As fábulas ou lendas, tão
comuns entre todos os povos e culturas, em verdade são ficções, muitas delas
muito bem narradas e os exageros dos fatos, que são intrínsecos desta tradição
oral, com o tempo vão sofrendo alterações. Elas existem muito antes da escrita
ou muitas, mesmo na Era Comum se formaram entre povos cujo conhecimento da
escrita ainda não os tinha alcançado, como as lendas amazônicas pré-colombianas,
como a do Boto (1), Curupira ou Caipora ou as do Rio Grande do Sul e Uruguai
como a da Salamanca do Jarau (2) e tantas outras não só no Brasil como ao redor
do mundo cheio de leprechauns, duendes, lobisomens, fadas, bruxas e seres
fantásticos, bons e aterrorizantes.
Essas lendas possuem
elementos criados pela mente humana, mas esses elementos são tão dramáticos que
causam aos ouvintes uma verdadeira fascinação. Povos incultos, simples que
sequer luz possuíam para iluminar a escuridão em que viviam, a volta de
fogueiras em noites ociosas eram encantados pelo narrador prolixo que a cada
vez enfeitava mais sua narrativa, cativando mentes, pois via que quanto mais
fantasiosa fosse sua narrativa mais as pessoas eram cativadas por seus contos
cheios de elementos humanos, animais, e principalmente sobrenaturais, porém
todos possuíam uma grande força, surgindo daí muitas crendices que encantavam a
todos, adquirindo novos contornos de acordo com a região.
Ao longo de muitos anos
encontrei lendas que perpassam fronteiras. Há no Sul do Brasil a lenda do “Taita”,
“Taita eu tenho dentes”, é de arrepiar, porém fui encontrar a mesma lenda em
Cuba, cujo nome me fugiu da memória, mas conta a mesma história “Papá, yo tengo
dientes”.
Antes mesmo da Era
Comum havia na Europa lendas que encantavam e assustavam e nisto os gregos
foram exímios com as lendas de Leda e o Cisne, Europa e o Touro (3), Teseu e o
Minotauro, a Odisseia (4), Rei Midas, Sereias, Ciclopes, Faunos, Medusa e tantas
outras que até hoje estudamos, lemos e nos envolvemos com emoção e encanto, com
pavor e medo, porém a lenda mais conhecida e confundida com a realidade devemos
aos celtas que relataram a célebre “história” de um rei, o Rei Arthur, numa
narrativa belíssima composta de folclore e invenções maravilhosas que encantaram
e continuam a encantar os leitores ou os ouvintes.
Dessas centenas ou
milhares de lendas uma passou a ser “verdadeira” e que movimenta milhões de
pessoas ao redor do mundo, pois foi uma lenda estatizada. Uma vez que uma lenda, uma farsa, uma mentira passe a
ser coisa oficial de um estado ou
nação, ela passa a ser entendida como verossímil, ou seja, a lenda passa a ser
uma coisa que acreditam ser verdade. Assim fizeram os judeus, quando pegaram as
lendas, repito LENDAS bíblicas e as introduziram na história de seu povo, no
caso o judeu e essas lendas como o Dilúvio Universal, o Bonequinho de Barro,
infantil história onde até uma serpente fala, passaram a ser entendidas a
princípio por pessoas totalmente analfabetas, desprovidas de inteligência, mas
que se mesclou ao poder dos estados e com o tempo passaram a ser consideradas
verdadeiras e hoje domina a mente de 1/3 da população mundial, onde mestres e
doutores a elas se submetem irremediavelmente, fora os espertalhões que a elas
se unem para enriquecerem às custas dos pobres, infelizes e desesperançados.
Quanto às lendas, leia
neste espaço o post com o título o Quintal,
de 24 de outubro de 2015, que versa sobre o folclore brasileiro. Saci Pererê,
Iara, Corpo Seco, Comadre Florzinha e outros. Como o Mboi Tatá (5)ou Cobra de Fogo.
Esta palavra Mboi tatá, ou Mboitatá se pronuncia sem caracterizar a letra
M, esta deve ser pronunciada sumida, ou seja, pronuncia-se o “M” com os lábios
cerrados, como sendo apenas “Boi”, ou se for possível pronuncie mi, engolindo o
i e pronunciando logo após o boi. Há em São Paulo uma importante artéria
chamada Mboi-Mirim, que quer dizer COBRA-PEQUENA, mas por desconhecimento dos
irmãos paulistas vejo muitos repórteres de grande emissora pronunciarem ERRADAMENTE
– Eme boi-mirim. Seria mais correto pronunciar nhûboi. Esse nhû deve ser
pronunciado no fundo da garganta e sem abrir a boca, assim como os antigos
povos indígenas falavam.
(1) O boto, o animal boto existe nos rios da
Amazônia, porém a lenda de que o boto, em noites claras sai das águas e toma a
forma de um homem e vai pelas vilas e cidades ribeirinhas seduzindo as moças,
coisa que muitos povos da Amazônia acreditam é uma lenda. Pura lenda, inventada
para encobrir que uma “moça” tenha perdido a virgindade para o ser mitológico,
assim não faltaria um pretendente para desposá-la e até assumir a paternidade
do filho do boto, assim como a moça que perdeu a virgindade andando de
bicicleta. Haja paciência e mocoranguice*.
(2) Salamanca do Jarau – O Cerro do Jarau
existe na cidade de Quaraí, Rio Grande do Sul, na Fronteira com a República Oriental
do Uruguai, conta história que quando ainda essas terras pertenciam ao Reino da
Espanha e que quando por ali passavam os primeiros exploradores espanhóis, olhavam
de longe aquele afloramento rochoso no meio do Pampa que fortemente iluminado
pelo Sol, parecia-lhes a Cidade de Salamanca,
Cidade e Província espanhola na fronteira de Portugal. Dai vai surgir a lenda
de Teiniagua. Princesa Moura transformada em lagartixa, donde, acredito eu que
por confundirem com o animal parecidíssimo com uma lagartixa, a salamandra, pertencentes aos urodelos.
Os urodelos constituem uma ordem de anfíbios caudados, que compreende as
salamandras e os tritões. Superficialmente assemelham-se a lagartos, dos quais
podem ser distinguidos pela ausência de escamas, surgiu a história dentro da
lenda da salamandra do Jarau.
(3) Europa e o Touro: - Europa, em
grego: Εὐρώπη, na mitologia grega,
Europa era filha do rei da Fenícia, Agenor, e irmã
de Cadmo. Foi raptada por Zeus que se transformara num touro para que
sua ciumenta mulher Hera, não percebesse. (O importante é que todos, repito,
TODOS os deuses não são oniscientes,
como o deus Cristão que não é onisciente, não é onipotente e não é onipresente)
Em Creta, Europa teve três filhos de Zeus: Minos, Radamanto e Sarpedão.
(4) Odisseia: - Odisseia é um poema de
Homero, do Século IX antes da Era Comum, que relata as aventuras do herói grego
Ulisses: Então por que não é Ulisseia? Não é Ulisseia porque Ulisses vem do
latim, dos romanos que para os gregos é Odysseus (Odisseu) rei de Ítaca. Eis aí
a dúvida que povoa a mente de muitos. Odisseu – Odisseia.
(5) Mboi Tatá ou Cobra de fogo: Os índios de modo geral
no Brasil não amazônico não conhecendo o fenômeno do Fogo-Fáctuo - Luz que
aparece à noite, emanada de terrenos pantanosos ou de sepulturas, e que é
atribuída à combustão de gases provenientes da decomposição de matérias
orgânicas; boitatá, fogaréu. Mboi-tatá, em 1560 o Padre José de Anchieta
registrou: "Há
também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo
junto do mar e dos rios, e são chamados baetatá,
que quer dizer “cousa” de fogo e
concluía que, “ainda não se sabe com certeza”.
Até tu, Anchieta?
Depois desta incerteza de Anchieta me vou campo a fora sem medo de
Mboi-tatá, baitatá, batatá, biatatá, Jean de la foice e tantos outros nomes que
possam dar a esta lenda.
Elucidário:
·
Mocoronguice: Qualidade de ser
mocorongo. Tonto, abestado, biguano, bacudo, besta, soronga, estafermo,
desasado, matutado, alvar, aloprado, imbecil, idiota, apatetado, bocó aparvalhado,
bocoió apalermado, amalucado, abobado, boboca, otário, babaca, mocó,
panaca, estrupício, tolo, bobo, coió, parvo, atoleimado, aluado, tantã,
sonso, pacóvio, tanso, paca, pascácio, papalvo, lorpa, mané, arigó,
toleirão, burro, estulto, lerdaço.
Ufa! Chega!