Êba! Êba. Um novo dia.
Festas, fogos de artifício, comilanças,
bebedeiras, gritos, felicitações, lágrimas, cinismos, falsidades, muitos e
ternos corações sinceros no meio deste furdunço.
Todos entusiasmados,
aparente felicidade e aparente alegria.
Pedidos de saúde, harmonia e
realizações.
Respeito muito àqueles que
nestas datas, com amor externam seus votos de felicitações, com carinho e
lisura e também os faço por respeito e tradição. Desculpem-me, mas não consigo
ficar neutro neste momento.
O quê mudará?
Nada!
Pura e elementar festa de
consumo e quem ganha é o comércio que explora essas datas, quer seja Natal, Ano
Novo, Páscoa e uma porção de dias sem sentido que se comemoram. É dia deste ou
daquele e até o Dia Internacional da Galinha, comemorado a quatro de maio. Mas
o povo não se atém que tudo isto serve para explorá-lo, extorqui-lo e manter a
senzala ocupada com macaquices para que não preste a atenção na Casa Grande e que
tudo é pura e rudimentar ilusão, maracutais, farra com o dinheiro público,
extravagantes salários de Deputados, Senadores e Juízes corruptos e muito
suborno.
Enquanto os iludidos, numa
verdadeira onda de alienação, saem às ruas em busca de presentes, rever falsos
amigos e parentes que não suportam, as elites divertem-se enchendo mais suas
burras. Acumulam dinheiro, verdadeiras fortunas que não irão levar para caixão
no derradeiro instante, pois como dizem, jamais vi um carro forte seguindo um
cortejo fúnebre, mas iludem o povo, povo cuja grande parte é faminta,
analfabeta e desesperançada.
Iludem os que nada têm. Esses,
que nada tem entram nesta onda exploratória sem perceber que estão sendo usados
vilmente e enquanto os magnatas abrem e bebem champanhes e vinhos, cujos preços
são maiores do que a maioria percebe por anos e anos de incansável trabalho, esse
povo enche a cara com cerveja barata e cachaça de boteco, achando que esse
momento passageiro é prelúdio de uma felicidade duradoura.
Muitas vezes me pergunto:
Será ilusão?
Se for, não deixa de ser uma
terrível ilusão, onde extravasam suas angústias e desesperos. E os que nada
tendo participam destas orgias de Baco, o deus do vinho, como se fossem o
próprio, esquecendo que milhões de crianças são brutalizadas, dormem pelas ruas
e passam fome.
Ou será pessimismo meu?
Afinal vejo que milhões
estão em hospitais irremediavelmente condenados, milhões passam fome no mundo,
milhões são martirizados, milhões vivem em campos de refugiados, milhões de
anciões ou anciãos, abandonados pelos próprios filhos em asilos, mas milhões, neste momento
de orgia, sequer lembram-se desses despossuídos e sequer levantam sua voz em
defesa desses, que por vontade de um fictício deus amargam todos os tipos de
sofrimentos.
O quê mudará?
Nada.
Pois a vida segue em frente
da mesma forma e sem nada mudar e sem saber que são apenas datas inventadas por
homens espertos que se aproveitam da total ingenuidade desse zé-povinho para
explorar e explorar.
Não serão votos de saúde e
paz que te livrarão das dívidas e elas continuarão, nem te livrarão de tua
tristeza, pois é uma alegria passageira, não ficarás livre de tua depressão,
pois se não a tratares, nenhum voto te livrará desta angústia.
Dói-me ver tantas e tantas
pessoas, muitas das quais marginalizadas, fora da farra das grandes fortunas,
como macacos desnorteados, imbecilizados e alienados em busca de presentes,
mimos e agrados, muitas vezes a quem não merece.
Dói-me profundamente saber
que enquanto essas elites burras e reacionárias gargalham à vontade, o povo,
dos mais instruídos aos totalmente ignorantes, copiam como marionetes as farras
dos que tendo e tendo muito, gozam da cara deste povo iludido, sonhador e até
paspalhão.
Assim aconteceu com o
carnaval moderno, que iniciou nos luxuosos salões da Europa e o povo famélico
vendo os ricos divertindo-se a valer, começou a levar às ruas essa algazarra,
como palhaços idiotizados pelo álcool.
Não podemos esquecer que
logo teremos esse carnaval, aonde muitos deixarão de comer para ter dinheiro
para comprar uma fantasia ou pagar caro por um abadá e como palhaços dementes e
bêbados festejarão como se para eles a felicidade fosse perene. Pobres
coitados. É de chorar de pena.
Quando esse povinho
analfabeto político deixará de ser enganado por políticos trambiqueiros, por
pastores ladinos, cafajestes e canalhas e por essa elite reacionária e burra,
mas que tem o dom de iludir esse povão atoleimado, ressuscitando a velha
cantilena romana do pão e circo.
Nada adiantará fazer votos
de felicitações, saúde, amor e paz, se nossos corações continuarem
empedernidos, pois isto eu faço todos os dias, não necessitando de uma data que
passou a ser vulgar, puro e vil comércio, pois nada do que se espera irá mudar
se não mudarmos o nosso modo de ser.
No momento em que mudarmos
nossa maneira de ver a vida, de entender as armadilhas feitas pelos
endinheirados e ver o próximo como igual e não como um invisível, porque tem
menos ou nada tem, começaremos a ser realmente humanos.
No momento em que mudarmos
nossos conceitos retrógrados e atrasados, talvez aí comece a mudar o rumo das
coisas, principalmente àqueles que vivem falando em deus e que são os da pior
espécie, pois quem muito fala neste fictício ser etéreo e enganoso, é quem
muito deve.
Temos que ter a grandeza sim
de saber que somos feitos dos mesmos compostos dos outros animais, não somos
nada mais nada menos que fruto de um acidente ocorrido a 65 milhões de anos,
quando os gigantescos sáurios foram extintos dando aos mamíferos a
possibilidade de viver e evoluir.
O resto é pura, pueril e
desequilibrada ilusão. Principalmente dos que falam tanto em um projeto de
deus, pois se há um projeto de um ser fictício onipotente, nada mudará, nem
rezas, nem pedidos ajudarão, caso contrário esse deus falha em seus projetos e
os modifica em pleno decorrer do jogo da vida.
Sei que o povo precisa se
divertir e extravasar, mas se essa momentânea alegria não perdurar, for efêmera
por ser momentânea, algo de muito errado há.
Tá.
Fui tapado de interrogações.