito e sentenciou:

- Vá ao Oficial de Dia e diga para manter o preso no xadrez até a próxima Segunda-Feira, liberando-o só após o Carnaval.

Antes de sair, novamente o Sargento Amorim apertou-me a mão e eu desejei-lhe uma pronta recuperação.

Transmiti a ordem ao Oficial-de-Dia e passei, daquela época em diante a pensar que um PAI MAU na verdade é um PAI BOM, pois não devemos passar a mão na cabeça, mesmo de um filho, por mais que doa nosso coração.