domingo, 20 de outubro de 2013

Alô Portugal.




Devo aqui uma explicação aos meus leitores PORTUGUESES, que lá do outro lado do Atlântico acessam este meu blog meio bagual.


                             Los Gauchos - Eu e minha prenda.

Uso muito a expressão Pila. Mas o que é PILA?

Aqui no Estado mais Meridional do Brasil, o amado Rio Grande do Sul, nossa querência, há um povo que surgiu do amálgama Ibérico-Charrua-Minuano, principalmente, e que se espraia não só pelo nosso Estado como também pela Argentina e Uruguai. Esse tipo físico, meio xiru, chega a ser encontrado nas planuras que formam a Patagônia e é conhecido como Gaúcho no Brasil e Gaucho (Gáutcho) na Argentina e no Uruguai, assim como em toda a América Latina.

Os Gaúchos Rio-grandenses e los Gauchos Uruguaios tem em seu sangue muitos valores genéticos portugueses, principalmente Açorianos. Percentuais bem grandes.

Este meu povo gosta muito de churrasco, prosear e tomar chimarrão.

                            Churrasco.
E este povo do qual faço parte e que é motivo de orgulho e muita história tem o seu jeito peculiar de charlar. Aonde um Gaúcho Rio-grandense chegar dentro de qualquer um dos outros vinte e cinco Estados mais o Distrito Federal, que compõem o Brasil é notado de vereda pela maneira de prosear. Aqui não estou me referindo aos Rio-grandenses de origem alemã, italiana ou outros, que são por nascimento Rio-grandenses, porém não são Gaúchos, por isso são e se consideram alemães e italianos e ou outros.

Portanto, estou tentando ser bem claro com os nossos queridos portugueses, mas devo-lhes esta explicação:

No meu Estado do Rio Grande do Sul, mais do qualquer outro Estado da Federação, usamos o termo “PILA”, como sinônimo de dinheiro, seja ele qual for. O que é usado pelos demais Rio-grandenses, seja um piá, uma guria algariada ou abichornada, um maleva ou um maula. Nestas plagas, nós Gaúchos usamos um palavreado diferente do resto do Brasil, poder-se-ia dizer até tratar-se de um dialeto onde misturam-se palavras portuguesas, espanholas e charruas, e muitas surgidas entre o povo bacudo que passaram fazer parte deste inusitado jeito de falar.

As moedas brasileiras, tanto o antigo Cruzeiro, o Cruzeiro Novo, o Cruzeiro novamente, o Cruzado, o Cruzado Novo, o Cruzado novamente, o Cruzeiro “denovamente” e o Real, todas elas tão logo lançadas foram de sôco chamadas de “PILA”.

Dirá o Gaúcho na hora das compras, ou como se diz aqui no Rio Grande, na hora de fazer o rancho:
                             Até o Papa Argentino toma chimarrão.

- Olhe só minha prenda, o preço da erva-mate subiu de relancina para dez pilas, mas não dá para o taura ficar sem o chimarrão, mesmo que seja com uma caúna!

                           Até mesmo a pinguanchita gosta do chimarrão.

Cabe mais uma explicação. O Gaúcho mais tradicional leva a palavra para o plural. Um pila, dois pilas...

Tal explicação é para que os amigos portugueses não pensem outra coisa, pois sei que aí em Portugal o significado é outro.

Tche! - Pila é igual a dinheiro, assim como também usamos o termo “mango” para significar dinheiro.

- Mas bah! O Alcaide me cobrou cem mangos por estas guascas.

E assim, tirando as dúvidas deixo um grande abraço ao povo português.

Glossário:

Abichornada (o): Triste.
Alcaide: Homem sem valor. Desprovido de qualidades.
Algariada: Sem modos.
Bacudo: Pessoa meio sem instrução. Grosseira. Também chamado de biguano ou baiquara.
Bagual: Cavalo bravo, selvagem.
Caúna. Erva-mate de má qualidade.
Charlar: Falar.
Charrua: Índios que habitavam esta Região;
Chimarrão: Infusão a partir de erva-mate (ilex paraguariensis).
Churrasco: Carne assada no carvão ou na lenha.
Denovamente: Novamente. Mais uma vez.
De sôco: O mesmo que “de vereda”.
De vereda: Imediatamente.
Espraia: Esparrama, espalha.
Guasca: Couro cru. Couro não curtido.
Guria: Menina.
Maleva: Homem mau. Ruim.
Mango: Neste caso foi usado como sinônimo de dinheiro (Hoje o Real), Mas mango pode ser sinônimo de relho ou rebenque grosseiro feito de couro cru. Açoiteira.
Maula: Covarde. Medroso.
Piá: Menino.
Pinguanchita: Menininha.
Plaga: Região, cidade, povoado, lugar.
Prenda: Mulher amada. Joia. Coisa muito preciosa.
Prosear: Falar
Querência: Local de nascimento, onde se vive e ama. Terra natal.
Relanciana: Rapidamente.
Tche ou che: Palvra charrua que significa MEU. Muito usado no Rio Grande do Sul, no Uruguai e Argentina.
Taura: Homem de valor. Destemido.
Xiru: Índio.

4 comentários:

  1. Olá,
    estou encantada com essa linda e poética explicação. Nosso estado é inigualável em cultura. E nosso povo gaúcho são muito inteligentes. Parabéns professor pela magnânima aula.
    Posso usar essa maravilhoso texto em meu blog? para todos conhecerem a riqueza de nosso povo.
    Tenha um ótimo dia.

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  2. Olá Anajá.
    Que bom tê-la novamente visitando meu blog. Já andava com saudades de seus comentários.
    Caríssima, podes sim usar este texto em teu blog, isto me deixa mui honrado, principalmente sabendo que é uma amante da cultura Gaúcha.
    Nossa cultura é ímpar, bonita e nem um pouco promíscua como acontece com manifestações ditas culturais que são de fora de nosso Pago e infelizmente estão cooptando muitos dos nossos jovens.
    Removi o outro comentário, pois cometi um erro imperdoável ao digitar o teu nome, trocando as letras.
    P A S - (Paz, Alegria e Saúde).

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