Quando eu morrer quero ser
enterrado com a cabeça de fora da terra, pois ainda não vi tudo.
Já vi as mais gostosas e
lindas receitas de caldeiradas com frutos do mar e para minha surpresa há muitos
truques para engrossar o caldo. Para tal usam farinha de mandioca, de trigo,
amido de milho, a famosa maisena.
Êpa meu!
Maizena não é com “Z”?
Não!
Maisena é com “S” e significa o amido de milho, aquela
farinha que parece um talco de tão fina, que se faz mingau, pudim, bolachas e
outras coisas, como passar nas assaduras dos bumbuns dos nenês, entretanto há a marca de fantasia chamada “Maizena” com “Z”, a da caixa amarela. Portanto quando
nos referirmos ao amido de milho devemos escrevê-lo com S. “S” de soldado,
salgado, solstício, jamais com a letra “Z” de zebra, zurrapa, zebu. Pois com
“Z” é uma marca registrada.
Também já vi receitas que
engrossam a caldeirada com batata ou aipim, mandioca, aipi, castelinha, uaipi,
macaxeira, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre. São
termos usado em diversas regiões do Brasil para designar a espécie Manihot Utilíssima,
já que a Manihot Esculenta, a mandioca-brava ou mandioca amarga possui grande
quantidade de ácido cianídrico.
Outros engrossam o caldo com
moranga, abóbora ou jerimum, fruto da aboboreira, que é uma designação popular
atribuída a diversas espécies de plantas da família Cucurbitaceae, nomeadamente
às classificadas no gênero “Abobra” - uma única espécie, nativa da América do
Sul, mas isto não importa, pois a minha caldeirada, após anos de estudos e
experimentações estafantes e científicas, cheguei à conclusão que, sendo famoso
no seio familiar o meu mocotó e internacionalmente desconhecido, porque não
engrossar a caldeirada com feijão branco?
Porém me tapo de nojo quando
um alcaide engrossa a caldeirada com farinha de milho, da grossa ou da fina ou
fubá de milho ou arroz.
Tenho sempre potes de creme
de feijão branco congelados em meu freezer, pois é num tapa que um prato, seja
uma caldeirada, sopa ou dobradinha, está pronto com este artifício. (“Está
pronto” porque estou me referindo ao prato e não a caldeirada ou a dobradinha).
Cozinho o feijão branco, e
depois de bem cozido passo em uma peneira, o creme eu congelo e o que sobrou,
aquela casquinha fina do feijão pode ser usada em diversos outros pratos ou
bolinhos fritos. Aí vai da esperteza de cada um. Nada se perde tudo se
transforma.
Vamos a minha receita de caldeirada
com frutos do mar.
A dona Eufrosina está
pensando que frutos do mar são coisas como a pera-d’água, banana-d’água e
laranja serra d’água. Não dona Eufrosina! Isto são frutos, mas não são do mar.
Nesta foto está apenas a metade dos frutos do mar, mas
podes ver a cebola picadinha, o pimentão e o alho amassado
com sal. A peça grande e branca é o creme de feijão congelado.
Ingredientes:
- 400 ml de creme de feijão
branco diluído a gosto.
- 500 g de frutos do mar –
Camarão, polvo, lula mexilhões e vieiras.
- Cebola, picadíssima.
- Um dente de alho,
amassado.
- 1 colher de sopa de
pimentão verde bem picado.
- 1 colher de sopa de massa
de tomate.
- Azeite de oliva, só para
dar uma fritada rápida no alho e na cebola.
Por favor, não vá fritar o
pimentão. Coisa horrorosa. Fica amargo. Nessas horas te ligues. Não se frita
pimentão.
- Sal a gosto (Não exagere,
pois sal em excesso faz mal).
- Pimenta (gotinhas de molho
de pimenta vermelha)
- Água.
- Salsa seca e moída. Cada
um gosta a seu modo, eu não exagero nos temperos, pois quero sentir o sabor dos
frutos do mar.
Como preparar:
Enquanto em uma panela o
creme de feijão branco congelado vai, com um pouco d’água dissolvendo, em uma
frigideira tu frites a cebola e o dente de alhos com uma pitada de sal em um
fio de azeite de oliva.
Desmanchado o creme de
feijão branco adicione a cebola e o alho fritos, coloque uma colher de massa de
tomate para dar aquela cor, adicione a salsa seca e moída, umas gotas de
pimenta, verifique o sal. Quando tudo estiver fervendo coloque o polvo. Eu
corto em pedaços menores. Quando o polvo estive ao dente, jogue na panela a
lula, também cortada em pedaços pequenos. Quando levantar novamente a fervura,
coloques os mexilhões. Novamente quando levantar a fervura ponha os camarões. É
jogo rápido, pois quando levantar a fervura dos camarões está pronto. É só
servir e te fartar.
Use o tempero que mais te
apetecer, com cuidado no exagero.
Certa feita fiquei
injuriado. Estava no litoral da Bahia e fui com um amigo a um restaurante comer
uma lagosta:
Meu, o negócio é caro. Tudo
bem, não é por isto, porém o bacudo espremeu dois limões sobre a lagosta em seu
prato. Fui à loucura e disse ao estrupício:
- Tche louco, se é para
comer coisa azeda então que ficasses em casa chupando limão. Mas que
barbaridade!
Lagostas, camarões, peixes,
ostras e outros alimentos eu gosto de sentir o gosto dos bichos, caso contrário
pediria ao garçom uma sopa de limão, uma salada de limão, um mexido de limão.
Vá gostar de limão assim lá na casa da Eufrosina.
“Me tapo de nojo”!
Eu sei.
Eu sei que nunca se começa
uma frase com o pronome pessoal do caso oblíquo, mas neste caso dizer: - “Tapo-me
de nojo” a frase fica meio fresca e de frescura já bastou o frio que fez esta
noite.
Que barbaridade!
Bueno! Feita a caldeirada é
só saboreá-la com um vinho e um pedaço de pão cacete. Tá bom, pão francês, ou
como muitos dizem, pão d’água e basta.
Fui.
Tem um segundo
prato?
É claro que sim! Foi outro
de caldeirada, nos trinques!
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